Centro internacional de serviços financeiros, a antiga colónia britânica devolvida à China em 1997 é um atrativo polo para milhares de estrangeiros que procuram na cidade um local para viver. A Região Administrativa Especial é também uma das cidades mais seguras do mundo. Mas tudo tem um preço, a começar pela habitação.
Morar em Hong Kong não é barato. O mercado imobiliário está entre os mais caros do mundo, com os preços dos imóveis 18 vezes superior aos rendimentos médios dos cidadãos.
É, portanto, urgente procurar alternativas. Uma delas pode ser mudar alguns dos serviços básicos para cavernas. Isso mesmo. O governo está a incentivar uma série de empresas a deslocarem-se para o interior, não da cidade, mas da terra. O espaço subterrâneo e as encostas das montanhas podem ser a solução para a deslocalização de algumas instalações como as plataformas logísticas, centros de dados, reservatórios, laboratórios, parques de estacionamento ou até mesmo piscinas. Não está a visualizar como? Este vídeo dá uma ajuda.
O governo de Hong Kong lançou um plano diretor para potenciais locais, programa que recentemente ganhou um prémio da Associação Internacional de Túneis, em Paris, e está a trabalhar para mover outros serviços públicos para o espaço subterrâneo.
“Em Hong Kong, o principal motor [para o desenvolvimento de cavernas] é a questão da terra”, disse o arquiteto urbanista Edward Lo, citado pelo The Guardian. “Apenas 24% da terra pode ser potenciada em Hong Kong, tudo o resto são áreas montanhosas, que não são rentáveis para construir. Então, queremos transformar esse constrangimento numa oportunidade”.
O programa pode libertar até 1.000 hectares, sendo que a estação de esgotos de Sua Tin é o maior projeto até à data. São, até ao momento, 48 os potenciais locais subterrâneos. Sendo que que já há vários projetos construídos dentro das montanhas, incluido uma estação de tratamento de resíduos, um depósito de explosivos, um reservatório e estações de metros. A Universidade de Hong Kong, por exemplo, moveu o seu reservatório para uma colina próxima, em 2017, a fim de expandir o seu campus.
“As cavernas são uma boa forma de lidar com as instalações que tipicamente não desejamos no nosso quintal (nimby facilities), diz, citado pelo The Guardian, o geólogo e engenheiro chefe do Departamento de Engenheira e Desenvolvimento Civil, argumentando que os residentes são menos propensos a opor-se a projectos considerados desagradáveis se estes foram construídos debaixo de terra. “Se conseguimos mudar algumas instalações para cavernas, libertamos espaço precioso à superfície para outros usos: por exemplo a habitação”, defende.
No entanto esta ideia não é pioneira, em Oslo, na Noruega, em Helsínquia, na Finlândia, já é possível nadar em piscinas subterrâneas ou visitar bibliotecas construídas debaixo de terra.
Mas nem tudo corre de feição, alguns críticos argumentam que este tipo de deslocalização não é solução para as necessidades da cidade e que apenas resolve uma pequena parte do problema. De acordo com a Fundação Hong Kong, um think thank, a cidade precisa de 9.000 hectares para habitação e as cavernas apenas irão libertar apenas 1.000 hectares, isto se as estruturas já existentes à superfície se mudarem. A este argumento somam-se as dificuldades técnicas, o longo tempo até a sua conclusão e o investimento necessário.
Por outro lado, destacam-se as vantagens associadas ao reduzido consumo energético — as cavernas proporcionam espaços mais frescos, sem necessidade de recorrer tanto a ar condicionado, especialmente durante os verões quentes de Hong Kong — e os baixos custos de manutenção associados.
A urgência de popularizar este programa já levou à criação de uma mascote — o “Dr. Marmot —, uma toupeira, animal reconhecido pelas suas habilidades na construção de galerias subterrâneas.
A habitação nas cavernas é, para já uma ideia descartada.
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