Em contagem decrescente para o dia mais aguardado do ano

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Faltam menos de 24 horas. Nove meses e 25 dias depois do primeiro caso de covid-19 ter sido detetado em Portugal, a vacinação contra o novo coronavírus que paralisou o mundo e alterou profundamente a forma como vivemos vai começar.

O primeiro lote de 9.750 doses da vacina desenvolvida pela Pfizer-BioNTech chegou este sábado de manhã a território nacional. Foram armazenadas em instalações no concelho de Montemor-o-Velho, nos arredores de Coimbra, o centro logístico escolhido pelo Governo, de onde partiram, mais tarde, para os centros hospitalares universitários do Porto, São João, Coimbra, Lisboa Norte e Lisboa Central.

Este lote “simbólico” de 9.750 doses, como chegou a catalogar o primeiro-ministro, António Costa, foi, todavia, reforçado na quarta-feira com o anúncio pela ministra da Saúde da antecipação da entrega de mais 70.200 doses, que têm chegada prevista para segunda-feira, elevando o total disponível para administração até ao final do ano para 79.950 vacinas.

Marta Temido acompanhou o momento que classificou como sendo “histórico”, “um dia importante depois de um ano tão difícil para a maioria de nós, para os portugueses, para os europeus em geral".

"Abre-se agora uma janela de esperança com uma vacina que se espera que, no próximo ano, nos ajude a combater a doença sem que nos esqueçamos que ainda estamos no início do inverno", referiu a ministra da Saúde, lembrando que "ainda há um combate muito difícil para fazer".

O Hospital de São João, no Porto, quer vacinar mais de dois mil funcionários já amanhã, numa operação de dez horas que mobiliza múltiplas valências do hospital. O processo arranca às dez horas deste domingo.

O Centro Hospitalar Universitário de São João reconhece a “operação muito complexa e exigente, que durará cerca de dez horas (das 10h-20h), contando com 25 postos de vacinação durante todo o período, englobando uma larga equipa de enfermeiros”. É apenas um dos cinco centros hospitalares que vacinarão os primeiros profissionais de saúde.

Este grupo tem prioridade e, humanos que são, não escondem os seus receios. Obrigá-los a tomar a vacina seria possível, mas complexo ao nível dos direitos que a Constituição protege. Já obrigar a população geral seria ainda mais "difícil de justificar". Todavia, os enfermeiros com quem o SAPO24 falou defendem que há que dar o exemplo e proteger os doentes — porque o vírus pode fazer mais estragos que a vacina. A vacina "é a nossa janela de respiração, caso contrário não vamos sair disto tão depressa".

O dia mais aguardado do ano está ao virar da esquina, mas isso não significa que, a curto prazo, o nosso quotidiano se possa aproximar da normalidade que conhecíamos. Há esperança e luz ao fundo do túnel, mas os factos recomendam cautela porque não deverá haver alívio real e sustentado em contágios, hospitalizações e mortes até que pelo menos metade da população esteja vacinada.

Os cientistas advertem que demorará tempo para concretizar uma campanha de vacinação global, agravada por fatores como a geografia, as disparidades económicas dos países e a necessidade de garantir a logística para entregar e conservar as vacinas às temperaturas exigidas.

Mas não desmobilizemos do essencial: amanhã é aquele que se espera ser o primeiro dia da vitória da humanidade contra um vírus que atacou os nossos e a nossa forma de viver. Se o vírus deixará um rasto na história, este dia também. Não é só mais um dia, é o primeiro dia do resto das nossas vidas.

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