Por obra e graça do deus da Informática, fui parar à base de dados de um site especialista em imobiliário. Querem uma casa com paredes verdes? O dito site tem. Exposição solar xpto? Também diz que tem. Tem tudo, só não tem comparação, como dizia uma publicidade a qualquer coisa há anos e anos.

Os sites equivalentes, líderes disto e daquilo, especialistas e “pros” em vendas e alugueres, capazes de cumprir com todas as necessidades e desejos, são iguais. Sem tirar nem pôr.  E eu, muito ingénua, com dois filhos numa fase de vida em que ter casa, como para tantos outros, é o tal sonho, fui espreitar as ofertas. Não há nada, nem um mísero cochicho que não custe menos de mil e duzentos euros. Caves, subcaves, conta tudo, quartos a 600 euros inseridos numa casa, sabe-se lá, de gente séria e a precisar de fazer uns dinheiros extra. Seiscentos euros sem contas incluídas. Ou 800 com algumas contas.

Depois de ser bombardeada com anúncios no meu email e “ofertas de última hora”, “baixas de preço”, “oportunidades”, eis que peço encarecidamente à empresa que me retire destes envios, que me deixam aflita e à beira da tristeza ou de um ataque de nervos. Curiosamente, um senhor muito correcto responde, aceita o meu pedido, não me incomodarão no futuro com novidades, mas caso precise podem ajudar. O meu primeiro pensamento foi: espero que este desgraçado, porventura alguém com ordenado mínimo, não seja prejudicado por estar a contrariar o deus de Informática, e pelo meu pedido em cessar o bombardeamento sistemático de informação deprimente.

Dois dias depois disto, a par com as manifestações que reclamam o direito básico à habitação, outro site especializado em imobiliário começa a brindar-me com o seu leque de ofertas. São ofensivas. Incomportáveis. Senhores, eu ando à procura de um t0 para um início de vida, não a minha, claro, e é muito triste ter de dizer a alguém com pouco mais de vinte anos que o futuro não lhe pertence, que não tem hipóteses. De novo, escrevo: a nova geração será a que não irá superar os pais. Em nada. Porque já nem os estudos a motivam como fizeram com gerações anteriores.

Cinquenta anos de democracia, para pensarmos no que andamos aqui a fazer e para entender que está tudo ligado. Temos uma baixa natalidade? Senhores, ninguém quer ter uma mão-cheia de nada para oferecer aos filhos, mais vale não os ter. Porque os filhos não terão oportunidade de crescer profissionalmente, para lá de um ordenado baixo, por isso não terão autonomia, não terão casa e outros sonhos, não casarão (pelos vistos nem um t0, quanto mais um casarão!), não terão filhos. Sim, está tudo ligado, claro, como o ovo e a galinha.