O evento anual da APDC – Digital Business Community, que volta a decorrer em formato híbrido em 09 e 10 de maio, tem como tema “The Great Digital Tech Disruptions” e conta com o ex-ministro da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, como presidente deste congresso.

“Não vai encontrar nenhuma tecnologia ao longo da História da Humanidade que não pudesse ser mal usada”, começa por dizer Rogério Carapuça, em entrevista à Lusa em antecipação do congresso da associação, quando questionado sobre os desafios.

“Temos que usar cada vez melhor a tecnologia” e “qualificar cada vez melhor as pessoas para que saibam distinguir o que é um mau uso, o que é que é um bom uso”, pois “aquilo que as tecnologias de informação e comunicação de alguma forma permitem é, por serem precisamente tão transversais em todas as áreas da nossa vida e por mexerem numa coisa muito sensível, que é, de facto, a informação, exigem que as populações, todos nós, tenhamos um nível de qualificações tais que não só consigamos utilizar essa tecnologia, mas consigamos também interpretar aquilo que nos chega através dessa tecnologia”, considera Rogério Carapuça.

Para que “saibamos defender-nos das ameaças que a cibersegurança coloca e saibamos defender-nos também das ameaças de desinformação” que podem vir daí, argumenta.

Além disso, a tecnologia também é usada pelos Estados para afirmar as suas posições e pode representar “uma ameaça para a democracia” se não for bem usada pelas populações, porque as tecnologias também “são armas geopolíticas”, remata.

Pedro Siza Vieira sublinha que, “à medida que a tecnologia evolui ao longo de toda a Humanidade, as ameaças e os riscos às comunidades foram mudando”.

Atualmente, as tecnologias “invadem todas as esferas da nossa vida”, pelo que “estamos expostos a outro tipo de riscos e temos que investir para nos protegermos (…) desse tipo de ameaças e investir, obviamente em sistemas mais seguros para evitar que possam penetrar nos nossos sistemas, possam manipular, possam adulterar aquilo que nós fazemos”, aponta.

Mas também é preciso dar “formação muito maior aos cidadãos para saberem filtrar a informação que lhes chega, terem espírito crítico, saberem procurar as fontes que precisam encontrar, mediadores que façam também essa tarefa como os jornalistas e os membros da comunicação social, que podem ajudar as pessoas a navegar no meio da multiplicidade de informação que chega e que às vezes pode ser subvertida com fins maléficos”, salienta Pedro Siza Vieira.

“Nós nos vamos ter que adaptar, tal como no passado nos adaptámos”, refere, acrescentando que, agora, as ameaças são diferentes. “E, mais uma vez, vamos ser capazes de as enfrentar, não tenho dúvida”, salienta.

Rogério Carapuça defende, por seu turno, que é preciso “aproveitar bem a transformação digital”, aumentar a literacia “em todas as áreas” e a boa utilização da tecnologia.

Porque “a boa utilização das tecnologias pode (…) melhorar imenso a forma como as pessoas se dirigem ao Estado, conseguem obter serviços, conseguem interagir com ele e conseguem ser, no fundo, cidadãos de pleno direito de uma de uma democracia evoluída e baseada naquilo que a tecnologia nos pode trazer”, remata.

“Esperamos que o congresso possa dar exemplos” dos avanços que existem, “não basta apenas falar de teoria, é preciso mostrar exemplos concretos do que está a acontecer no terreno”, sublinha Rogério Carapuça.

O congresso tem tradução simultânea e no ano passado contou com 250 pessoas fora de Portugal a assistir, com “uma audiência média de 7.000 pessoas”, algo que não seria possível sem tecnologia.

“O grande desafio é ao mesmo tempo a grande oportunidade, acho que nós temos que ter a noção de que estamos num ponto bom para aproveitarmos todas as possibilidades que estas tecnologias digitais oferecem a Portugal”, salienta Pedro Siza Vieira.

Em primeiro lugar, Portugal tem “infraestruturas de telecomunicações que são das melhores da Europa, senão das melhores do mundo, ou seja, as nossas empresas, as nossas pessoas, a nossa Administração Pública tem ao seu dispor uma capacidade de transmissão de dados com enorme qualidade que nos liga ao mundo de uma maneira muito grande e numa economia que tem que crescer e que tem que ser cada vez mais, para poder crescer, dirigida a mercados globais, os serviços e os dados são muito importantes”, elencou, referindo ser esta a primeira vantagem do país.

A segunda “é que investimos imenso em educação nas últimas décadas” e “hoje em dia temos uma população jovem, já muito mais qualificada e muito melhor preparada para agarrar estas oportunidades”, e a terceira é que, no âmbito do desenvolvimento tecnológico, “ainda está muita coisa por inventar”.

Por isso, “diria que a grande oportunidade e um grande desafio é nós também sermos capazes de desenvolver casos de aplicação destas tecnologias que nos sirvam a nós e que possam ser vendidas ao resto do mundo”, conclui.