Nesta primeira etapa do ciclo, participam António Valdemar, que falará sobre o percurso do autor de “A farsa”, “da Foz do Douro à Academia das Ciências”, depois haverá um segundo olhar, de Isabel Cristina Mateus, “Sobre o Muro, o Espanto: Húmus e Grotesco em Raul Brandão”, e um terceiro, de José Manuel Vasconcelos, que falará sobre “o escritor e a literatura europeia”.

Em declarações à agência Lusa, José Manuel Mendes, presidente da APE, realçou que Raul Brandão (1867-1930), autor de “Os Pescadores” e de “A Morte do Palhaço”, “tem encontrado novos leitores”.

“Raul Brandão tem vindo a ser reeditado, tem encontrado novos leitores, e o período de limbo que viveu até há uns anos tem vindo a ser superado, até por mérito de alguns académicos e professores universitários, que a ele têm regressado com teses assombrosas”, disse José Manuel Mendes, que citou a tese de doutoramento de Maria João Reynaud, autora de “Metamorfoses da Escrita: ‘Húmus’ de Raul Brandão”, que qualificou como “verdadeiramente inovadora e muito forte”.

O ciclo, que se polonga até 10 de julho, é coordenado por Luís Machado, e a segunda etapa, a 03 de julho, realiza-se na Cinemateca Portuguesa, também em Lisboa, em que serão abordadas as várias adaptações feitas de obras de Raul Brandão ao cinema.

Entre essas obras, Luís Machado destacou “O Gebo e a Sombra”, de Manoel de Oliveira, bem como a série “As Ilhas Desencantadas”, de Vicente Jorge Silva, e ainda “dois ou três bons documentários, nomeadamente, o de João Canijo, ‘Raul Brandão era um bom escritor’, um de António Faria, um programa do [historiador] José Hermano Saraiva, e o filme ‘Cinzas’, de Luís Filipe Rocha”.

Esta sessão na Cinemateca conta com a participação do crítico cinematográfico João Lopes e das atrizes Maria Amélia Matta, que encarnou a personagem Sofia, na peça “O Gebo e a Sombra”, em 1985, no Teatro Nacional D. maria II, e Leonor Silveira, que encarnou a mesma personagem, no filme de Manoel Oliveira.

Nesta sessão serão exibidos o documentário de João Canijo e a longa-metragem de Manoel de Oliveira.

Na opinião de Luís Machado, uma das facetas mais esquecidas de Brandão, e que “urge reativar”, é a de dramaturgo e justificou: “‘O Gebo e a Sombra’, a sua obra mais emblemática, não tem conhecido grandes reposições, a última vez terá sido em 1985, no D. Maria II”, com Rogério Paulo, Eunice Muñoz, Carlos Daniel, Barroso Lopes, Fernanda Alves e Maria Amélia Matta.

A terceira e última etapa, no dia 10 de julho, intitula-se “Raul Brandão, Viagem pelo Teatro”, e realiza-se no Teatro Nacional D. Maria II, sendo protagonizada pela investigadora Maria Helena Serôdio. Alguns atores lerão excertos do III ato de “O Gebo e a Sombra” e vão fazer a leitura completa da farsa “O Doido e a Morte”.

José Manuel Mendes sublinhou que “é fundamental que escritores extraordinários como Raul Brandão”, sejam lembrados e a sua obra debatida “além das datas comemorativas redondas”, como aconteceu no ano passado, por ocasião do 150.º aniversário do autor de “Os Pobres”.

Mendes defendeu que Raul Brandão, militar de carreira e defensor dos ideais republicanos, “tem um lugar muito singular na literatura portuguesa”.

Raul Brandão nasceu na Foz do Douro, no Porto. Depois de uma curta passagem como “ouvinte” no curso de Letras da Universidade do Porto, matriculou-se na Escola do Exército e seguiu, a contragosto, como fez notar Luís Machado, carreira militar, especialmente nos gabinetes do então Ministério da Guerra.

Paralelamente, publicou ficção e colaborou no semanário O Micróbio e nas revistas Brasil-Portugal, Revista Nova, Serões e na Homens Livres, já no final da vida.

Tendo sido destacado para o Regimento de Infantaria 20, em Guimarães, acabou por ali casar e estabelecer residência, na Nespereira, nos arredores da cidade. Ao longo da vida deslocou-se várias vezes aos Açores e fez prolongadas estadas em Lisboa, até por compromissos literários.

A sua estreia literária foi em 1890, com “Impressões e Paisagens”. Entre outros títulos, como “O Avejão”, peça de teatro publicada em 1929, publicou com Teixeira de Pascoaes, em 1917, “Jesus Cristo em Lisboa”.

“O Pobre de Pedir”, “Vale de Josafat”, “O Mistério da Árvore”, “El-Rei Junot” e “A Conspiração de 1817″ são outros títulos da obra de Raul Brandão.

Com a mulher, Maria Angelina Brandão, escreveu “Portugal Pequenino”, um retrato do país para os leitores mais novos, que se encontra entre as suas derradeiras obras.

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