O autoagendamento das vacinas

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Graças ao ritmo de vacinação da última semana (foram administradas 200 mil doses na quinta e na sexta-feira), o Governo decidiu antecipar em uma semana o autoagendamento. Ou seja, as pessoas que tenham mais de 60 anos já podem inscrever-se na Internet, no site da Direção-Geral da Saúde (DGS), e escolher a data, local e hora a que querem ser vacinadas. Segundo o Jornal de Notícias, 17 mil já o fizeram neste domingo.

A intenção do Governo e da 'taskforce' passa por ter a população com mais de 60 anos vacinada com pelo menos uma dose até maio. "Ficamos um pouco mais tranquilos quando conseguimos proteger as faixas mais vulneráveis", reiterou o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales.

Esta antecipação acontece no dia em que a União Europeia confirmou que não renovou a encomenda de vacinas à AstraZeneca para depois de julho. Em Portugal, mais de 880 mil pessoas tomaram a 1.ª dose e pouco mais de 6 mil pessoas têm a vacinação completa, com a segunda toma da AstraZeneca. À RTP, fonte da 'taskforce' adiantou que, ainda assim, estão garantidas as segundas doses da vacina. 

Em Portugal, um milhão já foi vacinado com a segunda dose ou com a vacina de toma única da Janssen. Ou seja, mais de 10% da população já tem a vacinação completa. Contudo, ainda que assim seja, a meta de 70% da população imunizada, prevista apenas para o final do verão, ainda está a algum tempo de distância.

É por isso que vários especialistas disseram à agência Lusa que o futuro do combate à covid vai ter de passar numa mescla entre o reforço da vacinação, a monitorização de novas variantes e o desenvolvimento de terapêuticas alternativas — até porque a percentagem no conceito de imunidade de grupo está desatualizada.

"As pessoas vacinadas estão protegidas contra formas graves da doença e suas consequências, mas não estão completamente impedidas de serem infetadas, de multiplicarem e de transmitirem o vírus. Ou seja: aquela ideia de que existiria uma percentagem das pessoas que estava completamente imune e que, portanto, o vírus não podia socorrer-se delas para se multiplicar, já não se aplica", observa Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

O investigador sublinha ainda que "não há ninguém a salvo" enquanto a vacinação não for quase total, sendo que o "número mágico dos 70% que foi adiantado já não é tão mágico assim" e que vital que se continue "em passo acelerado até aos 100% de população vacinada". Mais, Miguel Castanho subscreve a tese de uma alteração na maneira de encarar a covid-19 para "uma doença de todos e não apenas de pessoas mais velhas". Algo que, a julgar pelas notícias que dão conta de novo ajuntamento no miradouro de São Pedro de Alcântara, parece ser difícil assimilar nos mais jovens.

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