O docente e historiador do Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa, referiu, em declarações à agência Lusa, que “o presidente Franklin D. Roosevelt nunca esqueceu os Açores” e, “na sua coleção, não tinha apenas uma pintura do arquipélago, mas duas”.
Além do quadro da baía de Ponta Delgada como recordação da sua estadia nos Açores enquanto subsecretário de Estado da Marinha, Rooselvet possuía um outro quadro, denominado “O general Armstrong rodeado pela frota britânica em Faial, Açores”, de Emanuel Leutze, adquirido em 1926, com “grande destaque na Casa Branca, enquanto foi presidente” dos Estados Unidos da América.
Em declarações à agência Lusa em 16 de outubro de 2018, Laura Roosevelt, neta do antigo presidente, que participou em Ponta Delgada no Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt, referiu que a paisagem e as pessoas dos Açores deixaram no seu avô uma "forte impressão", o que o fez querer ter uma imagem do arquipélago.
O quadro, que pretende assinalar a sua passagem pelos Açores numa escala a caminho da Europa, efetuada em 16 de julho de 1918, apresenta em primeiro plano o seu navio, 'USS DYer', atracado na maior cidade do arquipélago.
Uma réplica deste quadro, que depois Roosevelt levou consigo quando abandonou a Casa Branca, foi oferecida, segundo o professor universitário Mário Mesquita, ex-membro da FLAD - Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, por esta fundação ao presidente do Governo dos Açores de então, Carlos César.
O quadro a que alude agora o investigador Sérgio Rezendes, doutorado pelo Instituto de História Contemporânea, representa uma batalha que “ocorreu em 26 de setembro de 1814 na baía do porto da Horta, junto ao forte de Santa Cruz”.
De acordo com o historiador, comandado pelo capitão Samuel C. Reid, o navio 'General Armstong' foi alvo de três ataques por parte de três navios da ‘Royal Navy', que acabaram por o neutralizar.
Para o docente, a relação de Roosevelt com os Açores "era relativamente íntima, não tendo esquecido as ilhas sob diferentes formatos".
"Simultaneamente, o tempo que ele passa na Casa Branca, também faz-se cercar por obras que, de uma forma ou outra, envolvem os Açores", afirma, referindo que estas obras constam da fundação do presidente norte-americano.
Sérgio Rezendes considera que "o facto de Roosevelt ter uma destas obras sobre os Açores no seu gabinete de trabalho e outra numa das salas principais demonstra o interesse (geoestratégico) pelas ilhas, que é claramente evidente na defesa do território norte-americano durante a segunda guerra mundial".
"Roosevelt tinha para os Açores a mesma visão do Hawai, que foi atacado e originou a entrada na guerra dos Estados Unidos. O arquipélago do Pacífico representa a primeira linha de defesa dos Estados Unidos, daí o ataque japonês, e os Açores acabam por ter, do ponto de vista geoestratégico, exatamente a mesma importância, mas no Atlântico", afirma o especialista.
O investigador materializa com a instalação, durante o primeiro conflito mundial, de uma base aeronaval em Ponta Delgada, a passagem de Roosevelt a caminho da Europa pelos Açores, a par da "tentativa do almirante Dunn e de muitos militares norte-americanos que acharam, já em 1918, que a base deveria ser permanente".
Esta permanência "viria a ter lugar com a segunda guerra mundial e instalação dos americanos em Santa Maria, primeiro, e depois, quando o conflito terminou, na ilha Terceira (Base das Lajes), onde se mantêm até hoje".
"Ainda hoje, os norte-americanos mantêm estes meridianos de segurança, que representam a última, ou a primeira, fronteira do seu território físico: por um lado no Pacífico com o Hawai e, por outro lado, com os Açores no Atlântico", conclui o docente, que é também embaixador NATO na 'CIOR - Interallied Confederation of Reserve Officers' (Confederação Interaliada dos Oficiais da Reserva).
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