Entre apontamentos humorísticos, uns melhor conseguidos que outros, e algumas "bocas para barulho" alusivas à polémica que levou à desistência de Diogo Piçarra, Guimarães, berço da nação, coroou Cláudia Pascoal como a grande vencedora da edição número cinquenta do Festival da Canção. Composta por Isaura, "O Jardim" será a representante de Portugal na Eurovisão.

À semelhança do que aconteceu com Salvador Sobral, o site especializado WiwiBloggs, um dos mais influentes no que à Eurovisão se trata, revelou na passada quinta-feira que "O Jardim" seria o seu favorito à vitória no Festival da RTP. E acertou, pela segunda vez.

"Agora que não estás. Rego eu o teu jardim"

"O Jardim", explica Isaura, foi escrito para recordar a avó que perdeu há cerca de um ano, de quem era muito próxima. É um tema que canta o que as saudades deixam por dizer. A canção fala de um jardim específico, o da avó de Isaura. Mas quem a ouvir pode encontrar nos seus versos a(s) sua(s) flor(es). A memória cultiva-se. A memória canta-se. Depois de levar à Eurovisão um tema que nos diz para amar, em Lisboa vamos recordar — pela Isaura, por todos e pelos nossos.

Como na segunda semifinal, onde o tema arrecadou os 10 pontos do júri e do televoto, a compositora acompanhou a intérprete em palco. Em Guimarães ou nas redes sociais, em palmas ou em tweets, Cláudia e Isaura mereceram a atenção do público. Algo que vinha acontecendo desde que a estação pública revelou o excerto de 45 segundos de "O Jardim",  uma música nostálgica e melancólica, que vai beber à eletrónica a sua matriz.

De acordo com a bio disponibilizada pela RTP, Cláudia Pascoal vem de Gondomar, faz edição de vídeo para vários youtubers e tem dois projetos distintos: um a solo com baladas e outro com uma banda de originais em inglês. Aos 23 anos participou no concurso de talentos da RTP, The Voice Portugal. Antes, foi apresentadora do programa Curto Circuito, na SIC Radical. Numa entrevista recente ao Observador resumiu-se como "uma miúda que muda de carreira de meio em meio ano e muda de cabelo de semana em semana". Conta ainda que o convite de Isaura surgiu por Facebook e que chorou no momento que o recebeu — diz ser conhecida por ser uma chorona.

Recorde aqui a atuação e veja as representantes com o troféu, dado para as suas mãos por Luísa Sobral:

No Facebook Isaura agradeceu e diz estar sem palavras:

A grande final

Com apresentação de Filomena Cautela e Pedro Fernandes, quem deu o pontapé de saída foi Jon Ola Sand. O supervisor da Eurovisão subiu ao palco do Multiusos de Guimarães para abrir o desfile das canções finalistas e piscar o olho ao evento de maio. Dezassete anos depois, o evento saiu da capital; uma fórmula que a RTP promete repetir nos próximos três anos. Um palco de dimensões eurovisivas que não foi demasiado grande para a música portuguesa.

Cerca de três mil pessoas lotaram o Pavilhão Multiusos para ver, ouvir e apoiar os intérpretes finalistas. Sem bananas mas também sem grandes novidades relativamente às atuações das semifinais (Peu mudou de casaco, atenção), os 14 temas desfilaram a um ritmo "vamos lá despachar isto que o queremos é chegar às votações".


Recorde aqui todas as atuações e as as melhores imagens


E à semelhança das semifinais e de outras edições, o Festival prestou homenagem aos nomes que ajudaram a escrever uma história que já conta com 53 anos.

Nascidas na década de 80, pela mão de Tozé Brito, as Doce foram a primeira girl band nacional (e uma das primeiras da Europa). Eram Fá (Fátima Padinha), Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo, mas esta noite foram Catarina Salinas, Marta Ren, Selma Uamusse e Ana Bacalhau. Num medley tributo composto pelos temas "Ali-Babá", "Ok-Ko", "Quente, Quente, Quente", "Amanhã de Manhã" e "Bem Bom", com o qual venceram o Festival em 1982, impossível foi não dançar.

Simone dispensa apresentações, mas não lhe foram poupados elogios (nunca demasiados). "Sol de Inverno", na voz de Áurea, "Apenas o meu povo", na voz de Marisa Liz, e "Desfolhada", na voz da própria — quarenta e nove anos depois de a ter cantado nesse mesmo palco. Um momento emotivo a que poucos ficaram indiferentes.

Quem assistiu à gala teve ainda oportunidade de ouvir, em primeira mão, "Maria do Mar" na voz de Luísa Sobral. E por falar em Sobral, ficou a faltar Salvador e "Amar pelo Dois" nesta passagem de testemunho.

A votação

"O Jardim", da autoria de Isaura, foi a canção mais pontuada, por acumulação de votos atribuídos pelo júri regional e pelo público (através de televoto). "Para Sorrir Não Preciso de Nada", de Catarina Miranda, foi a canção mais votada (12 pontos) pelo júri regional.

Na grande final o processo de votação é diferente das semifinais. O vencedor é encontrado através do televoto (50%) e de um júri regional (50%), constituído por representantes das cinco regiões de Portugal Continental (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e das duas regiões autónomas (Madeira e Açores).

Votação do Público

  • 12 pontos - O Jardim, Cláudia Pascoal
  • 10 pontos - Para sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda
  • 8 pontos - Só por ela, Peu Madureira
  • 7 pontos - Para te dar abrigo, Anabela
  • 6 pontos - (Sem título), Janeiro
  • 5 pontos - O voo das cegonhas, Lili
  • 4 pontos - Sem medo, Rui David
  • 3 pontos - Sunset, Peter Serrado
  • 2 pontos - Patati Patata, Minnie & Rhayra
  • 1 ponto - Bandeira azul, Maria Inês Paris

Votação do Júri Regional

Norte, dadas pelo escritor Valter Hugo Mãe

  • 8 pontos - Para sorrir não preciso de nada, Catarina Miranda
  • 10 pontos - O jardim, Cláudia Pascoal
  • 12 pontos - Só por ela, Peu Madureira

Centro, dadas pelo músico David Fonseca

  • 8 pontos - Sem título , Janeiro
  • 10 pontos - 13 - O jardim, Cláudia Pacoal
  • 12 pontos - Para Sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda

Lisboa, dadas pela cantora Marta Hugon

  • 8 pontos - Anda estragar-me os planos, Joana Barra Vaz
  • 10 pontos - O jardim, Cláudia Pascoal
  • 12 pontos - Para sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda

Alentejo, dadas pelo jornalista Adelino Faria

  • 8 pontos - Só por ela, Peu Madureira
  • 10 pontos - O jardim, Cláudia Pascoal
  • 12 pontos - Para sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda

Algarve, dadas pela cantora Vivianne

  • 8 pontos - Para sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda
  • 10 pontos - Só por ela, Peu Madureira
  • 12 pontos - O jardim, Cláudia Pascoal

Açores, dadas pelo radialista Tiago Ribeiro

  • 8 pontos - Zero a Zero, Joana Espadinha
  • 10 pontos - Anda estragar-me os planos, Joana Barra Vaz
  • 12 pontos - Sem título, Janeiro

Madeira, dadas pela cantora Joana Machado

  • 8 pontos - Sem título, Janeiro
  • 10 pontos - Anda estragar-me os planos, Joana Barra Vaz
  • 12 pontos - Para sorrir eu não preciso de nada, Catarina Miranda

A caminho da Eurovisão

Em maio, já em Lisboa, a composição de Isaura, interpretada pela própria e por Cláudia Pascoal, vai ser a voz de uma nação que depois da vitória de Salvador Sobral em 2017, a primeira de Portugal, voltou a fazer as pazes com o Festival da Eurovisão.

O evento vai contar com a presença de 43 países a concurso – o maior número de sempre, facto que só aconteceu duas outras vezes, em 2008 e 2011.

Para a 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, realizado pela União Europeia de Radiodifusão (EBU) em parceria com a RTP, são esperados mais de dois mil profissionais relacionados com a iniciativa e 1.500 jornalistas, além de 30.000 fãs e visitantes.A partir de 4 de maio, a Praça do Comércio irá transformar-se na Eurovision Village (aldeia da Eurovisão), que estará de portas abertas diariamente até 13 de maio, entre as 15:00 e as 23:00, e onde haverá espetáculos ao vivo, um ecrã gigante onde serão transmitidas em direto as semifinais e a final, animação de rua e outras atividades. A festa irá fazer-se também numa discoteca na zona ribeirinha, que toma o nome de Eurovision Club.

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