Intitulado “Roubados”, o disco é composto por 12 fados, como “Oiça lá Senhor Vinho” (Alberto Janes), uma criação de Amália Rodrigues (1920-1999), que qualificou como “uma letra extraordinária do melhor que alguma vez se fez”, referindo que “as pessoas ficam mais presas à música, por ser mais folclórica e mais viva, e é uma homenagem à casa de fados onde canto, o Senhor Vinho”, em Lisboa.
O álbum inclui também “Vem” (Júlio de Sousa), de Lucília do Carmo (1919-1998), e “Não me Conformo” (Emílio Vasco/Jaime Mendes), também do repertório de Lucília, mas que foi pela primeira vez gravado por Carlos Ramos (1907-1969).
“Achei que era altura de fazer um tributo aos mestres do fado, cujos temas mais ouvi nas casas de fados, dos últimos anos, os chamados ‘clássicos’, e que são cantados pelas mais diversas pessoas; tentei fazer a biografia do meu percurso nas casas de fado que é a matriz do meu trabalho”, explicou a fadista em entrevista à agência Lusa.
Por outro lado, o disco, que é editado na sexta-feira, reflete a sua paixão pelo estudo dos repertórios fadistas.
“Nesta altura que tenho um espaço, não importa se maior ou menor, que é meu, no sentido em que a Aldina tem uma característica que é só minha, boa ou má, só há uma, e pensei, como na maior parte estes fados nunca os cantei, em estúdio vou experimentar cantá-los e dar a minha própria interpretação sem estar muito preocupada em ser fiel ou competir sequer com os originais, que são extraordinários, e isso está fora de questão”, disse, entre risos.
O disco abre com “Vendaval” (Joaquim Pimentel/António Rodrigues), que foi “um grande sucesso” de Tony de Matos (1924-1989), e inclui ainda “Fado da Sina” (Amadeu do Vale/Jaime Mendes), de Hermínia Silva, “Praia de Outono” (David Mourão-Ferreira/Nóbrega e Sousa), criação de Celeste Rodrigues (1923-2018) e, anteriormente, em versão canção ligeira, gravado por Simone de Oliveira.
Aldina Duarte, no disco “Mulheres ao Espelho” (2008), recuperou três fados dos repertórios das fadistas Maria José da Guia (1929-1992), Hermínia Silva e Lucília do Carmo, “mas a diferença” é que já os cantava ainda antes de ter repertório próprio.
Aldina Duarte, 52 anos, começou a cantar fado depois de ter ouvido Beatriz da Conceição (1939-2015), o que constituiu “a segunda revolução da sua vida, depois da do 25 de 1974″.
Também poeta, Aldina Duarte canta, fundamentalmente, letras suas, tendo já gravado poemas de João Monge, Maria do Rosário Pedreira e José Luís Gordo.
Do repertório de Beatriz da Conceição, Aldina canta “Veio a Saudade” (António Campos/Jorge Barradas), e outros fadistas escolhidos foram Maria da Fé, de quem canta “Porta Maldita” (Jorge Rosa/Fontes Rocha), Carlos do Carmo, “Padre Nosso” (Frederico de Brito/Armando Freire), um fado que terá sido criação de Ercília Costa, explicou, e ainda de Hermínia Silva (1927-1993), “Rosa Enjeitada” (José Galhardo/Raul Ferrão), fado também gravado por Maria Teresa de Noronha (1918-1993).
O alinhamento inclui ainda “Arraial”, de João Ferreira-Rosa (1937-2017), criação deste fadista, e “Senhora da Nazaré” (João Nobre), de Alberto Ribeiro (1920-2002).
“Este é, assumidamente, um disco só de fados musicados, só dos outros, num registo absolutamente diferente do que tenho feito que é o fado tradicional”, sublinhou a fadista que definiu “Roubados” como “um disco de passagem”.
Aldina Duarte afirmou que gosta de “arriscar”, faz parte da sua natureza, e acrescentou: “Às vezes é preciso sair da nossa zona de conforto, mesmo que seja para errar, também se aprende com os erros”
“Não me posso queixar de nada, tenho tudo o que preciso para fazer exatamente o que quero”.
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