Dispersos pelos cinco pavilhões da Web Summit os empreendedores querem sempre ter uma ideia única, mas muitas vezes há mais que os une e são várias as semelhanças entre o que propõe, principalmente quando abordam o mesmo tema. Nem que seja apenas o objetivo em comum, além de fazer dinheiro claro.
Bruno Multedo e Breno Barros são o CEO e o Responsável de Operações, respetivamente, da Let's Fly. Os brasileiros apresentam ao SAPO24 a empresa de forma simples, "criamos um inseto que se chama mosca soldado negra, mas que é conhecida como BSF - black soldier fly - conseguimos ao redor dela fazer um modelo de negócio que resolve múltiplos problemas". Explicam que com esta mosca conseguem reduzir os resíduos orgânicos dos aterros sanitários e produzir proteína sustentável.
A cara de quem os ouve manifesta sempre a mesma expressão, um misto de incredulidade, nojo, espanto e curiosidade. Continuam a explicação ao SAPO24, "a larva deste insecto alimenta-se dos resíduos orgânicos de forma super eficiente e em larga escala. Ao mesmo tempo é fonte de proteína e de gordura de riquíssima qualidade nutricional. E, por fim o resíudo do processo de produção desse inseto é o FRASS, que é um bio fertilizante. Por outras palavras, pegamos em restos de comida e transformamos em comida de alta qualidade e segura."
Se parece tudo muito simples, Bruno e Breno garantem que não é só aparência. "Temos três linhas de produto, o fertilizante é uma delas, mas a principal é a farinha proteica dessa larva. Processamos a larva e transformamos num pó proteico e no oleo", a questão é perceber quem ou quê irá comer farinha e óleo de larvas. "Ambos são ingredientes para a produção animal", mas apenas para já e por motivos culturais, "ainda não é para alimentação humana atendendo à barreira psicológica que existe".
Contudo não está fora da visão a longo prazo dos dois empreendedores, "a missão da Let's fly é o combate à fome e à má nutrição, mas entendemos que há uma barreira psicológica. Então entrámos antes no reino da nutrição animal para ir pavimentando o caminho rumo a humanos".
A empresa da mosca começou há três anos, mas oficialmente só há dois e chegam à Web Summit imediatamente depois de terem conseguido uma licença do Ministério da Agricultura brasileiro para poderem vender os seus produtos. "Já tÍnhamos uma serie de cartas de intenção de compra que estavam só à espera disto. A nossa expectativa é que a partir de dezembro comece a faturar."
Para já, e nos próximos cinco anos, estarão no Brasil "até porque o mercado brasileiro é gigantesco, é o segundo maior mercado de ração do mundo. Mas sem dúvida nenhuma que é um dos objetivos, até porque a licença que temos hoje já nos permite exportar os nossos produtos. O mercado em que entramos hoje é um mercado global seguramente vamos estar noutros países."
A curto prazo, na Web Summit, o objetivo foi "networking e entender o mercado europeu. Perceber como o nosso negócio é recebido na Europa e pelos investidores europeus." Procuram também financiamento para levar a companhia ao próximo nível, "não é só o dinheiro é gente que nos possa ajudar".
Muita da comida que a mosca soldado negra encontra nos aterros vem do desperdício alimentar dos restaurantes. Quis o destino que a Lets Fly estivesse a fazer a promoção ao lado da suíça Go niña, uma startup que pretende ajudar os restaurantes a fazer planos com base em dados. Matthieu Ochsner é um dos fundadores da Go niña e diz ao SAPO24 que neste momento um terço da comida vai para o lixo e que é impossível não acreditar que isso é demasiado. Por isso, ele e dois sócios decidiram agir. "Entrevistámos mais de 100 restaurantes, pastelarias, supermercados e outros vendedores para perceber como é que há tanto desperdício e como podemos ajudar a fazer uma mudança".
E assim chegaram a uma empresa que quer "ajudar os vendedores a perceber quanta comida têm de produzir. Ao mesmo tempo que os ensinamos a fazer eles próprios essas contas, com acesso a análise de dados. Vários dados, o menu, a meteorologia, os eventos ao redor, etc."
Contudo, sabem que não podem mudar o mundo completamente, por isso decidiram criar também "uma app que se foca em maximizar o número de comida que é vendida, com preços dinâmicos e com condições justas para os vendedores". A aplicação encarrega-se de vender o que sobre diretamente ao cliente de forma sustentável e simples, sem que a empresa de restauração pense que com as comissões compensa que a refeição seja deitada fora.
E no que toca a entregar refeições aos clientes Ricardo Valadas, da Reutilbox, também tem uma coisa a dizer. Cansado de ver embalagens de uso único a percorrer as cidades todos os dias e a acabarem no lixo, criou embalagens reutilizáveis para takeway e entregas.
Explica que hoje em dia se paga uma taxa pelas embalagens, mas que isso não resolve o problema da sustentabilidade. "O nosso objetivo é pagar zero e parar de se deitar fora diariamente embalagens de plástico e papel. As nossas caixas estão preparadas para 300 utilizações, logo aqui há um ganho de CO2 e de embalagens que vão para o lixo."
Questionado pelo SAPO24 acerca das emissões gastas no transporte e na devolução das caixas explica que como abriram atividade na semana anterior à Web Summit, neste momento ainda só estão no restaurante The Therapist, em Lisboa. "Mas o nosso objetivo é expandir, e quanto mais expandirmos mais restaurantes vão estar ao pé das pessoas. E o objetivo será poder deixar em qualquer restaurante, tornar o mais conveniente possível." Mas tem em ainda em vista a possibilidade de "criar uma parceria com as apps de delivery para que o estafeta quando entrega uma refeição com um caixa nossa leve outra que eventualmente esteja nessa casa".
Há várias formas de contribuir para a sustentabilidade ambiental, Markym Dryhval, CEO da Farmtohome, tem uma proposta simples que não é mais que um regresso ao passado aproveitando a tecnologia do presente. "O nosso objetivo é conectar a oferta e a procura, sendo que a oferta são os agricultores e as suas quintas e a procura os consumidores. Temos a nossa app onde os clientes podem procurar por quintas, agricultores ou produtos e ver o que querem que lhes seja entregue à porta".
Este conceito da terra para a mesa, aparece fundamentalmente para ajudar agricultores a receberem de forma mais justa pelos seus produtos. Mas, claro, há ganhos ambientais que são vantajosos. "Dando um exemplo típico, uma maçã comprada num supermercado pode ter sido colhida até há um ano, e um com muitas camadas na cadeia de valor. Nós eliminamos todos os intermediários, tornando o produto mais barato e sustentável." Acrescentando que apenas vendem produtos sazonais e locais.
Depois de os produtos estarem nas meses, infelizmente não termina o desperdício. E como Pia Haugseth sabe que muito do desperdício acontece em casa criou a Sulten "a maior app de receitas da Noruega e que tem como objetivo que as pessoas reduzam o desperdício alimentar."
A proposta é simples, através da criação de menus semanais, listas de ingredientes e receitas, "o objetivo é que no fim da semana as pessoas não tenham sobras, tenham poupado comida e dinheiro e mudem a sua mentalidade. Que comecem a usar os ingredientes de melhor forma".
Para já fornecem mudam a vida dos utilizadores no Reino Unido, EUA e Dinamarca, mas querem crescer. "Estamos a pensar usar Inteligência Artificial para traduzir todas as nossas receitas para todas as línguas do planeta. E vamos abrir a app à comunidade para que os utilizadores possam partilhar as suas próprias receitas."
Para conseguirem essas receitas trabalham com 50 criadores de conteúdo noruegueses, entre chefs e influencers de comida. "Mas queremos trabalhar em diferentes cozinhas e depois de provar a comida portuguesa estamos à procura de recomendações de chefs para trabalhar connosco".
Internacionalizar não é um problema para esta plataforma, explica a CEO, "acho que para nos é fácil mover a app para qualquer país, o nosso objetivo é ter o maior numero de ingredientes de todo o mundo para que toda a gente possa cozinhar com o que tem a disposição"
Da Web Summit esta start up de impacto, que já ultrapassou os 200 mil downloads, quer "conectar com apps que tenham o mesmo objetivo, colaborar com apps que tenham mais tração e investidores".
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