Apesar de ser um dos maiores concelhos de Portugal, Santiago do Cacém convida à descoberta do Sul, ao desbravar da costa costeira e ao conhecimento da leveza em estado puro. «Desengane-se se acha que ao partir para estas paragens vai encontrar um turismo massificado ou hotéis de “pulseira”», esclarece Rute Pinheiro, responsável Departamento de Sales Operations de uma multinacional em Lisboa, autora do blogue simplesmenteviajar.pt e natural de Santiago do Cacém. Rute adora viajar, para ela e a sua família é um «modo de vida» e o turismo que privilegia a experiência e o viver os locais é algo que aprecia e que sente que a sua terra proporciona.

Acrescenta que o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina entre S. Torpes e Burgau, sendo uma área protegida, «existem muitas regras relativamente à construção», o que permite manter ainda virgem a paisagem da planície alentejana. Oferece opções de turismo rural para “todas as bolsas” mantendo vivas as raízes tradicionais. «Há praias para todos os gostos, contudo o facto do acesso a algumas ser relativamente difícil, ainda é possível encontrar praias quase desertas, o que cativa muita gente», explica a nossa guia.

Se não for adepto de um turismo de massa e privilegiar a tranquilidade, toda esta faixa costeira é um «destino de eleição de praia». A praia preferida de Rute, já em Sines, está situada em pleno Parque Natural Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a Praia da Vieirinha ou da Pedra da Casca, esta opção também dá nome ao restaurante. Depois de alguns minutos em terra batida, deslumbramo-nos com um extenso areal com pequenas rochas no mar, que formam pequenas enseadas, «visitáveis na baixa-mar». Se não for pela palete de cores oferecida pelo azul do mar e do céu em comunhão com o dourado da areia e o castanho da vegetação, «o peixe fresco ou as cataplanas na esplanada de madeira» fazem as delícias do olhar e do gosto. «É preciso estarem marés vivas para dizermos que a praia está cheia», assegura Rute. Para além das distâncias agora mais do que nunca desejáveis, esta praia distingue-se pela qualidade balnear: foi galardoada já em 2020, com a Bandeira Azul da Europa e parte da rede de Praias de Ouro pela Quercus.

Um roteiro literário para inspirar uma visita a Santiago do Cacém

  • Livros de um escritor da terra

"O Fogo e as Cinza", de Manuel da Fonseca, edição: Editorial Caminho

Integrado no Plano Nacional da Leitura é um dos livros de contos mais significativos e marcantes da literatura moderna portuguesa. Apresenta um Alentejo dos anos 40 e 50, uma terra maravilhosa e que assistia lentamente ao progresso.

"CerroMaior", de Manuel da Fonseca, edição: Editorial Caminho

Cerromaior é o nome da (pequena) cidade onde decorre a acção do romance. É uma cidade imaginária, mas são notórias as semelhanças com a terra natal de Manuel da Fonseca, Santiago do Cacém. Aliás, o facto é referido pelo próprio logo no prefácio da obra «Cercado de cerros, que vão de roda em anfiteatro com o lugar do palco largamente aberto sobre a planície e o mar, o cerro de Santiago é de todos o mais alto. Daí o título: Cerromaior. Vila que me propus tratar...»
Este romance foi adaptado ao cinema por Luís Filipe Rocha em 1980.

"Balada da Praia dos Cães", de José Cardoso Pires, edição: Relógio D'Água

Estudou na Escola de Belas Artes e apesar de não ter sobressaído nesta arte, deixou alguns registos do seu traço sobretudo dos retratos que fez de alguns colegas da noite e tertúlia lisboeta, como é o caso do escritor José Cardoso Pires. Por esse motivo, sugerimos um livro deste seu amigo.

«Na Balada da Praia dos Cães, oferece-nos uma obra-prima mas, como os seus restantes livros, torna-se necessário um paladar exigente a fim de compreender isso. (…) Como tudo o que José Cardoso Pires nos deixou. Por favor leiam-no: é uma imensa prenda que darão a vós mesmos.» Do Prefácio de António Lobo Antunes

  • Para Menores de 18 anos

"Alentejo", de Sara Figueiredo Costa, edição: Didáctica Editora

Nesta coleção, apresentam-se algumas lendas de Portugal, organizadas por região, para que não nos esqueçamos do nosso riquíssimo património oral.

"Celeste & Làlinha, Por Cima de Toda a Folha", de José Cardoso Pires, edição: Relógio D'Água

«Sentadas ao portal, Celeste e Làlinha tinham à volta delas um campo de refugiados, casinhotos de cimento, ruas povoadas de galinhas, caixotes de porão às portas.»
É a comovente história em que José Cardos Pires nos fala de um regresso de África, o de Celeste e da sua boneca negra Làlinha.

"Os pescadores de nuvens", de Ana Lázaro; Ilustração: Sebastião Peixoto, edição: Porto Editora

Galardoado com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço - Literatura Infantil 2017.
Todas as manhãs de domingo, o Rodolfo Neto e o Rodolfo Avô subiam de mãos dadas a estrada da montanha, para lançarem papagaios de papel. Mas o voo dos papagaios escondia um segredo no fio que os ligava ao céu. É que, na verdade, o avô e o neto iam à pesca de nuvens!

"Lê lá, Lara! Destrava-línguas com a Natureza", de Maria Teresa Maia Gonzalez; Ilustração: Rita Duque, edição: Porto Editora,

Neste livro, brincando com a sonoridade das palavras e com o seu sentido, Lara e as crianças são convidadas à leitura e a deixar-se encantar pela Natureza.
A linguagem poética e o sentido de humor são as marcas destes textos, que constituem um desafio para os que ainda têm pouco treino de leitura e visam, também, proporcionar um exercício divertido, em casa e na escola.

Abrigada do vento e pincelada por tons rosa e amarelo das flores rasteiras, a Praia da Samouqueira também nos brinda com um vasto areal, que convida a passeios pelos diversos rochedos descobertos pela maré baixa e que recortam a costa ao longo de todo o seu comprimento.

Situada em Porto Covo, a aldeia merece uma visita pela zona pedonal nas horas quentes da tarde ou no dia em que decida visitar o postal ilustrado que dá pelo nome de Ilha do Pessegueiro, eternizada pela voz de Rui Veloso. É da atividade piscatória durante a época romana, por ter sido um centro pesqueiro dedicado à salga, que advém o nome da ilha do pessegueiro, dos termos piscatório (piscatorius) ou piscário (piscariu).

A pesca era e é uma das atividades da zona, «a acrescentar à agricultura em campos vastos e áridos», esclarece Cristina Pinheiro, Professora de História numa escola em Lisboa e natural de Santiago do Cacém. Acrescenta que «nunca foi uma zona rica, com condições de vidas muito difíceis, não só pelo calor, a juntar às longas distâncias que era necessário palmilhar para trabalhar». Filha de pai alfaiate e artesão, ávido de saber, viveu um estilo de vida, em que superou as diferenças sociais, se orgulhou da ruralidade e respetivos regionalismos. Um retrato típico da lavoura alentejana desde a reconstituição de uma cozinha alentejana, o quarto rural, a barbearia e alfaiataria e ainda a reconstituição de uma antiga sala da escola primária são visíveis numa visita ao Museu Municipal de Santiago do Cacém. Também a leitura sugerida por Cristina, o livro «Cerromaior» de um filho da terra, o escritor Manuel da Fonseca, sente a realidade alentejana do campo dos anos 40. Cerromaior é o nome de uma cidade imaginária, onde famílias de latifundiários dominam a cidade na “vila alta” e os mais pobres dedicados à terra, residem na “vila baixa”. Pensa-se que a cidade onde decorre a acção do romance, é Santiago do Cacém, pela unicidade desta cidade. É conhecida pelas suas colinas, pelas suas subidas e descidas e é num “altinho”, refere Cristina, que se situa o Castelo Medieval, numa posição dominante em tempos de Reconquista e miradouro que combina a infinitude da planície e do mar nos dias de hoje.

No reinado de D. Afonso II, Santiago do Cacém passa definitivamente para a posse de Portugal, e os terrenos são doados aos cavaleiros monges ou monges guerreiros da Ordem de Santiago. A partir deste período, a povoação passa a ser conhecida pelo seu nome atual, Santiago do Cacém. Mas não é só a Reconquista que marca esta zona, a presença romana é representada por um dos mais expressivos vestígios da ocupação dos romanos no Sudoeste de Portugal, as Ruínas de Miróbriga. Com uma extensão de 2 quilómetros, apresenta ruínas de edifícios de habitação, ruas pavimentadas, termas, uma ponte, um fórum e um hipódromo, até hoje o único identificado em Portugal. 

Marcada pela história e também pela modernidade, sabe-se que o primeiro automóvel, o Panhard & Levassor, chegou em 1895 a Portugal, mais propriamente a Santiago do Cacém, importado por D. Jorge de Avillez, um nobre da aristocracia rural desta cidade alentejana. Família da terra, é numa antiga quinta pertencente aos Condes de Avillez, que foi criado o Parque urbano do Rio da Figueira, onde piscina, parque de merendas, parque infantil, campos de jogos e circuitos de manutenção, convidam a uma entrega ao lazer e bem-estar no meio da cidade.

Sim, continuamos com a palavra-passe que embrulha toda esta zona, tranquilidade. Não é de espantar que é também aqui que se «inicia a Rota Vicentina que se distingue de outras rotas, por ser gerido por uma associação privada, que reúne mais de duas centenas de empresas locais, envolvendo-as nas suas diferentes atividades e do que sabem fazer bem, desde ao alojamento, comércio local, transportes, restaurantes, entre outras», sugere Cristina.

Nos dias que correm ainda faz mais sentido, o turismo responsável que a Rota Vicentina nos convida a viver: «viajar lenta e profundamente», de modo a emergirmos na experiência da região palmilhando caminhos de diferentes graus de dificuldade. Sempre devagar pode optar por saborear a vida no campo com o caminho histórico de Santiago do Cacém ao Cabo de São Vicente, um total de 13 etapas e 263 km, por caminhos rurais, onde o tempo, a cultura local e a natureza marcam o passo. Ou optar por um dos melhores trilhos costeiros do mundo, 226,5 km de costa a pé, pelas falésias, onde o mar e a sua brisa fazem companhia de Santiago do Cacém até Lagos.

Ponto de partida, Santiago do Cacém partilha com Sines, a Reserva Natural das Lagoas de Santo André, a maior lagoa do litoral alentejano com cerca de 500 hectares e da Sancha, que celebram o seu aniversário a 22 de agosto. É área protegida pelo valor ecológico dos ecossistemas aquáticos e marinhos, pelas aves que por vezes a visitam que convivem com os amantes de passeios pedestres e desportos náuticos neste cenário de beleza natural.

Manuel da Fonseca escreveu «E, quando o presente é feio e o futuro incerto, o passado vem-nos sempre a memória como o tempo em que fomos felizes.». Nós convidamo-lo a escrever um presente para que as memórias no futuro possam ser felizes e vividas natural e tranquilamente numa volta a Santiago do Cacém.

Este é um artigo da autoria de Rita França Ferreira do projeto Desculpas para Ler.