Entre uma mensagem e um temporal de Natal

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

O Dia de Natal de 2020 está a chegar ao fim. E segundo uma sondagem nada oficial por mim levada a cabo nas últimas 48 horas, à boleia de depoimentos recolhidos essencialmente à base de fotografias de familiares e amigos via WhatsApp, esta consoada ficará marcada não só como aquela em que a mesa teve menos comida nos últimos anos como foi um autêntica exposição de mesas natalícias bem mais curtas do que o normal.

O bacalhau estava lá, o polvo também, o vinho idem. Mas a velocidade com que se partilhava videochamadas e imagens leva-me a crer que o jantar de 24 de dezembro se passou envolto numa certa ansiedade causada pela ausência daqueles que nos fazem falta. Do seu toque, da sua presença. Algo que entregar uma prenda horas ou dias antes não consegue substituir.

Porque num dia normal não era necessário partilhar via aplicações e redes sociais a "pomada" da noite aos demais — o sumo da uva era simplesmente partilhado à mesa juntamente com histórias passadas embaraçosas. É verdade que encarei com alguma naturalidade a mensagem escrita de retorno sobre a garrafa ("menos de 14% não empurra o cabrito para baixo!") que surgiu no meu dispositivo móvel, mas só porque já estava mentalizado de que iria ter que ser assim — pense embora que nesta data seja algo muito difícil interiorizar.

Nem que seja porque tal como nos conta o Sérgio Costa Araújo, o verdadeiro espírito do Natal é romântico. E além de romântico "é feito de comemorações em família, rodeado da simbologia do pinheiro, da troca de presentes e de hinos religiosos que celebram o nascimento de Cristo, o nascimento dos nascimentos". Por tudo isto e mais algumas coisas que poderá ler aqui.

Porém, aquilo que nada tem de romântico são as imagens nos noticiários sobre o temporal no norte da Madeira que nos chegam. As chuvas fortes nos concelhos de São Vicente e de Santana, sobretudo nas freguesias da Boaventura, Ponta Delgada e Arco de São Jorge provocaram transbordos de ribeiras, enxurradas de lama e pedras, algumas derrocadas e quedas de árvores, corte de estradas, a destruição de uma casa desabitada e algumas viaturas encurraladas em túneis. A boa notícia é que não provocou feridos nem pessoas desabrigadas.

"Há pessoas retiradas das habitações e que se encontram em casas de familiares por precaução", explicou o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, José António Garcês. "Não há danos pessoais", reiterou, salientando que o Governo Regional reforçou os meios de socorro e de reabilitação no concelho. No entanto, o rescaldo da situação só será conhecido amanhã.

Ainda assim, apesar do mau tempo na Madeira e das restrições na mesa das famílias portuguesas, houve espaço para a habitual mensagem de Natal do primeiro-ministro. O líder do Governo enfatizou que 2020 "tem sido um ano de combate, dor e resistência", mas que tinha confiança de que 2021 seria um ano melhor. Ora, se efetivamente o será, não sabemos. Como pessoa que não gosta de ver o copo meio vazio acredito que será. Nem que seja porque pior é certamente difícil.

Na sua mensagem, António Costa assinalou que depois de amanhã, no domingo, "tem início o processo de vacinação contra a covid-19 que, mesmo sendo um processo faseado e prolongado no tempo, dá renovada confiança que, graças à ciência, é mesmo possível debelar esta pandemia".

O líder do executivo guardaria ainda palavras com "especial gratidão" aos profissionais de saúde e de solidariedade "às famílias enlutadas", mas iria ainda salientar que o seu Governo tem procurado responder às consequências da pandemia "com equilíbrio e bom senso, aprendendo dia a dia a lidar com a novidade e a readaptar-se permanentemente perante o imprevisto", antes de fazer uma mea culpa de tempos em que as decisões não foram as adequadas às necessidades daquilo que a situação pandémica exigia.

"Certamente não fizemos tudo bem e cometemos erros, porque só não erra quem não faz. Mas não regateámos, nem regatearemos esforços, com os nossos recursos e junto da União Europeia, para combater a pandemia e aliviar o sofrimento dos portugueses", disse.

Ou seja, depois de tantas dúvidas que se levantaram — se o país iria confinar, quantas pessoas se podiam juntar ou até se iria existir proibição entre concelhos —  a realidade é que o Natal de 2020 já passou e já lá vai pelo que as próximas linhas deverão ser sobre a passagem de Ano. Contudo, antes disso, se é fã de futebol, o Natal continua amanhã. Portanto, em jeito de remate desta crónica, recomendo a leitura deste artigo para saber quem joga este sábado e descobrir o que é, afinal, o Boxing Day.

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