Numa área tão competitiva como é a dos media, em que o conteúdo é rei e a batalha pela atenção dos subscritores é mais feroz do que um chacal faminto à procura de alimento, o anúncio na semana passada da conclusão da fusão entre a WarnerMedia e a da Discovery é uma daquelas de causar imenso burburinho. E há razões de sobra para isso.

É um negócio catalogado "improvável" em toda sua génese e o New York Times resume da melhor maneira o que passou: a Discovery, uma empresa de média dimensão que começou por ser um canal por cabo criado em 1985, tomou as rédeas de uma empresa com estatuto de Hollywood ao comprar a Warner Bros. à gigante de telecomunicações AT&T.

A intenção é cristalina como o mar das praias das Maldivas: crescer e olhar "olhos nos olhos" os dois mamutes do mercado (a Netflix e a Disney) através da Warner Bros. Discovery, que vai albergar uma enorme biblioteca com inúmeras séries, filmes e outros conteúdos originais.

  • WarnerMedia é a icónica marca de entretenimento de Hollywood que controla e detém os direitos das sagas Matrix, Batman, Harry Potter, além de tudo o é que da marca HBO (“Guerra das Tronos”, “O Sexo e a Cidade”) ou do famoso canal de notícias CNN;
  • Discovery é a dona de outros canais bem conhecidos como a Food Network, Travel Channel, Animal Planet, Eurosport, TLC ou até do OWN, canal de Oprah Winfrey nos EUA (só para citar alguns).

As duas empresas combinam operações de televisão, cinema e noticiários que atraem receitas de quase 50 mil milhões de dólares. E, juntas, formam uma das maiores empresas de comunicação dos Estados Unidos, que ao mesmo tempo surge como player a temer na guerra pelo streaming. Com este negócio, Netflix, Disney, Amazon e Apple têm agora um novo e feroz concorrente.

A fusão Discovery-WarnerMedia, no valor de 43 mil milhões de dólares, foi anunciada em maio de 2021 e recebeu ‘luz verde’ do departamento de justiça norte-americano em fevereiro. E o homem que orquestrou todo este negócio, David Zaslav (CEO da Discovery nos últimos 15 anos e agora CEO da Warner Bros. Discovery), acredita que este negócio vai criar a "melhor empresa de media do mundo".

Legado e futuro

Numa longa entrevista à Variety, Zaslav detalhou a visão daquilo que considera ser o sucesso para o futuro: atingir a meta dos 200/250 milhões de subscritores a nível mundial através de um conjunto de serviços de streaming (HBO Max, Discovery Plus e CNN Plus) e restaurar "o brilho do estúdio" da Warner Bros. (casa do Batman e do Harry Potter). Isto, ao mesmo tempo que ajuda a "criar uma nova narrativa" em Wall Street para o legado dos gigantes dos media.

O potencial e o motivo para negócio são evidentes uma vez que estamos a falar de duas marcas globais e que oferecem dois tipos de conteúdos distintos: uma mais ligada ao entretenimento familiar, com conteúdo focado na reality TV, programas da natureza ou culinária (Discovery); outro, cujo o foco reside em séries e produções de qualidade, sendo que ainda detém um estúdio com muita da história de Hollywood (HBO). Tudo isto somado e disponível numa só plataforma.

O próximo passo, ainda que não seja no imediato (HBO Max foi lançada há apenas dois anos e a Discovery Plus há pouco mais de um) deve passar por criar uma plataforma comum e colocar todos os conteúdos num só sítio. Zaslav explicou durante a entrevista à Variety que as pessoas têm a tendência para se fidelizarem mais a uma só plataforma do que tiverem que subscrever dois serviços diferentes. A importância deste ponto já se sabe: tudo gira em torno das subscrições.

De acordo com os dados revelados em janeiro, a HBO tem à volta de 73 milhões de assinantes a nível mundial e a Discovery 22 milhões, o que tudo somado coloca a fasquia abaixo dos 100 milhões globais. A concorrência, para já, encontra-se à frente: a Disney através dos seus 180 milhões de subscritores (os números aqui são aglomerados dos serviços ESPN+, Hulu e Disney+), a Netflix com 222 milhões.

Mas não se pense que esta fusão vai originar uma miríade de novos conteúdos e produções super caras para ganhar a atenção das pessoas (subscritores). Para 2022, por exemplo, a Warner Bros. Discovery vai gastar 20 mil milhões de dólares em conteúdos. O que é muito, claro, mas para se ter comparação a Disney está a fazer um forcing para ultrapassar a Netflix e vai gastar 33 mil milhões no ano fiscal de 2022, um aumento de 25 mil milhões face a 2021. (O IndieWire fez umas contas e calculou que as 7 maiores plataformas de streaming vão gastar este ano aproximadamente 50 mil milhões de dólares em conteúdo.

Estes números vão de encontro ao aviso deixado aos investidores por Zaslav – que liderou o negócio e que é um dos executivos mais pagos da indústria do entretenimento com uns reportados 247 milhões de dólares ganhos em 2021 – logo em fevereiro: a Warner Bros. Discovery não vai entrar em loucuras.

"O novo objetivo é competir com os principais serviços de streaming, não é entrar numa guerra de gastos", disse aos seus investidores em fevereiro. Ou seja, "Euphoria", "Succession" e o resto da prata da casa terão de ser suficientes para a garantir o crescimento da marca.

O que é compreensível ou não fosse a Discovery assumir 55 mil milhões de dólares em dívidas com o negócio, soma que estará sob pressão para começar a pagar… no imediato.

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