Publicado originalmente em 2021, “Caruncho” tornou-se um “acontecimento literário” e é uma das “grandes apostas” da editora, que descreve o livro como tendo um “estilo de escrita fabuloso”.
Este romance inaugura o projeto “Sementes de Dissidência”, criado no âmbito dos 45 anos da Antígona, que se assinalam em 2024, financiado pelo programa Europa Criativa, da União Europeia, que apoia a circulação, a tradução e a promoção de obras literárias europeias.
Com esta iniciativa, a Antígona vai levar cinco livros a “viajar pelo país”, ao longo dos próximos três anos, para chegar mais longe e a novos públicos.
“Num país de grandes assimetrias regionais e sociais no acesso ao livro, e num setor ainda cristalizado em moldes tradicionais de difusão, a Antígona lança estas ‘Sementes de Dissidência’, porque hábitos de leitura e livros que mudam vidas são fundamentais para uma cidadania mais consciente, numa altura em que aumentam os populismos, os discursos de ódio e a polarização da sociedade”, afirma a editora, em comunicado.
Os cinco livros escolhidos “vão estimular conversas e atividades no espaço público, em comunidades rurais no interior do país, em escolas, bibliotecas municipais e livrarias, entre adolescentes, pessoas idosas e grupos vulneráveis, como a população prisional e mulheres marginalizadas”.
O primeiro, “Caruncho”, traduzido por Guilherme Pires, narra o regresso de uma neta, acusada de um crime, à casa rural da família, e mergulha o leitor no coração de uma Espanha vazia, marcada por resquícios do franquismo, uma terra tão agreste e estéril como o destino a que condena as mulheres que nela vivem.
Contada a duas vozes, pela jovem e pela avó, esta história de rancor e vingança é indissociável da memória do lar assombrado, de espetros que clamam justiça, entre quatro paredes, sobre as quais pesam traumas herdados e décadas de violência e opressão.
Segundo a editora, este “aclamado romance de estreia”, tem “ecos de ‘Pedro Páramo’, de Juan Rulfo, e de alguns contos de Silvina Ocampo, em que se entrelaçam terror, injustiça social e uma pesada herança familiar que, como o caruncho, corrói as protagonistas”.
Nas palavras da escritora Alana S. Portero, este é “o livro das miseráveis e das infelizes que dizem basta”, enquanto Mariana Enríquez o descreve como “uma casa de mulheres e sombras, feita de vingança e poesia”.
Para escrever “Caruncho”, Layla Martinez inspirou-se em crenças populares e na história da família materna, oriunda da região de Cuenca, onde a repressão franquista foi particularmente dura.
Os próximos livros a circular serão “Niels Lyhne”, de Jens Peter Jacobsen, com tradução de Elisabete M. de Sousa, “A Parede”, de Marlen Haushofer, traduzido por Gilda Encarnação, “A Pequena Comunista que Nunca Sorria”, de Lola Lafon, com tradução de Luís Leitão, e “A Verdade e Outros Contos”, de Stanislaw Lem, traduzido por Teresa Fernandes Swiatkiewicz.
São romances que abordam questões como a ecologia e a consciencialização ambiental, a instrumentalização e a invisibilidade da mulher, a conformidade social e a luta contra o patriarcado.
Para a circulação dos livros, a Antígona trabalhará com associações locais, de norte a sul do país, hábeis no desenvolvimento de atividades culturais em comunidade, na dinamização da leitura e na formação de públicos.
As parceiras nesta viagem são a Aletria – Biblioteca Itinerante (Almada), a Boa Criação (em Corte da Velha, Mértola, em parceria com a Universidade Sénior), a Regenerativa – Cooperativa Integral (Odemira), a Livraria das Insurgentes (Lisboa), a Dar a Mão (Lisboa), a Rural Vivo (Campo do Gerês) e projetos artísticos como a estrutura Cassandra, fundada pela atriz Sara Barros Leitão.
As “Sementes de Dissidência” chegarão também a várias escolas e contam com a colaboração de diversos institutos e embaixadas.
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