O grupo Wagner vai ou não chegar a Moscovo?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Como é que tudo começou?

Na noite de sexta-feira, o líder do grupo paramilitar Wagner convocou uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, convocando os russos a juntarem-se aos soldados numa “marcha pela justiça”.

"Somos 25.000 e vamos determinar por que é que reina o caos no país (...) As nossas reservas estratégicas são todo o exército e todo o país", frisou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio, instando “quem se quiser juntar” para “acabar com a confusão”.

No entanto, Prigozhin defendeu-se de qualquer "golpe militar", alegando estar a liderar uma "marcha por justiça".

"Este não é um golpe militar, mas uma marcha pela justiça, as nossas ações não atrapalham as Forças Armadas", assegurou, numa mensagem de áudio.

Anteriormente, Prigozhin acusou o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Como reagiu a Rússia?

O Exército russo negou de imediato a realização de ataques contra acampamentos do grupo Wagner.

"As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados ‘ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner’ não correspondem à realidade e são uma provocação", referiu o governo russo em comunicado.

Além disso, os serviços secretos russos abriram imediatamente uma investigação ao líder do grupo paramilitar Wagner, após Yevgeny Prigozhin ter apelado à revolta.

"As alegações divulgadas em nome de Yevgeny Prigozhin não têm fundamento. (…) O FSB [serviços de segurança russos] abriu uma investigação por convocação de um motim armado", referiu o Comité Nacional Antiterrorista da Rússia em comunicado, citado por agências de notícias russas.

Por sua vez, o Serviço Federal de Segurança russo apelou aos combatentes do grupo Wagner para que detenham o líder da organização paramilitar.

E Putin?

O presidente russo classificou hoje de "traição" a rebelião armada promovida por Yevgeny Prigozhin, prometendo “defender o povo” e a Rússia.

"Aquele que organizou e preparou a rebelião militar traiu a Rússia e vai responder por isso", declarou Putin, durante um discurso à nação transmitido pela televisão pública. O chefe de Estado russo declarou ainda que esta traição foi provocada por “ambições desmesuradas por interesses pessoais”.

Putin não identificou Prigozhin pelo nome e quis distingui-lo das forças do grupo Wagner, pedindo "àqueles que foram pressionados a provocar esta rebelião militar" para depor as armas, no que denunciou como uma "punhalada" nas tropas russas e no povo.

Putin afirmou também que a rebelião do grupo paramilitar Wagner é um “ameaça mortal” ao Estado russo e garantiu que não vai “deixar” uma “guerra civil” acontecer, apelando à “unidade”.

Com tudo isto, o que fez o grupo Wagner?

Yevgeny Prigozhin negou a acusação de “traição” feita pelo presidente russo, chamando “patriotas” aos seus combatentes e garantindo que não se entregarão às autoridades.

"No que diz respeito à traição à pátria, o presidente enganou-se profundamente. Somos patriotas. Lutámos e lutamos (...) e ninguém pretende entregar-se por exigência do presidente, do Serviço de Segurança Federal ou de quem quer que seja", afirmou num áudio publicado no Telegram.

Sustentando que Vladimir Putin “está profundamente enganado”, o líder do grupo Wagner garantiu que os seus combatentes “não se renderão”, afirmando que ele e os seus homens não querem que "o país continue a viver imerso na corrupção, na mentira e na burocracia".

De facto, nas horas que se seguiram os soldados continuaram a avançar em território russo. Esta tarde, o governador da província de Lipetsk russa afirmou que o grupo paramilitar Wagner entrou na região, a 340 quilómetros de Moscovo.

De acordo com o político, as autoridades locais tomaram "todas as medidas necessárias para garantir a segurança da população".

E vão mesmo chegar a Moscovo?

Contra todas as previsões, assistiu-se a uma reviravolta: o chefe do grupo paramilitar Wagner aceitou, horas depois, suspender as movimentações da rebelião na Rússia contra o comando militar, após ter negociado com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.

“Yevgeny Prigozhin aceitou a proposta […] de parar as movimentações dos homens armados do grupo Wagner e tomar medidas para reduzir as tensões”, adiantou o canal não oficial da Presidência Bielorrussa no serviço de mensagens Telegram.

A informação foi entretanto confirmada pela Wagner, através da mesma rede social, numa mensagem assinada por Prigozhin.

Ao início da noite, o Kremlin anunciou que o líder do grupo paramilitar Wagner partirá para a Bielorrússia, assegurando que a justiça russa não o perseguirá criminalmente nem aos seus combatentes.

“O processo criminal contra ele será arquivado. E ele irá para a Bielorrússia”, declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Como é que a Ucrânia vê o que está a acontecer?

Numa publicação na rede social Twitter, em reação aos movimentos do grupo Wagner, o presidente ucraniano começou por afirmar que "todo aquele que escolhe o caminho do mal, destrói-se a si mesmo".

Zelensky acusou a Rússia de usar propaganda para "mascarar a sua fraqueza e a estupidez do seu governo", evocando também a revolução bolchevique de 1917, afirmando que Putin é uma pessoa "que repetidamente assusta até o ano de 1917".

Esta tarde, a Ucrânia anunciou avanços em várias direções da frente leste, no âmbito da ofensiva contra as forças de Moscovo.

Segundo a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, a ofensiva dirige-se simultaneamente "em várias direções", inclusive em direção à cidade de Bakhmut, enquanto o lado russo prossegue intensos bombardeamentos contra as tropas ucranianas.

Maliar, citada pelo portal Ukrinform, referiu-se ainda à rebelião do grupo mercenário Wagner na Federação Russa como "uma janela de oportunidade" para a Ucrânia que provaria "a inevitável degradação do Estado russo".

Apesar disso, Hanna Maliar apelou aos cidadãos ucranianos para que não relaxem e para que "tenham cuidado e se preparem para qualquer cenário". "Continuamos a trabalhar para sermos mais fortes e para a vitória", rematou.

*Com Agências

(Notícia atualizada às 21h41)

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