Falar em startups já traz uma dificuldade: a própria nomenclatura para descrever estas empresas de rápido crescimento e de base tecnológica é um estrangeirismo, e essa não é uma situação singular no seu ecossistema. Pelo contrário, há muita coisa que não é imediatamente clara para quem não está por dentro e conhece os “cantos à casa”. É por isso mesmo que vamos para a terceira edição deste dicionário. Ou seja, se estes esclarecimentos não forem suficientes, não se esqueçam de consultar o primeiro e segundo tomos.

ICO

Já aqui falámos em IPO, que se refere à entrada em bolsa de uma empresa, e ICO não é muito diferente. Contudo, em vez de se diluir ações de uma empresa para se vender numa bolsa de valores, aquilo que a ICO faz é distribuir esse valor por criptomoedas. ICO quer, por isso mesmo, dizer “initial coin offering”, ou oferta inicial de moedas, e é uma ferramenta muito usada por empresas tecnológicas que possam vender produtos ou serviços dentro de uma plataforma para se financiarem rapidamente. Foi o caso, por exemplo, da Aptoide, plataforma portuguesa de venda de aplicações móveis que em 2017 se tornou a primeira “appstore” a recorrer a esta forma de financiamento.

Bootstrap

Falando em financiamento, parte do modo de operar de uma startup, que se define pela sua estratégia de crescimento rápido, é angariar dinheiro que permita essa expansão. No entanto, há empresas que crescem sem necessidade de investimento externo. As que o fazem dizem fazer “bootstrap”, ou seja, são autofinanciadas e independentes de investimento externo. Um exemplo nacional disso é a Innuos, empresa liderada por Amélia Santos e Nuno Vitorino (e que já teve direito a um belo destaque no podcast Start Now, Cry Later), que neste momento tem presença em 40 mercados do mundo inteiro. Portanto, e para que não restem dúvidas, há mais de uma forma de crescer com uma startup, e nem todas implicam abdicar de equity.

3F

Sem desviar o assunto do dinheiro que entra nas empresas, falemos de uma das formas de financiamento inicial de uma startup: os 3 Fs (não, não são Fátima, futebol e fado). Os Friends, Family e Fools são muitas vezes os investidores iniciais de uma empresa desta natureza, amigos, família e gente próxima que acreditam na ideia e na sua proposta de valor — e por isso têm direito a ser apelidados de "fools", ou "tolos". Claro que nem toda a gente tem Fs que os possam ajudar, e por isso é que programas como o Startup Voucher se mostraram essenciais para o ecossistema português se desenvolver. Há um pouco de tolice em apoiar ideias embrionárias, mas só demonstra que o governo, através do IAPMEI e da Startup Portugal, acredita no potencial empreendedor nacional.

Smart money

Smart money é uma das formas que os empreendedores usam para se referir aos seus investidores, pelo menos daqueles que podem ser mais do que apenas isso. Fala-se, por isso, em "smart money" quando quem investe na startup é alguém com capacidade de mentoria ou com uma rede de contactos na área que pode contribuir para acelerar o crescimento da empresa. Seria, no caso nacional, a diferença entre se ter um investimento de um fundo de capital de risco sem mentores ou ter-se um investimento de um fundo que tenha uma pessoa como perfil da Cristina Fonseca (que é fundadora do unicórnio Talkdesk).

b2b / b2c

As nomenclaturas b2b e b2c referem-se ao tipo de negócio que a empresa desenvolve. E não é nada difícil de perceber: A expressão b2b é a abreviação de "business to business", ou seja, de uma empresa que presta serviços ou vende produtos a outras empresas. Por exemplo, a Talkdesk, de que falámos em cima, propõe-se a montar call centers para outras empresas de forma rápida e eficaz, isto é, um negócio orientado para prestar serviços a outros negócios. Por seu lado, b2c já significa "business to consumer", o que significa que esse negócio é orientado para o consumidor. Exemplo disso será a LUGGit, de que já falámos antes ao abrigo da nossa parceria com o SAPO24 e a The Next Big Idea, que se propõe a recolher as malas de turistas, guardá-las e entregá-las sem que estes tenham de se deslocar.

SaaS

Falando em tipo de negócio, SaaS é outra nomenclatura comummente usada por startups e refere-se ao tipo de serviço que prestam. Neste caso, SaaS significa "software as a service" e significa que a empresa desenvolve software que presta um determinado serviço. Mantendo o exemplo da Vawlt, esta é uma empresa que tem um negócio SaaS, em que o seu software presta um serviço de cibersegurança.

Blockchain

Blockchain fez parte das modas das redes sociais em 2020 graças a um pequeno "faux pas" de um comentador de televisão nacional, e, infelizmente, não teve a melhor introdução possível. Em sua defesa, não é um tema fácil de explicar. Em poucas palavras, a blockchain é uma forma de encriptar informação que funciona de forma descentralizada, isto é, não armazena a informação toda num único servidor, distribuindo-a por vários terminais de forma a melhor garantir a sua integridade. Ou seja, a informação é armazenada em "blocos" e quando cada bloco se encontra fechado, ou completo, é distribuído; em teoria, este só poderia ser alterado quando todos os pontos que detêm parte da informação concordassem na alteração. Como dissemos anteriormente, não é fácil de perceber, mas podem ler tudo sobre o que é, poderá vir a ser e de que forma é utilizado neste artigo que preparámos exclusivamente sobre o assunto.