1. O nosso nome repetido
Há países que mudam de nome com muita facilidade. Pensem só nos pobres alemães, cujo país é «Deutschland» lá dentro, mas passa a «Allemagne» logo ali no sul da Bélgica — e é «Germany» em Inglaterra. Somando as variações, são não sei quantas Alemanhas diferentes há, por essa Europa fora.
Já nós vivemos num país com um nome sólido, daqueles que se aguenta firme ao vento das diferentes línguas — pelo menos, na escrita. Avançamos pela Europa fora e temos «Portugal» (espanhol), «Portugal» (catalão), «Portugal» (francês), «Portugal» (inglês), «Portugal» (alemão), «Portugal» (norueguês), «Portúgal» (raisparta o acento do islandês).
Até os bascos, que têm uma língua daquelas de bater com a cabeça na parede, chamam ao nosso país... «Portugal»!
Os húngaros, donos doutra língua que parece inventada só para nos atrapalhar, chamam ao nosso país «Portugália». Enfim, não é a mesma coisa, mas quase. Os finlandeses dizem «Portugali». Os italianos, tão latinos como nós, dão um nome virado para o azeite, mas mesmo assim não fogem muito: «Portugallo». Os romenos também não são especialmente originais, mas põem ali umas letras finais: «Portugalia».
2. Outras letras, o mesmo nome
Pela Europa, se queremos algum exotismo no nosso nome, temos de olhar para as línguas que usam outros alfabetos. Os gregos escrevem «Πορτογαλία», os russos escrevem «Португа́лия» — e os georgianos, donos do mais redondo dos alfabetos, escrevem პორტუგალია. Mas, nos três casos, o que dizem não foge muito a «Portugalia». As letras diferentes escondem um nome muito parecido.
O mundo, pelos vistos, não quer brincar com o nome do nosso país. Ora, imaginem a minha admiração ao encontrar, no Facebook de um amigo, esta imagem sobre o jogo entre as duas selecções ibéricas:
Mas em que língua «Portugal» se diz «Ureno»? Bem, já lá chegamos. Continuemos a viagem...
3. Vivemos em Bồ Đào Nha
Pois, na verdade, se sairmos da Europa temos umas surpresas. No Vietname, por exemplo, o nome do nosso país escreve-se assim: «Bồ Đào Nha». Portugal não é sempre «Portugal».
Uma curiosidade: o vietnamita, ao contrário de muitas outras línguas asiáticas, usa o alfabeto latino. A culpa é de uns quantos missionários portugueses, que arranjaram forma de escrever aquela língua distante usando o nosso alfabeto. O problema é que as nossas letras não se adaptam facilmente a uma língua tonal como o vietnamita e os pobres missionários tiveram de se socorrer de muitos acentos e outros penduricalhos linguísticos. Resultado? O sistema de escrita vietnamita, que tem lá as nossas letras, mas todas rabiscadas. O nome do nosso país, por lá, já mostra parte dessa catrefa de acentos: não é só o traço no «D», o acento grave no «a», mas também um «o» com dois acentos!
A história da criação desse alfabeto dava um filme — mas terá de ficar para outro dia.
4. O país das uvas e das laranjas
Se o vietnamita acabou por usar as letras latinas, a língua mais falada por aquelas bandas — na verdade, a língua mais falada no mundo — não usa o nosso alfabeto.
Digamos que, para nós, o nome de Portugal em chinês não é fácil de ler: 葡萄牙. Sim, eu sei, o leitor não consegue ler isto. Eu também não. A transcrição no alfabeto latino é «Pútáoyá» (cuidado com as primeiras duas sílabas).
Este nome é uma tentativa de adaptar o nome original à fonética chinesa. Para representar esses sons, os chineses usam os caracteres que significam «uvas» (葡萄) e «dente» (牙).
Não é uma surpresa ver-nos representados pela uva. Afinal, somos um país de muito e bom vinho. Agora, o país das laranjas?...
5. O cheiro do nome de Portugal
Os romenos chamam ao nosso país «Portugalia». Até aí, nada a dizer. Tudo normal.
Agora, se conhecerem um romeno, apontem para uma laranja e perguntem-lhe como se diz na Roménia. É provável que a resposta seja esta: «Portucale». Não é exactamente o nome do país, mas está bem perto. O mesmo acontece no grego, no turco, em várias línguas do Leste europeu e ainda no árabe (pelo que me dizem, porque, na verdade, não sei falar estas línguas...).
Esta associação terá vindo dos tempos em que trazíamos o simpático fruto para a Europa — mas seja qual for a origem daquele nome romeno, a verdade é que, por aqueles lados, o nome do nosso país cheira irremediavelmente a laranjas.
6. Onde fica «Ureno»?
Já viajámos pela Europa. Já fomos à Ásia. Já percebemos que vivemos na Terra das Laranjas. Por onde passámos, com mais ou menos sucesso, as várias línguas esforçam-se por imitar o nome original. Até o vietnamita tenta — embora falhe redondamente.
Ora, a grande surpresa está-nos reservada para o momento em que olhamos para o nome do nosso país em suaíli — é nessa língua africana, falada por 50 milhões de pessoas e oficial no Quénia, no Uganda e na Tanzânia, que o nome do nosso país é «Ureno».
O meu amigo partilhou a imagem depois de encontrá-la no perfil doutra amiga que — digo eu — estaria a viajar pelo Quénia.
Mas porquê? Donde vem este nome que nada tem a ver com «Portugal»? Parece que tudo é culpa das palavras «o reino» que os habitantes da região ouviam dos navegadores portugueses — vinham do Reino de Portugal. A primeira palavra servia perfeitamente.
Não é nada de surpreendente: o nome que damos à China nada tem que ver com o nome que os chineses dão ao seu país. O mesmo acontece com tantos outros países...
Enfim: o Mundial sempre serviu para aprender alguma coisa!
7. O nosso país é «Pertual»?
Agora, uma surpresa mais caseira: as línguas latinas estão de acordo quanto ao nosso nome. Tirando o «gallo» italiano e a terminação romena, parece tudo muito repetitivo: «Portugal» em português e galego (pois então), mas também em espanhol, em catalão, em francês e por aí fora. Haverá alguma língua latina que não ponha as mesmas letras no início do nome do nosso país?
Pois não é que o nome é diferente precisamente na nossa outra língua, aquela que se esconde nas serranias de Trás-os-Montes? Vejam bem: em mirandês, o nome do nosso país é «Pertual».
E pronto, demos a volta ao mundo e terminámos em Trás-os-Montes, sempre a bordo do nome de Portugal.
Agora só falta que Ureno ganhe à Pérsia, se faz favor.
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