Fátima, os emigrantes e a "fraternidade universal multicolor"

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

"A todos os homens e mulheres da terra, apelo a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, afim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído". 

As palavras são do Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, e acabaram por servir de mote para a peregrinação aniversária de agosto, em Fátima, que se centra especialmente nos emigrantes que, todos os anos, por esta altura, regressam ao Altar do Mundo.

Ontem, dia 12, a tarde em Fátima ficou marcada pelas palavras do padre Rui Pedro, missionário no Luxemburgo junto das comunidades portuguesas. E estas foram as principais ideias a reter:

  • Um destino de emigração é um retrato de interculturalidade: "O Luxemburgo é um laboratório muito curioso ao nível da comunhão e da interculturalidade, porque 48% da população é estrangeira". Desta forma, aquele é um país que tem "um alto índice de emigrantes, trabalhadores que o país chama e que também seduz pelas suas condições de vida e pelo trabalho que vai havendo" — portugueses incluídos (mais e menos qualificados).
  • Deve-se fazer aos outros o que queremos que façam aos nossos: "Portugal é um país transversal, onde temos emigração e imigração, e aquilo que nós reivindicamos para os nossos emigrantes não podemos esquecer para os imigrantes que estão aqui".
  • O tráfico humano é uma realidade em Portugal: "Em 2005, quando recebi o primeiro inquérito da OIM [Organização Internacional para as Migrações] sobre o tráfico humano em Portugal, havia poucos casos. Alguns anos mais tarde já havia alguns casos e também digo que foi a Igreja a primeira a denunciar", afirmou o padre Rui Pedro. "Não esperava — também venho cá só no verão — encontrar o fenómeno mais expandido como está neste momento no Oeste", exemplificou.

Por sua vez, já à noite, após a procissão das velas — que iluminou o santuário, ainda que com menos peregrinos devido à pandemia —, foi a vez de se ouvir a mensagem do cardeal jesuíta Jean-Claude Hollerich. Quais as principais mensagens?

  • A emigração tem as suas dificuldades: "Caros emigrantes, caros refugiados, peregrinos de Fátima: cada um de nós tem as suas pequenas cruzes. Por vezes é o trabalho que já não nos satisfaz, é a dureza de um mundo onde somos sempre considerados como estrangeiros".
  • Para os crentes, Fátima é consolação em qualquer lugar do mundo: "As numerosas velas que ardem diante da imagem de Nossa Senhora são as testemunhas das nossas orações. São também o sinal da consolação de Jesus que Nossa Senhora nos traz. Nossa Senhora mostra-nos o corpo do Seu filho na cruz. Nossa Senhora mostra-nos o coração de Jesus do qual brota a água e o sangue".
  • As emigrantes são espelho de Maria: "Como Maria são mulheres fortes. Como Maria une a igreja primitiva, assim as mulheres portuguesas mantêm a sua família unida. Elas fazem-no pelo seu trabalho. Elas querem assegurar um futuro para os seus filhos. À noite, cansadas, ocupam-se ainda da casa e cozinham alimentos que alegram a alma e o corpo da sua família. Por vezes, como Maria, elas têm o coração amargurado e triste, mas não o mostram para não espalharem desolação e preocupação".

Já na manhã de hoje, 13 de agosto, o recinto do Santuário recebeu novamente os peregrinos, sendo visíveis bandeiras de várias partes do mundo — e que mostram também a interculturalidade do local. A mensagem, essa, foi um continuar do que já ali se tinha ouvido:

  • Todos os emigrantes podem ser exemplo de serviço: "Se, como Maria, queremos atingir a consolação da esperança, temos de nos colocar ao serviço dos outros, começando pela família", disse o cardeal Jean-Claude Hollerich. "Apelo-vos a alargar este espírito de serviço aos vossos vizinhos, às pessoas com quem vos cruzais habitualmente, aos vossos amigos. Porque não roubar tempo ao tempo para visitar os irmãos doentes ou idosos?".
  • O mundo não tem de esquecer Deus: "A Europa hoje vive longe de Deus, esqueceu-O! Com o vosso espírito de serviço, com a vossa fé e a vossa religiosidade procurai continuar a ajudar os países que vos acolhem para viver a não perderem a esperança. Jesus ressuscitou verdadeiramente! Tudo pode mudar".
  • Somos todos irmãos: A encerrar a celebração, D. António Marto, bispo de Leira Fátima, recordo que a peregrinação de agosto é uma "experiência viva e concreta daquela fraternidade universal multicolor que todos somos chamados a construir, através do intercâmbio na riqueza de povos e culturas, na harmonia e na paz entre todos".

Acabadas as celebrações, além das palavras ficam também os gestos de sempre: o manto de luz à noite, os quilos de trigo despejados numa caixa e que se vão transformar em hóstias, os lenços brancos que são acenados à passagem do andor de Nossa Senhora de Fátima. E, no fim de tudo, os agradecimentos pessoais murmurados e o pedido que se adivinha: que para o ano se regresse à Cova da Iria.

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