Três mulheres sentadas à mesa para almoçar brindaram às mães.
Uma é empregada doméstica, a outra gestora e a outra escritora. Brindaram às mães por terem essa sintonia de relação. Todas mães, distintas, mas com territórios coincidentes. O coração ordena mais do que a razão no que toca aos filhos, pelo simples motivo de que é um amor incondicional.
A preocupação existe sempre. E a ideia de que não os conhecemos conforme crescem, nunca os conhecemos.
Já eles, os filhos, conhecem-nos bem, somos aquelas que repetiram até à exaustão algumas coisas básicas: não mexas nos sapatos à mesa, pede “por favor”, já lavaste os dentes?, e por aí fora.
Este território é comum às três mulheres. São de mundos distintos, têm empregos diferenciados, formações que a vida permitiu, mas aproveitam a hora do almoço para brindar e estar reunidas à mesa. Não é apenas a conversa sobre os filhos que as une, é algo mais.
Ser mulher proporciona uma identificação simples, rápida. Sabemos das mudanças do corpo. Sabemos das dores de parto. Sabemos das arreliações. E, sem qualquer preconceito, num dos momentos mais bonitos dos últimos dias, vivi com alegria aquela partilha de sermos mulheres, de sermos mães e de termos o orgulho certo nos nossos. Não existe orgulho certo, bem sei, mas digamos que era um festejo. Encontrámo-nos nas conversas sobre o amor que nos une aos nossos filhos. Sobre as incompreensões que sentimos. As dúvidas.
Ser mãe não obedece a um receituário. E, ao mesmo tempo, pode ser universal. Dirão que depende das mães. Sim, depende das mães, mas consideremos as mães que gostam de o ser, que sentem que os filhos são um processo de ensinamento contínuo, que sabem demonstrar amor em gestos simples.
Ser mãe é uma condição. Optei por ela, fiz a escolha consciente. Os meus dois filhos são motivo de orgulho e de alegria. Não sou a melhor mãe do mundo, porque isso não existe, sou uma óptima mãe por lhes ter dado o que consegui dar no momento que vivíamos. Dei-lhes a minha caixa de ferramentas, aquelas coisas que me parecem fundamentais, e um pouco do resto que, sendo menos essencial, pode vir a dar jeito. A minha mãe deu-me o mesmo. A minha avó ter-lhe-á dado outro tanto.
Ser mãe vem com várias cargas e essas atingem-nos em pleno o espectro emocional ampliado: da alegria à tristeza.
Uma mãe nunca é tudo o que gostaria de ser, mas talvez seja mais do que pensa ser. As mulheres não têm por hábito dar-se muito crédito. É pena. As mães que eu conheço, as minhas amigas que são mães, estas mulheres com quem almocei e outras, são absolutamente incríveis. Porque estão na vida dos filhos como eles querem que elas estejam, sem imposições, sem regras pré-definidas, sem preconceitos. São mães na liberdade, não usam a força. São mães no diálogo, não se escusam às conversas. São mães no amor. E isso merece sempre um brinde.
Durante o almoço, na partilha, o brinde foi cada palavra, cada pensamento e os nossos filhos longe, sempre ali por perto.
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