Depois de ter conquistado, em 2018, o Leão de Prata da Bienal de Veneza dedicada à dança, a coreógrafa de 42 anos, nascida no Mindelo, em Cabo Verde, surge em destaque, junto a outros artistas premiados, como o coreógrafo Botis Seva, a encenadora Marie Schleef ou os cineastas Rungano Nyoni e Eduardo Williams.
Cada um dos 10 artistas vencedores irá receber 100 mil euros, recursos com os quais a Chanel pretende apoiar a inovação nas artes e na cultura “uma geração emergente de criadores dispostos a arriscar”, através de “projetos ambiciosos” e “ideias visionárias, testando novas formas de criação artística e de colaboração transdisciplinar”.
Marlene Monteiro Freitas, que tem base em Lisboa, mas tem apresentado os seus espetáculos internacionalmente, irá também receber – tal como os outros premiados – acesso a programas de mentoria e a oportunidades de ´networking´ para que “aprofundar o impacto do seu trabalho pioneiro”, segundo a marca.
A Chanel descreve a bailarina e coreógrafa como uma artista “conhecida pela sua presença eletrizante e uma estética poderosa influenciada pela tradição carnavalesca da sua ilha natal”.
“Monteiro Freitas centra o seu trabalho em temas de abertura, impureza e intensidade, dando forma a gestos e palavras difíceis de exprimir e obrigando o seu público a olhar de forma diferente. O seu trabalho explora metamorfose e deformação e confronta o público com o paradoxo de suas múltiplas personalidades”, acrescentou a empresa.
A organização recordou ainda que “foi reconhecida internacionalmente pelos seus feitos culturais”, incluindo uma distinção pelo governo de Cabo Verde (2017), o Leão de Prata de Dança da Bienal de Veneza (2018) e, mais recentemente, o Prémio de Melhor Espetáculo Internacional de Les Prémis de la Critica d’Arts Escéniques de Barcelona (2020), em Espanha.
Nesta edição do prémio foram ainda distinguidos o cineasta e produtor chinês Wang Bing, a artista não-binária nigeriano-britânica Precious Okoyomon, o compositor sul-coreano Jung Jae-il, o colectivo Keiken, e o ‘designer’ de videojogos sudanês Lual Mayen.
O júri foi composto pela atriz Tilda Swinton, pela artista multimédia Cao Fei, e pelo arquiteto David Adjaye.
Nascida em Cabo Verde, onde cofundou o grupo de dança Compass e é cofundadora da P.OR.K, estrutura de produção sediada em Lisboa, Marlene Monteiro Freitas já tinha sido notada pelo júri de Veneza pela sua “presença eletrizante e o poder dionisíaco” das suas produções, que a considerou “uma das mais talentosas da sua geração”, interessada na “metamorfose e deformação”, que “trabalha mais com as emoções do que [com] os conceitos, e que apaga as fronteiras do que é esteticamente correto”.
Quando a criadora foi galardoada, em declarações à agência Lusa, sublinhou que, no seu trabalho, procura usar a transgressão para criar metamorfoses, e dá atenção particular à emoção no seu processo criativo.
O seu trabalho, que combina por vezes o drama e a comédia, e tem sido elogiado pela crítica internacional pela expressividade e criatividade, já foi apresentado, além de Portugal, nos Estados Unidos, Canadá, Israel, Espanha, Itália e Coreia do Sul.
Estudou dança na P.A.R.T.S., em Bruxelas, na Bélgica, na Escola Superior de Dança e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Trabalhou com Emmanuelle Huynn, Loïc Touzé, Tânia Carvalho, Boris Charmatz, Clara Andermatt, entre outros coreógrafos portugueses e estrangeiros.
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