Um fim de semana de "alto risco" - com Pedrógão Grande na memória

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

"Este é um fim de semana de alto risco. NÃO FAÇA FOGO E NÃO USE MÁQUINAS! Prevenir o fogo é a melhor ajuda que podemos dar aos bombeiros. Portugal chama por todos!". O apelo é do primeiro-ministro António Costa e foi publicado esta manhã na rede social Twitter.

Este sábado, Portugal acordou sob um aviso laranja que se vinha a anunciar ao longo da semana, nos avisos amarelos e apelos de precaução em relação às elevadas temperaturas que se faziam sentir por todo o país.

No total, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou hoje 16 distritos em aviso laranja devido ao calor, com a temperatura mais elevada prevista para Santarém, com 42 graus Celsius.

Viana do Castelo, com temperatura máxima de 32º C, e Faro, com 35º, eram as exceções num mapa alaranjado, com o IPMA a prever temperaturas de 41º no distrito de Évora e de 40º nos de Braga, Lisboa e Beja.

As altas temperaturas devolveram o país ao inferno anual dos incêndios. Depois de a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil ter revelado que Portugal atingiu esta sexta-feira o número máximo de incêndios deflagrados este ano, com 121 ignições, foram-se somando as notícias dos combates mais gravosos às chamas.

No momento em que este texto é escrito há 18 incêndios ativos, 1.685 bombeiros no terreno, auxiliados por 525 viaturas e três meios aéreos. Dezassete agentes da proteção civil ficaram feridos nos últimos dois dias e 12 civis foram assistidos. As situações mais preocupantes acontecem no distrito de Bragança, em Carrazeda De Ansiães, Santarém, em Freixianda, Ourém, e em Leiria, em Ansião.

Alguns habitantes da Ramalheira foram retirados “por precaução” desta aldeia do concelho de Ansião, onde lavra o incêndio que começou na sexta-feira no concelho vizinho de Pombal.

As altas temperaturas e as imagens das televisões em direto com cortinas vermelhas de chamas a aproximarem-se das habitações remetem-nos, naturalmente, para a tragédia de Pedrógão Grande, há cinco anos.

Mas o problema é maior, não é só a sensação, é factual. O ministro da Administração Interna alertou hoje para a “pior conjugação de fatores que há desde Pedrógão Grande”, em termos de risco de incêndios em Portugal, apelando a que se “faça tudo” para evitar que essa situação se repita.

“Quero transmitir, sublinhar, reforçar a mensagem de que efetivamente as condições são muito exigentes, e vão exigir muito de todos nós, para conseguirmos evitar o pior nos próximos dias. Evitar o pior significa mesmo enfrentarmos uma conjugação de fatores que é talvez a pior conjugação de fatores que há desde Pedrógão Grande”, afirmou José Luís Carneiro.

Questionado se a atual conjugação de fatores pode fazer com que se repita uma situação como a que se viveu em Pedrógão Grande a 17 de junho de 2017 – que fez 66 mortos -, José Luís Carneiro respondeu: “Tudo temos que fazer para o evitar”.

“Mas é evidente que as temperaturas que podem alcançar os 44 e os 45 graus, ventos de leste tocados para noroeste com mais de 60 quilómetros horários, em período noturno, com noites consideradas noite tropicais, e com trovoadas secas (…) [fazem com que esteja] reunido um conjunto de condições para que se transformem os próximos dias nos dias mais exigentes que tivemos nos últimos anos desde Pedrógão Grande”, reiterou.

Interrogado se o Governo tem agora mais meios para fazer face a esse tipo de situações do que em 2017, José Luís Carneiro afirmou que “as autoridades competentes (...) têm reconhecido” o esforço feito pelo executivo para reforçar os meios de combate aos incêndios.

“Todos têm reconhecido (…) que nós evoluímos muito do ponto de vista das competências e das capacidades técnicas, dos meios humanos e da forma como organizamos os meios humanos e tecnológicos”, sublinhou.

José Luís Carneiro salientou que “todos os meios que o Estado tem, estão hoje já operacionais” e “toda a organização, toda a logística”, sejam meios terrestres ou aéreos, estão “todos conjugados e em cooperação” para responder “ao desafio exigente”.

A resposta ao desafio exigiu que ao final da tarde os ministros da Administração Interna, Defesa Nacional, Ambiente e Alterações Climáticas, Agricultura e Alimentação e da Saúde voltassem a reunir-se. No final, José Luis Carneiro, em conferência de imprensa, revelou que o Governo decidiu hoje declarar a situação de contingência entre segunda e sexta-feira, permitindo que a Proteção Civil mobilize “todos os meios de que o país dispõe” para combater os incêndios.

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