Quanto uma empresa cria um produto, o objetivo é claro: torná-lo apetecível. Mais do que isso — irresistível e viciante. Esse pode bem ser o final final que qualquer negócio ambiciona, mas o facto é surgem cadavez mais eviências que a tecnologia, ou melhor algumas utilizações da tecnologia, não são exatamente um negócio como qualquer outro. Nomeadamente quando se trata de adolescentes e crianças que criam com grande facilidade dependências tecnológicas, fruto de uma utilização abusiva dos produtos.

As empresas tecnológicas devem medir o sucesso pela qualidade de tempo que os utilizadores têm com os produtos e não apenas pela quantidade de tempo gasto? Esta é uma pergunta que tem sido colocada por algumas vozes, menos que em Silicon Valley, a Meca da tecnologia e das maiores empresas desta área, isto não seja (ainda) motivo para preocupação. Por enquanto, o mais importante continua a ser a inovação, a capacidade de mudar o mundo. Mesmo que sob alerta que se pode estar a perder a noção das consequências.

No Fórum Económico Mundial, em Davos, este assunto esteve na ordem do dia. George Soros, investidor que detém ações do Facebook, foi taxativo:“algo muito prejudicial e talvez irreversível está a acontecer com a atenção humana na nossa era digital. Não é apenas distração ou vício; as empresas de redes sociais estão a induzir as pessoas a abandonar a sua autonomia”.

O presidente da Salerforce, Marc Benioff, foi mais longe e referiu que o Facebook devia ser regulado como, por exemplo, o tabaco: “Os cigarros são viciantes, não são bons para as pessoas”. Por isso, defendeu, também as redes sociais deviam ter regulamentação. Em outubro, funcionários de empresas como o Google, Twitter e Facebook disseram que os produtos que ali são projetados servem precisamente para viciarem: “as nossas mentes podem ser sequestradas”.

A Apple é outro dos grandes nomes nesta luta. Dois investidores defenderam que o uso de smartphones por adolescentes tem de ser controlado — passam demasiado tempo com os dispositivos interagindo com as respetivas aplicações. Por isso, defenderam, a Apple deve certificar-se que os seus clientes mais jovens crescem como adultos saudáveis - mas fiéis à marca.

Tony Fadell, co-criador do iPhone, não perdeu tempo a juntar-se à causa. “Apple Watches, Google Phone, Facebook, Twitter — ficaram tão bons em fazer-nos procurar por mais cliques que têm agora a responsabilidade de começar a ajudar a gerir os nossos vícios digitais em todos os usos”. A Apple diz que não está indiferente: quer acrescentar mais controlo parental ao iOS, embora não tenha adiantado explicações.

A discussão está a aberta e este é apenas o princípio.


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