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Um início diferente da América

E se os pais fundadores dos EUA que assinaram a Declaração da Independência em 1776 fossem latinos e afro-americanos? Foi essa a premissa de Lin-Manuel Miranda, ator americano com origens porto-riquenhas, que escreveu a história e as músicas que compõem “Hamilton”, o musical que se tornou o maior sucesso da Broadway da última década. Além da versão ficcionada das origens da América, outro aspeto peculiar sobre esta peça é o estilo musical adotado - o hip hop. Todas as personagens avançam a sua narrativa “rappando” versos que se centram essencialmente nos seus ideais políticos e na forma como vêem o futuro do país que estão a tentar criar.

A personagem principal do espetáculo é Alexander Hamilton, protagonizado por Miranda, um imigrante vindo das Caraíbas que, depois de ter ficado órfão, foi para a América e fez todos os sacrifícios para se educar em diversos ofícios. Posteriormente, junta-se a um grupo de revolucionários anti-britânicos em meados do século XVIII, onde encontra um tal de George Washington, o general que, quer nesta versão ficcionada, quer na “história com H grande”, levou a que os EUA se formassem enquanto nação. Também caracterizado pela sua inteligência, mestria e capacidade de combate e liderança, Hamilton torna-se braço direito de Washington e terá um papel crucial na independência americana.

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Contudo, a subida na cadeia do poder não é feita sem um adversário. O seu  nome é Aaron Burr, um homem igualmente inteligente, que começa como mentor de Hamilton no início da sua carreira militar e política, e que depois fica progressivamente incomodado com o sucesso do seu aprendiz e da sua capacidade de contagiar outras pessoas com as suas ideias políticas e visão do mundo.

Em comparação com outro bonito espetáculo político que pudemos assistir na madrugada de quarta-feira, foi bom ver um palco com intervenientes capazes de debater perspetivas diferentes sobre rumos para um país de uma forma coerente, interessante e respeitadora. Enquanto no primeiro vimos interrupções e ataques pessoais constantes, em “Hamilton” podemos ver Alexander e Thomas Jefferson em modo “rap freestyle” para ver quem tem o melhor argumento. Eu sei qual é que prefiro, e tu?

  • Onde ver: a peça tem 2h40 e está disponível no Disney+.

 Quando a política não é só uma construção de Legos

A expressão “fazer castelos de legos” fez parte de todas as nossas infâncias antes dos smartphones e tablets se terem tornado num brinquedo mais apelativo para crianças a partir dos cinco anos. Com eles, podíamos criar uma réplica de todas as coisas que adorávamos: um barco de piratas, uma nave do Star Wars, a nossa casa do futuro ou apenas algo abstrato que só para nós fazia sentido.

A série “Borgen”, tal como os Legos, tornou-se na última década numa das exportações dinamarquesas mais famosas, chegando a audiências espalhadas pelo mundo inteiro, na onda de produções nórdicas que passaram a entrar no radar e ganhar reconhecimento de canais e de plataformas de streaming. Na sua essência, os dois acabaram por ter o mesmo efeito: permitiram tornar real algo que foi imaginado ou que passou pelos nossos olhos. Passo a explicar.

Até 2010, ano em que a série estreou a sua primeira temporada, a Dinamarca nunca tinha tido uma primeira-ministra. O país, que sempre foi considerado um dos mais avançados do mundo (e o mais feliz de acordo com várias publicações) tinha sido sempre liderado por homens, facto que levou Adam Price, criador de “Borgen”, a imaginar uma narrativa que levasse uma mulher a formar governo no parlamento, também conhecido por… Borgen (um diminutivo para o Palácio de Christiansborg, em Copenhaga, onde está localizado).

Assim nasceu a personagem Birgitte Nyborg, líder feminina do Partido dos Moderados que nas eleições de 2010, depois de uma sucessão de eventos, passa de um partido pelo qual ninguém dava nada para o único capaz de forma uma coligação para governar o país. Ao leme do país, Nyborg enfrenta desafios de consenso político com partidos parceiros, partidos de oposição e com os media, mas não só. No plano familiar, vai vendo o trabalho que sempre sonhou roubar-lhe tempo com as pessoas de quem mais gosta, tornando o “work-life balance” numa hashtag que provavelmente encontra apenas em posts de Linkedin.

Voltando à realidade, a 3 de outubro de 2011, uma semana depois de ter estreado a segunda temporada da série, Helle Thorning-Shmidt foi eleita a primeira primeira-ministra na Dinamarca, o que não deixa de ser uma coincidência enorme dado o sucesso que “Borgen” teve. Diversas publicações, apressaram-se a encontrar uma relação causa-efeito, mas os envolvidos na série sempre se afastaram de qualquer tipo de responsabilidades. Nada como testar a fórmula noutros países com séries do mesmo género e ver o que acontece.

  • Caras conhecidas: deverás reconhecer a atriz que faz de Birgitte como Theresa Cullen de “Westworld” e o seu assessor de imprensa como Euron Greyjoy uma das personagens maléficas de “A Guerra dos Tronos”.

 Pode uma série ser estúpida de forma inteligente?

Esta pergunta paradoxal pode ser respondida começando por explicar o argumento de “Billions”, série transmitida nos canais TV Cine. Imaginem dois homens: de um lado Bobby Axelrod (Damian Lewis), um bilionário, líder de um fundo de investimento que veio do nada e fez fortuna com uma aposta contra a economia americana nos mercados financeiros, na altura do atentado às Torres Gémeas; do outro Chuck Rhoades (Paul Giamatti), um dos principais procuradores-gerais de Nova Iorque, que sempre teve uma vida e uma educação abastada graças à riqueza que a sua família já tinha, e que sempre ansiou subir o máximo que conseguia na sua carreira política para poder provar que nem tudo lhe foi dado.

Axelrod entra em todo o tipo de esquemas para se manter interessado “no jogo” e continuar a aumentar a sua riqueza, desde insider trading a promiscuidade com políticos e negócios públicos; Chuck mascara-se como paladino da justiça, que quer condenar Axelrod e outros como ele mas, na realidade, qualquer perseguição que decide fazer é um movimento calculado consoante os ganhos políticos que isso lhe pode trazer.

Até aqui nada de estranho certo? Apenas dois homens privilegiados à procura de manter a sua vida interessante, cada um à sua maneira. Onde a história ganha contornos difíceis de aceitar (ao início) é com a personagem de Wendy (Maggie Siff), que simultaneamente é a maior confidente de Axelrod, trabalhando como terapeuta na sua empresa, e mulher de Rhoades. Compreendo que seja complicado conceber para quem está a ler, como é que uma série justifica o limbo em que esta personagem tem de andar numa história baseada no confronto entre duas personagens que lhe são igualmente próximas. É aqui que está a parte inteligente.

“Billions” não se leva muito a sério. Não está preocupada com grandes evoluções nas personagens nem com momentos de redenção. As personagens são como são e a forma como se modificam está sempre dependente dos planos que têm em mente. A série está muito mais preocupada em montar esquemas interessantes que nos agarrem ao ecrã e em ligá-los entre as diversas personagens, deixando um pouco de parte o seu desenvolvimento. Isto leva a que raramente haja “tempos mortos” e que, no meio de toda a carnificina, nos esqueçamos das coisas que se calhar não fazem assim tanto sentido.

  • Uma espécie de intervenção social: “Billions” não é, de todo, uma história que tenta marcar algum tipo de posição ou passar uma mensagem na agenda política, mas tornou-se na primeira série a incluir uma personagem regular não-binária (sem género definido) protagonizada pela atriz Asa Kate Dillon, que eventualmente se torna numa das protagonistas.
  • O que já disseram da série: as expressões que mais gostei vieram do The Guardian, que lhe chamou “the smartest stupid show on TV” (a série mais esperta a ser estúpida) e do San Francisco Chronicle, que a designou como “lixo com prestígio”.
  • Renovada: Com apenas sete episódios disponíveis da quinta temporada, que foi interrompida pela pandemia, foi ontem confirmado que, mesmo assim, teremos direito a uma sexta.
créditos: MadreMedia

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