A bitcoin, nascida em 2008 e criada por uma pessoa (ou pessoas?) com nome fictício de Satoshi Nakamoto, é a moeda virtual mais popular do mundo. Baseia na tecnologia ‘blockchain’ (permite guardar dados de forma descentralizada e privada), que suporta o seu valor material na criptografia de dados informáticos.

A ambição que esteve na origem da sua criação foi alimentada pela falência do banco norte-americano Lehman Brothers, ocorrida um mês antes, que, segundo o fundador da primeira plataforma francesa de venda de bitcoins, Pierre Noizat, desprestigiou o sistema de "moedas tradicionais com as quais uma pequena elite de banqueiros enriquece muito, estabelece as regras monetárias e as impõe a todo mundo".

O primeiro "bloco", que gerou 50 bitcoins, foi criado a 3 de janeiro de 2009, tendo a primeira transação entre duas contas acontecido nove dias depois. A bitcoin evoluiu durante anos fora dos radares do grande público, interessando quase em exclusivo aos apaixonados pelo ramo da informática.

Mas a 22 de maio de 2010, um programador da Flórida pagou a um internauta 10.000 bitcoins para que este lhe entregasse duas pizzas. Foi a primeira transação conhecida no mundo real, equivalendo na época a 42 dólares (33 euros) e marcou o nascimento do "Bitcoin Pizza Day" (Dia de Pizza Bitcoin). Atualmente, o valor equivaleria uma quantia a rondar os 64,2 milhões de dólares (aproximadamente 50 milhões de euros).

Em 2013, a criptomoeda superava os 1.000 dólares (784 euros) e começou a chamar a atenção das instituições financeiras. Foi então que o Banco Central Europeu alertou para o funcionamento perigoso enquanto o ex-presidente da Reserva Federal (Fed), Ben Bernanke, celebrou o seu potencial.

Infância turbulenta

Alguns meses mais tarde, a criptomoeda sofre a sua pior crise quando a plataforma MtGox foi pirateada (onde se negociava até 80% das bitcoins em circulação). O preço despencou e teve de esperar mais de três anos para voltar ao nível do final de 2013.

O ano de 2017 constitui um "ponto de inflexão", considera Noizat: a moeda passa de menos de 1.000 dólares a mais de 19.500 em meados de dezembro, segundo números da Bloomberg.

Atualmente existem mais de 2.000 criptomoedas diferentes. "O conceito de moedas virtuais, que já existia, alargou-se consideravelmente" graças ao bitcoin, considera o analista Bob McDowall.

Maturidade?

Todavia, nem todos olham para a Bitcoin da mesma forma romântica. O economista Nouriel Roubini afirma que a descentralização da criptomoeda é "um mito".

"É um sistema mais centralizado do que a Coreia do Norte. Os mineiros estão centralizados, as transações estão centralizadas e os programadores são uns ditadores", escreve Roubini num artigo de opinião no The Guardian.

Embora a ideia inicialmente fosse utilizar o bitcoin como valor de câmbio, a maioria dos observadores reconhece que agora se usa principalmente como reserva ou instrumento de especulação devido à sua volatilidade.

"São necessários vinte anos para que uma tecnologia de rede deste tipo se instale completamente", justifica Pierre Noizat. Isto é, vai ser necessário esperar pela chegada de um sistema técnico que dê maior rapidez às transações, pois atualmente a rede só pode tratar de cinco a dez operações por segundo, enquanto, por exemplo, os operadores dos cartão Visa fazem milhares.

As criptomoedas não estão vinculadas a um banco ou governo e permitem registos anónimos dos utilizadores de bitcoin, o que leva a críticas de que servem apenas para facilitar o branqueamento de capitais e pagamentos ilícitos e colocam em causa a segurança das transações e dos depósitos.

Por:  Kevin TRUBLET da agência France-Press (AFP)