Sem nada em cena neste momento, mas com três projetos confirmados, a companhia lamenta o dia em que perderam a casa em dezembro de 2019.

"Esta é uma companhia fundada em 1947, numa altura de pós-guerra para a comunidade estrangeira, nomeadamente britânica, que estava cá", sublinha o chairman e ator da companhia, Martim Mesquita Guimarães.

Até 2019, a Lisbon Players tinha uma casa no Estrela Hall, no quarteirão inglês na Estrela, até este ser demolido. Começaram por ser uma companhia de teatro comunitário e hoje em dia dirigem-se cada vez mais para o público em geral.

Quando o governo inglês decide vender os terrenos do teatro em 2016, pediram imediatamente ajuda à Câmara Municipal de Lisboa (CML) para intervir, mas tal não foi possível e acabaram por perder o espaço anos mais tarde.

Passados 72 anos no mesmo espaço, estavam nessa altura sem casa e com uma pandemia à porta. Agora atuam em outros teatros da cidade e tentam fazer pelo menos quatro peças por ano, sendo que na Estrela faziam seis, representando uma garantia fixa de teatro em inglês em Lisboa.

"Há muitas companhias e arranjar acolhimentos. Está a ser cada vez mais difícil, as próprias companhias residentes de teatro têm dificuldades em dar respostas porque elas próprias não sabem se têm financiamento público ou não", refere Martim Mesquita Guimarães.

Há cinco anos que as conversações decorrem com a Câmara e não é arranjada uma solução. Enquanto esperam, lamentam que se esteja a perder "não só o legado da companhia, como também a missão desta, de oferecer teatro em língua inglesa, que com cada vez mais estrangeiros a viver em Lisboa acaba por ser uma pena". "O teatro tem a palavra como o seu objeto primário, portanto, é claro que teatro em português não serve para parte da população lisboeta", destaca o ator.

Além disso, aponta que apostar em companhias em inglês é também uma possibilidade de apelar aos turistas que estão de passagem por Lisboa e passam a ter um sítio onde podem ir ao teatro. "Queremos muito que a Câmara nos arranje um espaço, mas já estamos nisto há cinco anos", lamenta, lembrando o caso semelhante dos Artistas Unidos, a que foi dada outra atenção não apenas mediática como política.

Ao contrário dos Artistas Unidos, financiados em 40% pelo Estado, a Lisbon Players é uma associação cultural totalmente privada que vive há 80 anos de doações e das receitas de bilheteira para pagar aos atores. Já a direção trabalha em regime de voluntariado.

Além disso, ao contrário de outras companhias nacionais, a língua inglesa impede-os de ter acesso a zonas menos desenvolvidas do país e optam por permanecer na capital, onde o público domina mais a língua. "Se fosse uma coisa didática, uma coisa mais infantil, era bom se calhar para as crianças, mas a população geral se calhar não tem tanto interesse", reforça o responsável.

O facto de terem perdido o espaço próprio também os fez eliminar a possibilidade de criar eventos de convívio, que também os permitia angariar mais financiamento, no pátio do teatro. No velho Estrela Hall, organizavam-se eventos comunitários, churrascos e concertos. "Tínhamos uma casa. Alguém que chegava ao teatro tinha um sítio que os recebia e nós tínhamos uma forte comunidade", reforça.

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Nos últimos anos, esta comunidade tem vindo a ficar mais desmotivada: "Mais do que nunca, devia haver constantemente programação teatral em língua inglesa e é cada vez mais difícil para nós porque a estrutura está paralisada, e é cada vez mais difícil entrarmos nos teatros existentes. Temos tido muita sorte com alguns parceiros que nos acolhem todos os anos, como é o caso do Teatro do Bairro, e outros sítios onde temos vindo a ser acolhidos, mas também temos tido acolhimentos infelizes mesmo em estruturas financiadas pelo Estado", refere.

Apesar de tudo, os espetáculos continuam esgotados, dos mais mediáticos aos menos, tendo até conseguido fazer uma reposição. "A fome existe pelo teatro em inglês", diz Martim. "Não há consistentemente teatro em inglês. Às vezes, há pequenas coisas a acontecer num pequeno evento muito experimental, muito off, mas companhias acessíveis que ofereçam teatro em inglês somos só nós", acrescenta.

Uma política de castings abertos

Além da língua inglesa, a companhia sempre investiu em castings abertos, algo que não é comum no panorama do recrutamento de teatro em Portugal, que normalmente é feito por convite.

Além disso, como não existe um diretor artístico residente, abrem propostas de encenação para as peças da companhia numa tentativa de investimento em novas oportunidades no teatro. "Nós não sabemos quem mora em Lisboa e nos últimos anos nós temos vindo a descobrir atores incríveis que nós não conhecemos de lado nenhum, às vezes porque eles vieram para a cidade no mês passado".

"Há duas semanas, fizemos um casting e estavam lá atores sul-africanos, australianos, alemães, holandeses, pessoas do todo o lado. Eram atores formados, experientes e extraordinários que ninguém conhece porque não trabalham cá, mas são pessoas de alta qualidade e que só a língua inglesa os permite conseguir trabalhar", denota Martim Mesquita Guimarães.

"Lisboa ter um espaço que todos os dias oferece teatro, oferece espetáculos em língua inglesa, é uma missão para a cidade", reforça ainda.

Quando estavam na Estrela faziam também teatro mais experimental, algo que agora não é possível enquanto são acolhidos por outras estruturas. "Nós temos vindo a ser mais exigentes também com os encenadores e com os elencos que escolhemos, porque nós temos que garantir uma certa qualidade, quando na Estrela estávamos mais à vontade".

"As salas em Lisboa são todas salinhas"

Outro problema apontado pela companhia é o facto de, na sua maioria, as salas disponíveis em Lisboa serem pequenas. Existe o projeto 'Um Teatro em cada Bairro' da Câmara Municipal de Lisboa, mas que se revelou pouco relevante para companhias que enchem salas. "As salas em Lisboa são todas salinhas, e uma pessoa quando investe num espetáculo e quer ter retorno financeiro não tem retorno com 50, 60, 70 lugares ou mesmo 100", sublinha.

No caso da Lisbon Players, à falta de salas junta-se ainda o "estigma" de fazer teatro em inglês. "Os programadores do teatro questionam - 'Porque é que acabei de programar um espetáculo em inglês?'. - Como o público é tanto em Portugal, podemos fazer teatro em português, logo há certos teatros, chamados os mais mainstream, em que nós sabemos que não vamos sequer ser considerados pela questão da língua", refere Martim Mesquita Guimarães, isto mesmo tendo o espetáculo legendas.

"Nós todos os dias vemos séries de televisão e vamos ao cinema ver esses filmes em estrangeiro, e depois no teatro há um maior estigma", refere.

Quanto a próximos espetáculos ainda não podem revelar, mas vão começar em junho, tendo pelo menos três confirmados e dois por confirmar.

As novidades da companhia podem ser acompanhadas no site da mesma ou através das redes sociais como o Instagram, que tem sido um dos principais meios de divulgação utilizados, até para apelar ao público estrangeiro.

Afastada está a ideia de saírem de Lisboa em digressão, estando todos os esforços concentrados em tentar encontrar uma nova sede para programarem temporadas fixas na capital.