E ao 8º dia, depois de dormir uma sesta valente, Deus acordou e disse “Não pagarás impostos se tiveres Católica no nome”. Cavaco concordou e a universidade do senhor ficou como a única entre as privadas isenta de impostos desde 1990. Felizmente, a maioria dos alunos da Católica vem de boas famílias, caso contrário viam-se aflitos para fotocopiar os livros: é que a Bíblia é um grande calhamaço e duvido que os indianos façam bons preços nesse manual. 

Parece que evocar o nome do senhor nunca é em vão e até pode dar benefícios fiscais. Se ensinares a teoria da evolução das espécies e ciência no geral, pagas 23% de IRC, entre outros impostos, se ensinares teologia não pagas nada e ainda tens subsídio de alimentação pago em crianças. São só vantagens isto de ter Deus do nosso lado.

Quem está mal não é a Universidade Católica, se me dessem o estatuto de utilidade pública eu também agradecia e não pagaria impostos. Quem está mal foi quem fez a lei em 1971 e, principalmente, quem a revogou em 1990, excepto um artigo que favorecia a dita instituição. Engraçado ter sido o Cavaco a fazê-lo e ser lá professor ao mesmo tempo. Já dizia o Ricardo Salgado que a vida tem cada coincidência que às vezes parece que é o Diabo.

Já todos sabemos que a Igreja gosta pouco de pagar impostos, apesar de pedir o dízimo aos fiéis. São como os agentes no mundo do espectáculo, mas a diferença é que o meu agente só recebe se eu receber, já a Igreja recebe os 10% de comissão mesmo que não te dê nada em troca. São uma espécie de fotógrafos que prometem às miúdas que vão ser modelos se lhes pagarem o book fotográfico e, curiosamente, também muitas vezes são menores a quem pedem para tirar a roupa. Estou a brincar, padres pedófilos na Igreja são só 10%. Fuga ao fisco são só 23%. Como diriam os responsáveis da Igreja em relação ao primeiro “São pouquíssimos casos”.

É por esta isenção fiscal que as instituições religiosas são a melhor forma de lavar dinheiro, são uma espécie de Casino em que, em vez de ser um jogo de sorte, é um jogo de fé. Em ambos os casos, as casas saem sempre a ganhar, a diferença é que jogar no Casino pode dar direito a jackpot, se tivermos sorte, mas rezar e dar o dízimo nunca dá prémio.

A Universidade Católica funciona e opera como uma universidade privada e factura cerca de 65 milhões de euros ao ano, já que tem as propinas mais altas do mercado. Aliás, a Católica é a Apple das universidades e tal como quem tem um iPhone diz “O meu iPhone” em vez de “o meu telemóvel”, quem anda nessa universidade nunca diz “Estudo na faculdade”, mas sim “Estudo na Católica”. Betos gonna betate. Bem, mas acho que a Católica, em vez de ir para tribunal recorrer da decisão que a obriga a pagar os impostos desde 2012, tem é de se adaptar para continuar a contornar o sistema. Num estado relativamente laico como o nosso ter branding católico pode não chegar e é preciso inovar para continuar a usufruir do estatuto especial que só a religião tem. Por isso, deixo algumas sugestões para os administradores, ou reitor, ou Deus, ou lá quem é que manda na Universidade Católica:

- Substituir as aulas de dúvidas por confessionário, os exames por orações e o reitor passa a chamar-se Stôr Papa;

- A licenciatura passa a chamar-se Primeira Comunhão e o mestrado passa a ser o Crisma. Já estou a ver a Benedita Pureza a dizer “Tirei a Primeira Comunhão em Economia e depois fiz o Crisma em Gestão. Tive tão boas notas que até consegui ir trabalhar para empresa do meu pai”.

- Mudar o nome de aulas teóricas para sermões e as aulas práticas para comunhão. Já estou a ver o Bernardo Martim a dizer “De manhã não vou ao sermão da primeira hora, mas depois tenho de ir porque a comunhão é obrigatória e ainda me faltam 3 hóstias para ter equivalência a Latim Técnico.

- As provas orais devem ser abolidas pois na Igreja só fazem sentido nos infantários e escolas primárias. Os alunos universitários já são demasiado velhos para isso.

Ainda podem mudar o programa Erasmus para o programa Taizé ou Jornadas da Juventude, por exemplo. Isto é um brainstorming, não há ideias estúpidas. O que eu sei é que a Igreja tem de se saber modernizar para continuar a aldrabar o sistema, já que cada vez consegue aldrabar menos pessoas. Moral da história: a religião paga menos imposto do que a educação e isso explica tanta coisa.

PS: Já agora, uma dúvida legítima: nas festas da Universidade Católica também distribuem preservativos como é normal nas outras ou é pecado? Fica no ar.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

- Noite de comédia em Lisboa, dia 21 de Fevereiro, no Maxime Comedy Club, com Luísa Barbosa, Guilherme Fonseca e Daniel Carapeto, com open-mic e convidados surpresa. Bilhetes neste link.