No Afeganistão, com a lógica taliban e a aplicação da sharia com o radicalismo previsto, as mulheres irão, mais uma vez, desaparecer. Em Cabul, muitas mulheres conseguiram reivindicar direitos e as duas últimas décadas foram anos de conquistas. Para aprender, para ir à faculdade. Para conduzir. Para reclamar o direito ao divórcio. Para serem mulheres inteiras, livres.

A internet ajudou, dizem os estudiosos. Os americanos ajudaram. Agora o receio é que tudo volte a ser o que era, num retrocesso assustador e perante o qual a Europa e a América podem pasmar e podem criticar, mas pouco farão. A vitória dos talibans é a derrota das mulheres. A guerra e a política dos homens não favorecem em nada os direitos adquiridos e aqueles que ainda faltam conquistar.

Os relatos são assustadores. Homens que exigem o uso do véu e dizem, sem pudor, vou casar com duas ou três de vocês. As mulheres fugiram para casa ontem com dificuldade. Nenhum homem queria ajudar. Não podem andar sozinhas, não podem andar nos transportes públicos. Carreiras profissionais vão terminar abruptamente. As mulheres escondem os certificados das universidades e sabem que não podem regressar às salas de aula. Isto em apenas dias.

Daqui a um mês, o terror estará instalado. E a América falhou. E com ela a Europa. Num mundo em que uma religião é deturpada para justificar políticas e comportamentos bárbaros, temos de ter medo. Porque as mulheres no Afeganistão têm medo e sofrerão, de novo, o impensável.

Vamos apenas assistir? Diria que vamos. Como assistimos apenas com a moral europeia, tantas vezes arrogante, aos países que proíbem relações gay. Como escreveu Sophia, vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Não ignoramos, apenas não fazemos nada de jeito.

PS: Tradicionalmente, os talibans, impõem às mulheres:

  • Total proibição de qualquer atividade feminina fora de casa se a mulher não estiver acompanhada por um mahram (parente próximo do sexo masculino, como pai, irmão ou marido)
  • Impedidas de fazer compras com comerciantes masculinos
  • Não podem ser tratadas por médicos do sexo masculino
  • Proibidas de estudar em escolas, universidades ou qualquer outra instituição educacional
  • Obrigadas a usar burca, vestimenta que as cobre da cabeça aos pés
  • As mulheres que não se vistam conforme as regras ou que não estejam acompanhadas por um mahram podem ser açoitadas, espancadas ou ofendidas verbalmente
  • Mulheres que não escondem os seus tornozelos podem ser açoitadas
  • Mulheres acusadas de ter relações sexuais fora do casamento podem ser apedrejadas
  • Proibidas de usar cosméticos (muitas mulheres que pintaram as unhas sofreram a amputação dos dedos)
  • Proibidas de falar ou apertar as mãos de homens não-mahram
  • Proibição de rir alto (nenhum estrangeiro pode ouvir a voz de uma mulher)
  • São proibidas de usar sapatos de salto alto, que podem produzir som ao caminhar (um homem não pode ouvir os passos de uma mulher)
  • Proibidas de andar em táxis sem o mahram
  • Proibidas de participar em programas de rádio, televisão ou em reuniões públicas de qualquer espécie
  • Proibidas de praticar desportos e de entrar em recintos desportivos ou clubes
  • Proibidas de andar de bicicleta ou motos
  • Proibidas de usar roupas muito coloridas
  • Proibidas de participar de encontros festivos com fins recreativos
  • Proibidas de lavar as roupas em rios ou qualquer outro lugar público
  • Proibidas de aparecer nas varandas de seus apartamentos ou casas
  • Proibidas de usar calças, mesmo debaixo da burca
  • É proibido fotografar ou filmar mulheres
  • É proibido publicar imagens de mulheres em revistas, jornais, livros ou cartazes de qualquer ordem