“Estamos na fase de submissão da documentação. Acreditamos que daqui a seis meses estaremos a celebrar Molelos no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial”, afirmou.

Durante a cerimónia de apresentação da candidatura, Celeste Afonso realçou que as peças de barro negro de Molelos são um bem material, mas que pressupõem um “saber fazer”.

“O que estamos a classificar não é o barro negro de Molelos, é o processo de fabricação, é o saber fazer para chegarmos a este bem material”, esclareceu.

Apesar da importância de “todo o saber fazer ao longo dos séculos”, Celeste Afonso disse que, “se a tradição não se adaptar ao presente, ela morre e deixa de ser transmissível”.

“Ou então passamos a ter uma tradição numa redoma, num museu. Não é isso que queremos”, afirmou, considerando fundamentais “gestos ancestrais que se transformam em contemporaneidade”, razão pela qual o município avançou para este inventário.

Celeste Afonso considerou heróis os oleiros de Molelos que, há 30 anos, “souberam olhar para o barro, honrar o que os seus antepassados tinham feito e dizer: ‘nós queremos fazer disto profissão'”.

Molelos tem sete oleiros (entre os quais duas mulheres) que se dedicam exclusivamente a este ofício e que ficarão registados como “os detentores do saber fazer”, acrescentou.

A presidente da Câmara de Tondela (distrito de Viseu), Carla Antunes Borges, considerou que o barro negro de Molelos não seria o que é hoje “se não estivesse associado às pessoas, às tradições, aos costumes, à comunidade”.

“A argila, por si só, tem algumas características diferentes da dos outros locais, mas aquilo que verdadeiramente diferencia o nosso barro negro é a forma como ele é confecionado, como ele é cozido, e o processo da cozedura, a soenga”, referiu.

A autarca aludiu também ao conhecimento “transportado ao longo dos séculos, ao longo de gerações, de família em família, quase em segredo, nalguns casos, com algumas disputas até, mas sempre num objetivo de construir algo maior”.

No seu entender, a candidatura “vai colocar o barro negro num patamar de excelência”, fazendo votos para que “seja um processo célere”.

“Este processo vai ser a cereja no topo do bolo porque a certificação do processo de fabrico está concluída e o que nós queremos agora é conferir-lhe a dignidade de classificação de património imaterial”, explicou Carla Antunes Borges.

A candidatura prevê a constituição de um arquivo documental dedicado ao barro negro e aberto à consulta de investigadores e de outros interessados, que terá sede no futuro Story Centre do Barro Negro.

No que respeita à transmissão de conhecimentos, é proposta, nos cursos profissionais do ensino secundário, a abertura da opção de técnico de olaria, sendo a componente de formação em contexto de trabalho realizada nas olarias de Molelos.

A construção do Story Centre do Barro Negro, a produção de uma brochura com receitas confecionadas em barro negro e a elaboração de uma carta de princípios éticos que preserve os métodos tradicionais de produção de barro negro são outras iniciativas previstas.

A diretora Regional de Cultura do Centro, Susana Menezes, considerou que candidaturas como a do processo de fabricação do barro negro de Molelos são “um primeiro e muito necessário ato de preservação e de valorização do património cultural imaterial e, consequentemente, também uma valorização e preservação das múltiplas memórias e identidades que formam os territórios”.

A apresentação da candidatura decorreu hoje, em Tondela, durante as comemorações do quinto aniversário da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica.

Pela primeira vez, a associação entregou distinções – Medalhas de Cerâmica – a representantes do mestre Manuel Cargaleiro e da ceramista Rosa Ramalho (a título póstumo). O técnico e investigador natural de Tondela Hélder Abraços e a empresa CS Coelho da Silva, de Porto de Mós, receberam menções honrosas.