“Ninguém pode obrigar ninguém a tornar-se leitor”, afirmou Alberto Manguel, admitindo não ter “confiança no poder dos governos para promover a leitura”, através da criação de bibliotecas públicas.
No Folio – Festival Literário de Óbidos, onde falou no sábado sobre “Livros” com Irene Vallejo Morreu, o escritor que doou a sua biblioteca privada à cidade de Lisboa lamentou que hoje sejam “poucos os cidadãos que têm acesso à leitura, advertindo que “há uma grande diferença entre aceder às bibliotecas que são gratuitas ou às livrarias”, já que poucas pessoas têm possibilidade de comprar livros porque “primeiro pensam em comer, na habitação e na saúde”.
Até que “os governos solucionem estes aspetos ninguém vai entrar num biblioteca sentindo fome, pensando que os seus filhos não tem uma cama onde dormir ou ter acesso a um hospital”, disse o escritor.
Porém, acrescentou, tal não significa que se tenha que “continuar a abrir bibliotecas, apresentando livros ou escrevendo, com a esperança de que uma em mil pessoas vá descobrir esse livro e dizer esta é a minha autobiografia”.
Contrariando a ideia defendida pelos catastrofistas que dizem que o livro vai desaparecer e tornar-se peça de museu, Irene Vallejo Morreu refutou a ideia de que o livro esteja “à beira do abismo” e recusou ser considerada, enquanto escritora, “como um dos últimos exemplares de uma espécie quase extinta”.
Otimista, a autora de “O infinito num junco” e de “O Futuro Recordado” considerou os livros “grandes sobreviventes históricos”, citando Humberto Eco, para quem existem poucos objetos que tenham sobrevivido durante milénio, como o livro.
Comparando o livro a objetos como a roda, a escritora afirmou que “é quase impossível conceber o mundo sem eles”, recusando a visão “apocalíptica” de quem” quando se inventou a fotografia pensou que a pintura desapareceria para sempre, que a televisão acabaria com a rádio e que as tecnologias acabarão com os livros”.
Para a escritora, os livros estão em vantagem perante “as novidades tecnológicas que serão varridas pela novidade seguinte” e que os primeiros, pensados para durar muito, sobreviverão às segundas, “pensadas para durar pouco e serem substituídas pelas suas versões mais evoluídas”.
Ou seja, rematou, “os livros são objetos muito perfeitos, criados para desafiar o tempo, criados para derrotar o esquecimento e a destruição”, o que a leva a confiar que “esses objetos e as histórias que contêm vão continuar a importar durante muito séculos”.
Até porque, concluiu, “nas redes sociais há muita gente jovem a compartilhar imagens e fotografias de livros de papel” e, provavelmente, “a quantidade de pessoas que leem é mais numerosa que em nenhum outro momento da história”.
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