A Rússia disse adeus a Kherson?

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Na segunda-feira, as autoridades pró-russas anunciaram o fim da retirada organizada de civis de Kherson e avisaram os que ainda pretendem sair desta zona do sul da Ucrânia que o terão de fazer por meios próprios, na sequência de uma ação de Moscovo perante o avanço das tropas ucranianas.

Na terça-feira, as autoridades pró-russas de Kherson admitiram a superioridade numérica das forças ucranianas na região, assegurando, no entanto, que têm conseguido repelir todos os ataques.

Hoje, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu anunciou que as as forças armadas russas vão retirar-se da cidade ucraniana de Kherson, na região com o mesmo nome, anexada ilegalmente por Moscovo em setembro. Segundo a agência TASS, o ministro foi informado esta quarta-feira pelos comandantes militares no terreno de que era impossível abastecer com mantimentos a cidade de Kherson e outras áreas da margem ocidental do rio Dnieper, tendo Shoigu concordado com a proposta de recuo das tropas para a margem leste.

Porque é que esta cronologia de três dias é importante? Porque a cidade de Kherson era a única capital regional que as forças russas tinham ocupado nos mais de oito meses de guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro com uma invasão de território ucraniano por parte da Rússia, e porque esta é uma das quatro regiões ucranianas anexadas pela Rússia em 30 de setembro, juntamente com Donetsk, Lugansk e Zaporijia, que correspondem a 18 por cento do território da Ucrânia.

Ou seja, a confirmar-se esta retirada, tal significaria que a perda da capital regional de Kherson, localizada na margem direita do rio.

No entanto, antes de esta ser uma vitória para a Ucrânia dentro desta guerra que assola o país, é preciso confirmar-se o anúncio russo.

Para já, o governo da Ucrânia disse hoje não ver "qualquer sinal", neste momento, de retirada voluntária das tropas russas da cidade de Kherson, no sul do país.

"Não vemos qualquer sinal de que a Rússia esteja a deixar Kherson sem combate. Parte dos [militares] russos ainda se encontra na cidade e estão a ser enviados reservistas para a região", disse um assessor da presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, num comentário ao que considerou "declarações encenadas" de Moscovo.

"As ações dizem mais do que as palavras", acrescentou Mykhailo Podoliak, numa mensagem publicada na rede social Twitter em que disse que "a Ucrânia está a libertar territórios baseando-se em dados da inteligência [serviços secretos], não em declarações na televisão".

Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou hoje "encorajadora" a forma como o exército ucraniano está a ser capaz de "libertar mais território", mas mostrou-se também cauteloso sobre a retirada de Kherson.

"Vimos o anúncio, mas, é claro, vamos esperar para ver o que acontece no terreno", disse em Londres após o primeiro-ministro do Reino Unido.

Se este for o adeus da Rússia à região que anexou ilegalmente, não se pode alegar desconhecimento sobre o quão difícil seria manter aquele território. Afinal de contas, Ramzan Kadyrov, líder militar checheno disse-o desde o princípio: "todos sabiam que Kherson é um território de combate difícil desde os primeiros dias da operação especial”.

“Os soldados das minhas unidades relataram que era muito difícil lutar nesta área”, declara Kadyrov, acrescentando que a frente de batalha em Kherson “poderia ser mantida com a provisão adequada de munições”, mas avisou que “custaria inúmeras vidas humanas”.

“E essa previsão não nos convém. Portanto, acredito que Surovikin agiu como um verdadeiro general militar, sem medo de críticas”, concluiu o checheno agradecendo aos superiores militares russos pela decisão da retirada.

Os próximos dias colocarão a nu a realidade de Kherson.

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