Ai Weiwei participou hoje numa conferência de imprensa, no Museu da Eletricidade, em Lisboa, para apresentar a sua primeira grande exposição individual em Portugal, a realizar em junho de 2021, intitulada “Rapture”, com obras originais inéditas, criadas a partir de materiais e técnicas tradicionais da cultura portuguesa.
No final da apresentação, os jornalistas também fizeram várias perguntas sobre as posições de Ai Weiwei relativamente a questões da atualidade, nomeadamente, a introdução da tecnologia 5G, as relações entre Portugal e China, e as eleições nos Estados Unidos, em novembro.
Questionado sobre a ligação entre a China e Portugal, o artista admitiu que “a influência chinesa em Portugal é muito forte, o que deve ser bom para ambos os países”, mas advertiu que “são duas sociedades muito diferentes”, e que “a China não reconhece os chamados valores comuns” nas sociedades ocidentais.
“Portugal é um país muito belo, com uma magnífica natureza e uma ideologia clara”, disse.
Apontou que o crescimento económico na China, apesar da crise provocada pela pandemia, “já ultrapassou os Estados Unidos, e está a transformar-se na maior economia do mundo”. Por isso, acrscentou, o país “ficará inevitavelmente mais forte, porque tem uma estratégia muito forte e assenta no planeamento”.
Alertou ainda para os riscos da adoção da tecnologia 5G da Huawei, “que é controlada pelo Estado, e funciona quase como um tipo de empresa militar, que pode obter todo o tipo de informações sobre os indivíduos”.
Questionado sobre as próximas eleições nos Estados Unidos, considerou que, “independentemente de quem vier a ganhar, trata-se de um país capitalista, e todos os políticos estão atentos às grandes empresas, com os interesses económicos a dominar a política, o que é bastante perigoso, porque a China conhece muito bem este jogo, e joga-o de uma forma diferente dos países ocidentais”.
Sobre os candidatos, disse que “não se pode confiar em nenhum político americano: Donald Trump é instável, e não se pode acreditar no que diz: uma coisa hoje, amanhã outra”. Quanto a Joe Biden, lembrou que “também tem ligações à China”.
Em relação aos conflitos nos territórios de Hong Kong e Taiwan, considera que “nada será resolvido ou mudará, porque a China não aceita a separação”.
Quanto à forma como a China está a lidar com a crise pandémica, Ai Weiwei disse que o seu país está a “controlar o vírus e a doença de forma muito eficiente”.
“A China tem um sistema militar, e consegue exigir às pessoas que fiquem em casa e fechem as portas. Os chineses vão obedecer”, comentou.
Sobre o impacto da crise pandémica no resto do mundo, comentou: “O ocidente não está a fazer muito em relação aos países que estão a sofrer profundamente os efeitos da pandemia. Há um certo egoísmo. Lamentam, mas não ajudam o suficiente”.
O artista e ativista chinês de 63 anos está em Portugal, no Alentejo, há alguns meses, a preparar o novo projeto expositivo, depois de ter levado exposições à Argentina, ao Chile e ao Brasil.
Eleito o artista mais popular do mundo em 2020 pela publicação internacional The Art Newspaper, Ai Weiwei nasceu em 1957, em Pequim, e soma décadas de trabalho, sobretudo na área do documentário e das artes visuais, mantendo uma posição crítica sobre a China, em questões de direitos humanos.
Em 2011, esteve preso durante 81 dias, na China, sem acusação formada, apenas com alegações de crimes económicos, e, depois de libertado, passaram quatro anos até ser autorizado a sair do país.
Entre os seus trabalhos mais recentes estão o filme “The Rest”(2019), sobre a crise da migração, que se seguiu a “Human Flow”, filmado em mais de 20 países, também sobre a temática dos refugiados, que exibiu em Veneza, em 2017.
Ai Weiwei viveu quatro anos em Berlim, na Alemanha, e mudou-se para o Reino Unido, em 2019.
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