“Um novo dispositivo que replica a contração e distensão dos vasos sanguíneos”, que acelera “a descoberta de doenças e medicamentos” e “permite reduzir a utilização de modelos animais em experiência”, foi desenvolvido por uma equipa internacional de investigadores, anunciou hoje a Universidade de Coimbra (UC).
Do grupo de especialistas faz parte o português João Ribas, investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, sublinha a Universidade, numa nota enviada hoje à agência Lusa.
O novo dispositivo ou chip, concebido no âmbito de um estudo já publicado na revista científica Small, é feito de um material derivado do silicone, com recurso a técnicas de microfabricação.
Quando as células estão neste ambiente dinâmico, neste ‘órgão-num-chip’, “as respostas são completamente diferentes das obtidas pelos dispositivos tradicionais porque as suas características assemelham-se às das células in vivo”, afirma a UC.
Apesar dos elevados investimentos na pesquisa de novos fármacos na área cardiovascular, “poucos são os que chegam ao mercado”, refere a UC, considerando que a situação se deve, “em parte, à falta de modelos que reproduzam as condições do coração e vasos sanguíneos observadas no corpo humano, como o batimento cardíaco”.
Este estudo, salienta a UC, procurou desvendar as diferenças que existem entre modelos que simulam as condições do corpo humano e modelos estáticos de cultura celular utilizados atualmente.
“A solução criada resulta da combinação de várias técnicas de engenharia, biologia e medicina, e poderá ser utilizada por centenas de laboratórios em todo o mundo, respondendo a várias linhas de investigação associadas a doença e envelhecimento vascular”, explica João Ribas, aluno do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina do CNC, citado pela UC.
João Ribas salienta que “o dispositivo poderá ainda ser utilizado pela indústria farmacêutica na descoberta e teste de novos fármacos na área cardiovascular, acelerando o processo de descoberta e reduzindo a utilização de modelos animais”.
Estas plataformas miniaturizadas representam “uma solução acessível para testar condições de microgravidade no espaço e como estas afetam a saúde dos astronautas”, acrescenta o investigador.
No âmbito do estudo foi também utilizado um modelo celular de envelhecimento prematuro, com células provenientes de doentes, refere a UC, adiantando que “os resultados obtidos mostram que o dispositivo permite estirar exageradamente estas células, obtendo-se vários marcadores de inflamação e doença vascular elevados”.
Se as células “fossem manipuladas em culturas estáticas não se observariam estes marcadores. Contudo, sabe-se que esta inflamação acontece em doentes, sendo especialmente importante durante o processo de envelhecimento e necessitando de ser compreendida para que se possam descobrir fármacos adequados”, esclarece João Ribas.
A investigação testou ainda alguns medicamentos que provam que o sistema funciona, podendo ser “usado na descoberta e teste de novos fármacos para combater doenças e envelhecimento vascular”.
Além do CNC, a pesquisa envolveu o Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC, as instituições norte-americanas Brigham and Women’s Hospital /Harvard Medical School e Harvard-MIT Division of Health Sciences and Technology, e holandesa MIRA/Institute for Biomedical Technology and Technical Medicine da Universidade de Twente.
A participação do investigador João Ribas foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela Defense and Threat Reduction Agency, dos EUA.
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