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A consequência desta interação costuma resultar numa agitação dos mercados (o oficioso bolsista e o não-tão-oficioso-quanto-isso das criptomoedas) e na animação dos títulos dos jornais especializados. E, à luz dos acontecimentos da semana passada e de tudo o que se escreveu no final da mesma, parece que este cenário se voltou a repetir.

Tudo começou em 6 de novembro, sábado, dia em que Elon Musk decidiu perguntar aos seus quase 64 milhões de seguidores no Twitter se devia ou não vender 10% da participação (dos 17% totais) que detém na Tesla. Não foi uma decisão unânime, mas chegou ao "satisfaz" do 2.º ciclo, ou seja, praticamente 58% dos que responderam à questão votaram em "sim". Na segunda-feira seguinte, 8 de novembro, Musk alienava as suas ações na empresa. Quer dizer que uma coisa esteve relacionada com a outra? Não necessariamente.

A documentação fornecida ao regulador dos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC), na quarta-feira, 10 de novembro, mostrava que o homem mais rico do mundo vendeu cerca de 930.000 ações só na segunda-feira, isto é, 1,1 mil milhões de dólares (958 milhões de euros). Mas, a par, o que acrescenta a nota? Que Musk já tinha iniciado o processo de venda das ações em 14 de setembro, pelo que, ao contrário do que possa ter dado a sugerir, a sua decisão nada teve que ver com a sondagem realizada no Twitter.

No entanto, como as ações da Tesla caíram devido à ameaça de venda na rede social azul do passarinho, o empresário perdeu várias dezenas de milhões de dólares em lucros não realizados, já que as ações foram vendidas a um preço mais baixo do que seria normal.

Não obstante, feita a venda, a questão passava por perceber o porquê de Musk vender as ações. Michael Blurry, investidor que durante a crise imobiliária de 2008 fez milhares de milhões de dólares ao apostar contra hipotecas bancárias (previu, no fundo, a crise), explica aquela que é a sua teoria: Musk queria livrar-se das ações (antes tinha tweetado que Musk talvez precisasse de vender "por causa do dinheiro livre de impostos que retirou"). No entanto, parece que tudo teve que ver com o cumprir as suas obrigações fiscais pelo exercício da opção de compra de ações.

Assim, o que há a retirar da última semana, de acordo com a CNBC e a CNN:

  • Musk vendeu um total de 6,9 mil milhões de dólares em ações;
  • Musk continua a deter mais de 166 milhões de ações;
  • As ações da Tesla tiveram a pior semana em bolsa nos últimos vinte meses, descendo 15,4%;
  • Kimbal Musk, irmão de Elon, vendeu algumas ações que detinha da Tesla antes de Musk fazer o tweet. Com a operação ganhou 109 milhões de dólares (94 milhões de euros);
  • Kimbal e Elon não foram, contudo, os únicos a vender. Robyn Denholm, presidente da Tesla, tem vendido ações regularmente desde 2018, ano que assumiu o cargo de supervisão da administração; o "Mestre da Moeda" da Tesla, Zachary Kirkhorn, também tem vendido as ações de forma regular.

Numa semana em que Musk é protagonista, a história das ações da Tesla não terminaria sem (nova) polémica no seu espaço de debate predileto, o Twitter. É que o fundador da construtora de carros elétricos não perdeu tempo a responder a Bernie Sanders naquela rede social, quando, no domingo, o senador norte-americano, de 80 anos, escreveu um tweet em que voltou a insistir que os mais ricos têm de pagar impostos de acordo com o que ganham.

"Nós temos de exigir que os extremamente ricos paguem a sua parte de forma justa. Ponto final", enfatizou Sanders.
 
Acontece que Musk, a liderar o Índice de Multimilionários da Bloomberg, deve ter-se sentido visado pelo conteúdo. Primeiro respondeu, sendo um pouco desagradável: "continuo a esquecer-me de que ainda estás vivo"; depois, rematando o assunto com uma questão em tons de provocação: "Queres que venda mais ações, Bernie? É só dizer".

O recado à Rivian, a (possível?) concorrência dos 100 mil milhões

Quem está no topo tem certamente uma certeza: apesar de estar no cume, quem compete, quem tem algo, seja poder ou apenas a posição dominante, já sabe de antemão que haverá alguém com a aspiração de tomar posse do lugar que ocupa na cadeia. Esta história podia muito bem ser uma daquelas narradas por Sir. David Attenborough em qualquer documentário sobre vida selvagem, mas o mundo empresarial não é muito diferente.

No caso da indústria automóvel, Musk foi o pioneiro e aquele que mostrou ao mercado que no futuro o caminho ruma em direção ao elétrico. Mas há um novo player que está a excitar a bolsa e o homem forte da Tesla já deixou um recado: arrecadar largas somas de dinheiro com estrondo ou fazer manchetes e títulos com muito destaque é muito bonito, mas a Tesla é a única fabricante de veículos norte-americana que "atingiu um grande volume de produção e um 'cash flow' positivo nos últimos 100 anos".

Este recado à Rivian, que chega em tons de "desafio", acontece porque esta construtora norte-americana especializada em automóveis elétricos, enquanto Musk andava a fazer questões no Twitter, estreou-se na semana passada em Wall Street, em que o seu debute significou uma valorização superior a 100 mil milhões de dólares (78 mil milhões de euros) – mais do que a Ford e ao nível da General Motors.

Especializada em "pick-up’s", furgões e SUV’s, a Rivian pode vir a ser uma pedra no sapato da Tesla e comprometer a sua posição dominante no mercado. Nem que seja porque a Rivian é alimentada por uma força bem poderosa: Jeff Bezos (a quem se soma a BlackRock e a Ford). Há dois anos, a Amazon investiu 700 milhões na empresa e anunciou que avançou com uma encomenda de 100 mil unidades, o que demonstra bem a sua "fé" na febre elétrica.

A Rivian é uma startup com 12 anos, mas já vale mais do que a Ford (que nela investiu) e a General Motors. A realidade, porém, é que, ao dia de hoje, entregou pouco mais de 150 exemplares, a maioria para os seus trabalhadores. Como recorda a CNN, o medo de ficar de fora de um investimento desta magnitude em Wall Street, a par do que aconteceu inicialmente com a Tesla há uma década, é real, pelo que nesta altura os milhões geram milhões. Se vai pegar de estaca e ter sucesso? Só o tempo o dirá.