As tensões mantém-se, mas a guerra ainda não começou. O que se passou hoje entre a Rússia e a Ucrânia?

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Faça-se de imediato uma ressalva: a guerra, no seu sentido formal, não teve ainda início entre a Rússia e a Ucrânia; a que antepõe os separatistas às autoridades ucranianas em Dombas mantém-se na mesma.

Ambos os lados mantêm-se em preparativos para uma potencial invasão russa. Recorde-se que ontem, se Vladimir Putin pediu autorização à Duma para enviar tropas para as regiões de Donetsk e Luhansk (autorização essa, concedida), Volodymyr Zelensky, determinou a mobilização parcial de militares na reserva para reforçar o Exército ucranaino.

Tanto um como outro, porém, escudaram-se na lógica de que apenas estarão a engrossar o seu aparelho bélico caso o outro lado precipite os confrontos. Entretanto, hoje tivemos mais novidades. Vejamos por pontos:

Separatistas endurecem discurso e pedem apoio militar a Moscovo

Talvez o acontecimento mais alarmante do dia, o Kremlin fez saber publicamente que as duas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, cuja independência Moscovo reconheceu esta semana, “solicitaram ajuda do Presidente da Rússia para repelir a agressão das forças armadas ucranianas”.

Este apelo, se for aceite, pode significar o envolvimento militar direto da Rússia no leste da Ucrânia, confirmando os receios dos países ocidentais de que Moscovo está a preparar uma invasão ao país vizinho.

Denis Pushilin, líder do território controlado pela Rússia em Donetsk, já tinha sugerido antes deste comunicado, que estava a considerar pedir ajuda militar, lembrando que os acordos de amizade assinados com Putin já antecipavam esse cenário.

Pushilin esclareceu que não vai ordenar imediatamente um ataque às posições ucranianas na linha da frente, mas também não descarta uma "solução militar" para expandir as fronteiras da sua região.

Em causa está o facto de que o reconhecimento das autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e de Lugansk, no leste ucraniano, anunciado na segunda-feira, inclui a admissão de território nessas duas províncias que ainda permanece sob controlo de Kiev. Reclamá-lo antecipa um cenário de guerra aberta.

“A situação é tal que o alargamento das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk às suas fronteiras históricas pode ser resolvido por si só, mas preferimos que seja por meios pacíficos”, disse Pushilin.

Ucrânia entra em estado de emergência nacional e pede mais armas — e mais sanções à Rússia

Após o pedido do Conselho de Segurança da Ucrânia quanto à instauração de um estado de emergência no país face aos receios crescentes de uma iminente invasão russa, o Parlamento assentiu.

Esta medida extraordinária, que entra em vigor na quinta-feira durante 30 dias, é aplicada em todo o país, exceto nas regiões de Donetsk e Lugansk, que estão sob uma administração político-militar desde 2014.

O estado de emergência, agora instaurado na Ucrânia, permite que as autoridades imponham restrições à circulação, impeçam comícios e proíbam atividades políticas e partidárias no “interesse da segurança nacional e da ordem pública”.

À supressão destas liberdades, somou-se a autorização votada pelo parlamento da Ucrânia quanto a um projeto de lei que dá permissão aos ucranianos para transportarem armas de fogo e agir em legítima defesa.

Já ao fim do dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, apelou à comunidade internacional para que reforce as sanções à Rússia e disponibilize armas para a Ucrânia se defender de uma agressão russa.

“Devem ser impostas mais sanções, devemos receber mais armas e as ações diplomáticas devem ser multiplicadas”, referiu Kuleba, em declarações aos jornalistas, após discursar perante a Assembleia Geral da ONU, que teve hoje uma sessão especificamente dedicada à crise na Ucrânia.

O responsável da diplomacia ucraniana repetiu várias vezes que as sanções anunciadas na terça-feira pelos Estados Unidos, União Europeia (UE), Reino Unido e outros países “são apreciadas, mas não são suficientes”.

Dmitro Kuleba alertou ainda que não se deve esperar que os mísseis russos caiam em solo ucraniano para impor novas sanções, defendendo que estas “devem ter um efeito dissuasivo”.

Para o governante, a Ucrânia tem direito a munir-se “de armas defensivas” que espera não terem de ser usadas.

Sanções somam-se — mas a Rússia não se vai deixar ficar

Apesar de a Ucrânia lamentar que a comunidade internacional não esteja a fazer o suficiente para detrair a Rússia, as sanções continuam a aumentar.

Hoje, Japão e Austrália juntaram-se ao rol de países que avançaram sanções à Rússia e aos territórios separatistas.

Além disso, o próprio parlamento ucraniano aprovou a imposição de sanções a 351 russos, incluindo legisladores que apoiaram o reconhecimento da independência de territórios controlados pelos separatistas e a mobilização de tropas russas para o leste da Ucrânia.

Ficámos também a saber que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e dois bancos privados da Rússia estão entre os alvos das sanções da União Europeia. Mais: os Estados Unidos anunciaram a aplicação de sanções às empresas que participaram na construção do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha, e aos seus executivos.

A este assomo de penalizações, a Rússia prometeu que vai reagir. O ministério das Finanças russo afirmou estar a acompanhar a situação dos mercados, após sanções dos Estados Unidos às transações com títulos soberanos russos, e que tomará as "medidas necessárias" para manter a estabilidade financeira.

Ademais, a Rússia prometeu uma “resposta forte” às sanções impostas pelos Estados Unidos, incluindo restrições às transações da dívida soberana russa, devido ao reconhecimento por Moscovo da independência de territórios separatistas na Ucrânia. “Não deve haver dúvidas de que as sanções terão uma resposta forte, não necessariamente simétrica, mas ponderada e sensível para o lado dos EUA”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo numa declaração citada pela agência espanhola EFE.

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