Ser acusado de algo, quer sejamos culpados ou inocentes do que nos é imputado, é, no mínimo, exasperante. Além do mais, os lugares comuns a que se recorre para negar tais acusações estão manifestamente saturados. É necessário que a Língua Portuguesa diversifique as formulações que podemos utilizar para a negação daquilo que nos acusam, justa ou injustamente.

O português, quando é acusado, tem de facto poucas hipóteses. Há quem rebata e há quem refute acusações, há quem repudie, há quem responda, há quem negue, há quem lhes reaja. Há ainda quem repila, o que não se afigura um verbo indicado para contestar acusações de assédio sexual.

Há quem considere acusações ofensivas, há quem as classifique como caluniosas, ademais há quem apenas as descreva como falsas. No entanto, se queremos ter impacto no repúdio da acusação, somos obrigados a adjetivar as acusações de forma um pouco mais sofisticada. Nesse sentido, encontramos três formulações preferenciais.

Há acusações vis, há acusações soezes e há acusações torpes. Vis, Soezes e Torpes, eu sei, parecem os nomes dos centrais de uma equipa húngara que joga com defesa a três. As acusações podem ainda combinar alguns destes adjetivos, podendo haver acusações torpes e soezes; vis e soezes acusações; acusações torpes, vis e soezes, soezes e vis torpes acusações. Não sei se em todas as praias do litoral alentejano as acusações primam pela pela vileza, mas tenho a certeza de que as acusações são torpes em São Torpes.

Acusar uma acusação de torpeza é a minha estratégia predileta, pelo impacto que o som da palavra torpe causa. Defendo até que quem se defende de acusações infundadas sem as caracterizar de torpes defende-se de forma infundada de acusações infundadas. E isso é torpe.

Há quem responda a acusações delimitando-as dentro de um género de composição literária, classificando-as de “efabulações”. Parece-me cruel para com Esopo, que terá sido executado injustamente, talvez por causa de efabulações sobre as suas fábulas.

Cristiano Ronaldo, há umas semanas, negou terminantemente as acusações de que era alvo. Tendo em conta o currículo do jogador, eu estaria à espera que ele negasse categoricamente. Mas não, negou terminantemente. Não sei se foi boa escolha, deveria ter guardado a negação terminante para o término do processo.

Ao refutar uma acusação, é preciso ter cuidado para não ser mais torpe, vil e soez do que as torpes, vis e soezes acusações que nos são feitas. É que nem todas as refutações têm classe. Por exemplo, é reles categorizar uma acusação de reles acusação, por muito reles que a acusação realmente seja. Não estarei a lançar uma reles acusação se acusar a palavra reles de ser reles. Outras vezes, temos de ter atenção à grafia. Não é segredo para ninguém que as acusações cobardes têm muito menos gravidade do que as acusações covardes.

Comunicam-me agora de que acusam este cronista de ser vazio de conteúdo. Quanto a essas acusações torpes, vis e soezes, é bem possível que ele as repila categoricamente.

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