Sabemos todos que Nuno Crato tinha as condições para ser o melhor dos ministros e acabou um mandato de quatro anos na Educação – sabe-se lá como é que aguentou toda uma legislatura – de forma penosa. Mudou muito e muitas vezes mal, sobretudo na execução. Porque na política, as ideias, por muito bondosas que sejam, dependem sobretudo da sua eficácia.

Tudo isto não justifica a forma como a nova coligação negativa de Esquerda no Parlamento – e que, como já se percebeu, funcionará como uma espécie de conselho de ministros-sombra que impõe medidas ao verdadeiro conselho de ministros – acabou com uma medida que, para lá de todos os alcances, tinha implícita uma ideia de exigência. Nem isso fica.

Nenhuma medida de política educativa, como aliás em qualquer política, funciona sozinha. Mas, se todos concordamos que é preciso aumentar a exigência de qualidade do ensino em Portugal, particularmente do primeiro ciclo, os exames do 4º ano eram uma das formas de assegurar essa exigência Não era a melhor? Então, que tal avaliar os efeitos perversos que os críticos deste exame apontavam, como os incentivos que seriam dados ao estudo para o exame e não ao estudo contínuo ao longo do ano?

Nada disso, qual avaliação, qual discussão. O Governo ainda não aqueceu o lugar, o ministro das Educação, Tiago Brandão Rodrigues, fora do país há 15 anos, ainda nem saberá o caminho para o seu gabinete e já há mudanças de política educativa. O que se segue? Depois, vê-se. Agora, o que é preciso é mudar o que foi feito. Mesmo que fosse a melhor das medidas, porque as crianças são crianças e não podem ser pressionadas nem nenhuma criança pode ficar para trás (será mesmo o melhor, passar crianças de ano sem a devida preparação?), esta foi a pior forma de a tomar.

António Costa quer aparecer como o ‘político bonzinho’, que chegou para pôr fim às maldades de Passos Coelho e Paulo Portas. O político ‘bonzinho’ desta geração e da próxima. É uma narrativa muito pobre, sobretudo porque Portugal saíu de uma situação de bancarrota. É claro que está a pensar nas próximas eleições, no momento certo para deitar abaixo um governo que está pendurado num acordo frágil, para não dizer outra coisa. E isso dependerá das sondagens, que andarão à boleia das medidas positivas, ou melhor, supostamente positivas, e facilitadoras, se é que isso é o que Portugal precisa.

Nuno Crato – e o governo de coligação anterior – promoveram também este tipo de contra-reforma, quando decidiram sem procurarem consensos, sim. Mas quando um novo governo entra em funções, dispensava-se esse tipo de reação política, do género ‘tu é que começaste’.

Na verdade, é um traço de gestão política. Na economia, na política fiscal, nas causas fraturantes, nas leis laborais, também na educação, aquela área das políticas públicas que deveria ser mais estável e menos sujeita aos ciclos políticos. O que é preciso agora é dar, e ter efeitos positivos, na economia e na imagem do Governo. É mesmo este o novo ciclo do PS?

ESCOLHAS

Paris é, por estes dias, outra vez, a capital do mundo. Aquela imagem de milhares de sapatos, a alternativa a uma manifestação silenciosa numa cidade sitiada pelo terrorismo, é brutal, e ao mesmo tempo tocante. A destruição do clima, outra forma de terrorismo sem mortes violentas no mundo que queremos deixar às próximas gerações. Os valores. Leiam, e ouçam, a reportagem da Rádio Renascença, ‘Paris. Quando a emergência ferve numa cidade descalça’. E acompanhem aqui, no SAPO24, os desenvolvimentos de uma cimeira sobre alterações climáticas que é mais um teste aos entendimentos mundiais.