De Copenhaga chega o projeto da capital dinamarquesa para se tornar na primeira capital mundial neutra em emissões de dióxido de carbono. “O Plano Climático CPH 2025 foi criado pela autarquia de Copenhaga para garantir que se vai tornar na primeira capital neutra em emissões de carbono. Trata-se de uma cooperação estreita entre governo, empresas, instituições de conhecimento e os ‘Copenhageners’”, explica Oliver Hall, responsável pelos investimentos em tecnologia no âmbito desta iniciativa. Uma estratégia que assenta em quatro pilares: consumo de energia, produção de energia, mobilidade e iniciativas da gestão da cidade.
“Os cidadãos de Copenhaga são tão preguiçosos como qualquer um de nós …. 50% de nós apenas anda de bicicleta porque a cidade de Copenhaga o tornou rápido e fácil”.
Em 2018, a Dinamarca ficou em primeiro lugar no ranking do World Economic Forum referente ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional - além de ser um dos países com melhores níveis de satisfação das pessoas com o trabalho que desempenham. O país é igualmente referência nos rankings da Comissão Europeia respeitantes a justiça, igualdade e mobilidade social. Isto além de ter o mais elevado nível de confiança na sociedade da Europa, a diferença mais pequena entre empregabilidade entre homens e mulheres na OCDE. Não é por acaso que é alvo de estudo em vários domínios e, na opinião de Oliver Hall, “todas estas questões contribuem para uma atmosfera onde o planeamento focado nos cidadãos é mais importante que a tecnologia em si mesma”. E cita um ex-responsável pela pasta do Ambiente que dizia: “Os cidadãos de Copenhaga são tão preguiçosos como qualquer um de nós …. 50% de nós apenas anda de bicicleta porque a cidade de Copenhaga o tornou rápido e fácil”. Os efeitos desta opção são bastante concretos: mais bicicletas significa menos carros, que significa menos emissões de CO2 e um ar mais puro. Além de pessoas mais saudáveis, logo menos despesas de saúde para o Estado. “Andar de bicicleta fará de qualquer um no mundo uma pessoa mais feliz”, remata Oliver.
“Temos o duplo compromisso que mitigar os efeitos das mudanças climáticas e demonstrar que é possível combinar crescimento, desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida com emissões mais baixas de CO2”. O objetivo é remover por completo o atual nível de 1,9 milhões de toneladas anuais de emissões de carbono, sendo que desde de 2005 Copenhaga já alcançou uma redução de 38%.
Para o sucesso dos projetos que tem em curso, Copenhaga contou com várias parcerias. Oliver garante que são demasiadas para um só artigo mas lista algumas como o Energy-Lab Nordhavn, o novo sistema de iluminação pública em LED em Copenhaga, o sistema inteligente de transporte e o arranque dos carros a hidrogénio. E, claro, também o Copenhagen Solutions Lab que usa tecnologias inteligentes para gerar soluções a partir de dos recolhidos que servem a cidade e os seus cidadãos.
A semente das smart cities em Santander
O caso de Santander, em Espanha, é outro dos que será apresentado no TechDays. Juan Ramón Santana é um dos oradores convidados e traz para contar o projeto SmartSantander. “SmartSantander pode ser considerado a semente da iniciativa de smart cities em Santander. Começou como um projeto europeu, em 2010, com o objetivo ambicioso de ativar uma miríade de sensores na cidade em diversos ecossistemas como o ambiental, trânsito, mobilidade, etc”, contou ao SAPO24.
O SmartSantander contemplou duas abordagens: por um lado, oferecer novos serviços aos cidadãos suportados pelas mais recentes tecnologias e, por outro, providenciar um cenário real para testar soluções de smart cities. “Nesse sentido, vários projetos e iniciativas, como por exemplo atividades de co-criação envolvendo os cidadãos foram integrados na cidade de forma a melhorar os seus serviços”. Em Santander fala-se assim do “paradigma de smart city” para definir a articulação de todos estes conceitos, incluindo a estratégia de integração das novas tecnologias nos serviços tradicionais (como é por exemplo o caso da gestão de lixo).
Um dos termos técnicos usados quando se fala de cidades inteligentes é “testbed” aludindo às plataformas de suporte a um conjunto de tecnologias, ferramentas e teorias científicas que as permitem testar de forma rigorosa e transparente. Juan Ramón Santana, que é também um académico e investigador nestes domínios, traduz com exemplos práticos: “em certos domínios, como por exemplo redes wireless de sensores, novas tecnologias podem ser testadas emulando condições reais. No entanto, estas ferramentas são limitadas uma vez que não conseguem emular todos os cenários. Nesse sentido, “testbeds” fornecem acesso a ativações reais sob condições reais de execução. É o caso do SmartSantander”.
A forma como a gestão “inteligente” das cidades se converte em benefícios para os cidadãos pode acontecer em vários cenários. Mais diretamente na gestão mais eficiente da mobilidade - diminuindo, por exemplo, os engarrafamentos - e do estacionamento, mas também a um nível mais macro com a redução de custos com a iluminação pública ou no controlo da poluição. Os dados mostram também que quanto mais clara for a informação sobre os processos em teste ou implementação, mais os cidadãos se envolvem, o que é uma condição importante no sucesso das transformações que se realizam no espaço das cidades.
Outro dos projetos que subirá ao palco do TechDays é o de Dublin. Em 2016, a capital irlandesa associou-se ao projeto SmartImpact, uma parceria de dez cidades (na qual se inclui o Porto) que partilham experiências sobre processos para planear, gerir e financiar uma smart city. Dublin criou a partir daqui a iniciativa Smart Docklands. Michael Guerin, o gestor do programa, será um dos oradores no TechDays onde apresentará a operacionalização do projeto e os resultados alcançados.
E o facto é que a combinação de criatividade, inovação, tecnologia e ciência não para de surpreender. Há poucas semanas, Copenhaga voltou a ser palco de inovação com um projeto no bairro de Nørrebro: um pavimento que distribui a água em excesso da chuva de forma a poder regar as plantas das redondezas; e se sobrar água é armazenada até evaporar. O “Climate Tile”, assim se chama, foi criado pelo estúdio de design urbano Third Nature e além de ser usado no chão também pode ser aplicado em telhados. Nada se perde, nada se ganha, mas tudo está, realmente, em transformação.
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