O primeiro de muitos dias

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

“Enfim duma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar, sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”

Não é certo que toda a juventude (na qual eu ainda me incluo, ainda) conheça estas palavras de Sérgio Godinho — mas é cada vez mais provável que sim —, mas é bastante provável que cada futuro universitário que já tenha ouvido esta imortal canção se tenha lembrado dela no dia em que descobriu que já estava no ensino superior.

Foi nesta madrugada que se soube quais os primeiros 44500 candidatos a serem colocados nas universidades e politécnicos deste país. Como sempre, terá havido alegria, desilusão, saídas desenfreadas à noite para celebrar ou sombria contemplação para refletir.

Para entrar nalguns cursos estuda-se muito — mas mesmo muito —, noutros se calhar nem tanto assim, mas o que interessa mesmo é ter em conta que a etapa do Ensino Superior é muito mais do que a definição de um destino profissional.

É verdade que o futuro pode parecer incerto e que escolher um curso afigura-se como a melhor forma de, pelo menos, se definir um rumo, mas se há coisa que o tempo tende a demonstrar é que quase nada na vida é irreversível.

Urge mudar a mentalidade que obriga os jovens — e são os pais que o fazem, normalmente — a escolher uma determinada área de estudo porque, mais por definição do que por provas dadas, é supostamente um garante de sucesso. Nada disso. Muito menos se deve continuar a alimentar a ideia de que a colocação num curso ou numa determinada instituição é um ponto de não retorno, é uma sentença para cumprir até ao fim.

Da minha parca experiência a contar histórias de vida de pessoas de todas as áreas e proveniências, cada vez mais me apercebo do quão frequente é a mudança. É mesmo a única constante. É por isso que já entrevistei várias pessoas a destacar-se em áreas que nunca, momento algo, se veriam a trabalhar 10, 20, 40 anos antes.

A todos aqueles que não entraram onde queriam, que entraram onde só queriam mais ou menos, que entraram onde só os pais queriam, que não foram para a universidade errada, para os indecisos, os desiludidos, os desesperados, um conselho: respirem fundo, há tempo, há sempre tempo. Porque o primeiro dia do resto da tua vida são-os todos, na verdade.

Eu sou o António Moura dos Santos e hoje o dia foi assim.

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