Vai fazer (muito) frio em Portugal. Porque é que essa é uma questão de vida ou morte?

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Os 18 distritos de Portugal continental vão estar sob aviso amarelo devido à previsão de tempo frio, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Porquê?

Normalmente associamos os avisos do IPMA aos incêndios ou à chuva. Para esta semana, não se prevê nem uma coisa nem outra, mas as temperaturas mínimas previstas para entre os 5º e -6º assim obrigam.

Esta “descida acentuada dos valores de temperatura até segunda-feira, dia 23”, deve manter-se “sem alterações significativas até ao final da semana” e não há previsão de chuva, ainda segundo o instituto meteorológico.

Na segunda-feira, de acordo com o IPMA, a “temperatura mínima deverá variar aproximadamente entre 0º e 5° C, sendo inferior no interior Norte e Centro, onde irá baixar até valores entre 0 e -6° C”, prevendo-se igualmente a formação de geada.

A temperatura máxima também vai descer, “prevendo-se na generalidade do território valores entre 10º e 15°C e, no interior Norte e Centro, valores entre 5º e 10° C”.

Mas é normal fazer frio no inverno. Qual é a diferença aqui?

Recordemos um relatório datado de 2021 do Instituto Ricardo Jorge, onde se aponta que, naquele ano, as baixas temperaturas foram responsáveis por 24% dos óbitos em janeiro. Ou seja, um quarto das mortes reportadas foram causadas pelo frio. Se é verdade que esses valores foram obtidos num ano de pandemia, é igualmente verdade que esse fenómeno já tem sido estudado há mais tempo, pré-covid.

Além disso, não esqueçamos que o real problema é que os portugueses não sofrem apenas com o frio fora de casa, mas também dentro. Uma reportagem da Rádio Renascença datada de 2022, citando um inquérito conduzido pelo Portal da Construção Sustentável, mostrou um dado impressionante: apenas um em cada 10 portugueses se sente confortável dentro de casa, devido ao frio ou ao calor.

Tal deve-se à precariedade da construção em Portugal, o que se traduz na honra dúbia de seremos um dos países com maior pobreza energética da Europa. É que se as casas mal protegem do frio, tal obriga a recorrer a aquecimento das mais diversas formas — de lareiras a aparelhos —, o que pesa na fatura das famílias.

Junte-se a estas circunstâncias o atual momento inflacionário do país, com os salários incapazes de crescer ao ritmo do aumento do custo de vida, e percebe-se que temos em mãos um cocktail particularmente perigoso, onde há portugueses que podem ter de escolher entre comprar o que comer e aquecer a casa.

O que é que eu posso fazer?

A Direção-Geral da Saúde publicou na passada semana uma lista de recomendações para lidar com o frio com que nos vamos debater:

  • Evitar “a exposição prolongada ao frio e mudanças bruscas de temperatura";
  • Usar várias camadas de roupa;
  • Proteger as extremidades do corpo com luvas, gorro, cachecol, meias e calçado quente e antiderrapante;
  • Manter o corpo hidratado, ingerindo sopas e bebidas quentes e evitar o álcool, que proporciona “uma falsa sensação de calor”;
  • Verificar o estado de funcionamento dos equipamentos de aquecimento;
  • No caso de utilização de braseiras ou lareiras, garantir uma adequada ventilação das habitações, renovando o ar;
  • Reduzir ao máximo a prática de atividades no exterior;
  • Seguir as recomendações do médico assistente, garantindo a toma adequada de medicação para doenças crónicas;
  • Adotar uma condução defensiva, uma vez que poderão existir locais na estrada com acumulação de gelo

A autoridade da saúde alerta também para a necessidade de prestar atenção aos grupos mais vulneráveis, nomeadamente crianças nos primeiros anos de vida, doentes crónicos, pessoas idosas ou em condição de maior isolamento, trabalhadores que exerçam atividade no exterior e pessoas sem-abrigo.

E, por fim, não se esqueça: muito cuidado quanto às braseiras e lareiras, já que podem causar intoxicação devido à acumulação de monóxido de carbono e levar à morte.

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