“Cada vez temos mais situações, que chegam nos processos de promoção e proteção de menores” às comissões e aos tribunais, de adolescentes “com comportamentos disruptivos, com fugas de casa, com roubos”, em que “os pais acabam por dizer que sentem que não são capazes de fazer nada dos seus filhos”, disse Neuza Patuleia.
A investigadora explicou que são casos de violência filioparental, em que os filhos adquirem “controlo e poder na relação com os pais”
Este comportamento envolve ameaças, intimidação e outros comportamentos desajustado que visam adquirir o que o jovem pretende, seja bens ou “uma maior liberdade”.
Nestes casos, “a hierarquia familiar acaba por ficar subvertida”, disse Neuza Patuleia, explicando que esta relação pode provocar danos físicos, psicológicos, emocionais e até financeiros.
Apesar dos dados apontarem para o aumento do fenómeno, “é uma violência que está muito camuflada”, porque os pais têm dificuldade em perceber que “estão a viver uma dinâmica relacional violenta, em que se sentem inibidos de exercer a sua posição parental”, explicou a investigadora, que participou hoje, em Lisboa, na conferência "Violência Doméstica e Alienação Parental".
Mas também os próprios profissionais “têm dificuldade em perceber que não se trata de um problema dos jovens”, nem dos pais, “mas de um problema relacional que foi crescendo e tomando lugar naquela dinâmica relacional”.
A psicóloga e terapeuta familiar contou que nas entrevistas que realizou com jovens para a sua investigação, houve alguns que disseram que fazem tudo o que querem dos pais e que são eles que mandam em casa.
“Os miúdos têm consciência que têm domínio sobre os pais”, mas “não têm consciência dos danos efetivos que isto lhes provoca no seu desenvolvimento, nem sequer têm maturidade para perceber isso”, sublinhou.
Para intervir nestas situações, Neuza Patuleia defendeu que não se pode “apontar o dedo aos pais”, porque isso só levará “a maiores sentimentos de culpabilização”.
“Estes pais fazem o melhor que podem na relação” com os filhos, a questão é perceber o que contribuiu para esta dinâmica relacional, atuar na prevenção destes casos e ajudar as famílias.
Mas nem sempre as famílias encontram a ajuda adequada devido ao sistema ter dificuldade em compreendê-las.
Quando pedem ajuda “acabam por sentir uma maior culpabilização, uma maior vergonha e ainda se sentem mais sozinhas, porque conseguiram pedir ajuda e, em vez de consegui-la, estão a ser condenadas por si próprias e pelos outros”.
“O caminho que temos a fazer é de sensibilizar a comunidade e os profissionais para esse tipo de violência e ajudar a construir um referencial de entendimento sobre esta situação” para apoiar eficazmente as famílias.
Segundo a investigadora, este fenómeno é transversal a todas as classes sociais, mas a investigação aponta para uma maior prevalência nas classes média e média-alta.
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