A morte voltou ao Capitólio

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Quer se seja crente ou não na religião cristã, hoje foi dia de “Sexta-feira Santa” e, portanto, feriado, não obstante as contingências da pandemia obrigarem pelo segundo ano consecutivo a assinalar uma Páscoa bastante mais contida do que seria costume.

Assim sendo, hoje foi dia de descanso para muitos e, como reflexo disso mesmo, o fluxo informativo decresce na mesma proporção em que aumenta o número de pessoas sentadas no sofá a ver aquela série há muito adiada.

Até meio da tarde, o grande facto que se retirava deste dia  — à exceção de uma subida do índice de transmissão da covid-19 que nos deve alertar a todos — era a manutenção da polémica que opõe o Governo aos partidos da Assembleia da República e que tem por base a alteração aos apoios sociais — que, recorde-se, foram sujeitos à fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional, mas vão continuar vigentes até sinal em contrário dos juízes.

Desta feita, foi a ministra do Trabalho que, com uma certa ironia, trabalhou neste feriado, organizando uma conferência de imprensa de balanço dos apoios sociais a partir da sua sede ministerial, na Praça de Londres, em Lisboa. Durante a mesma, Ana Mendes Godinho lamentou que estes novos diplomas alterem de uma forma "perversa e injusta" o sistema de apoios e o sistema de proteção no âmbito da Segurança Social.

Entre outros aspetos, o que está em causa, segundo a governante, é que a alteração vai "indexar o apoio ao valor da faturação do trabalhador e não ao rendimento relevante para a Segurança Social", passando a estar "completamente desligado das contribuições feitas no passado para a Segurança Social".

Tivesse o dia acabado às 18:00, seria este o tema que o marcaria para a posteridade. No entanto, para o bem e, neste caso, para o mal, basta um momento para que tudo mude, como por exemplo quando alguém toma como decisão colocar-se num carro e atacar um edifício governamental.

Foi o que aconteceu pelas 18:42 — 13:42 do outro lado do Atlântico —, quando um homem não identificado tentou invadir o Capitólio dos EUA, colidindo contra uma barreira de segurança com o seu veículo e atropelando dois agentes da polícia no processo. Ao sair do carro, e empunhando uma faca, acabou por ser baleado pelas autoridades, morrendo no hospital. Um dos agentes também não resistiu aos ferimentos.

Como acontece nestes casos, primeiro soubemos que o Capitólio estava encerrado devido a uma “ameaça externa”. Depois, à medida que os minutos iam passando e os jornalistas no local iam fazendo o seu trabalho, os detalhes começaram a aparecer. Mais tarde, uma conferência de imprensa da polícia confirmou o pior dos cenários: duas mortes e uma pessoa ferida.

O episódio trouxe o medo de volta ao coração de Washington DC, quase três meses depois da invasão a este mesmo edifício por insurgentes que queriam impedir a ratificação dos votos em Joe Biden para fazer dele presidente dos EUA. Na altura, o ataque provocou cinco mortes.

Fica por saber o que levou esta pessoa a cometer este ato. Sendo dia de descanso pascal, as sessões legislativas no Congressos estavam interrompidas, pelo que qualquer espécie de ataque nunca vitimaria representantes eleitos. Além disso, pouco se sabe sobre a pessoa que cometeu o ato: apenas foi revelado que era do sexo masculino.

Uma coisa é certa: para a polícia não foi terrorismo, apesar do risco de violência por parte de grupos da extrema-direita americana ter disparado desde o incidente de 6 de janeiro. Termina assim uma “Sexta-feira Santa”: com violência escusada e mais perguntas que respostas.

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