Quem o diz é Paulo Pereira, relações públicas da praça de Lisboa, que segue a festa brava há mais de duas décadas, primeiro enquanto jornalista e desde 2006 como funcionário do espaço.
“Em matéria política, política dura, é uma casa que também já viu muita coisa. Em 1936, o comício fundacional da Legião Portuguesa ocorreu aqui”, contou à agência Lusa, numa entrevista que decorreu na arena da praça.
Após o 25 de abril de 1974, “o Campo Pequeno era o barómetro para a implantação dos partidos políticos na sociedade portuguesa”.
“O primeiro ponto era o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, e o segundo era o Campo Pequeno. Conforme corressem as coisas no Campo Pequeno, o passo seguinte ou seria a Alameda, o teste final, ou seria outro recinto ou ponto da cidade com uma dimensão mais pequena e, como tal mais acolhedora, mais confortável para um partido que não tivesse grande implantação”, adiantou.
Paulo Pereira lembrou que “ficaram célebres comícios do Partido Comunista”.
“Às vezes perguntam-me quantas pessoas poderiam estar num comício desses. Não sei, porque a praça tinha nessa altura uma lotação de 8.200 lugares, mas onde quer que coubesse uma pessoa, entrava mais uma pessoa, quase dava impressão que não cabia uma agulha num palheiro”, afirmou.
Também a arena, que “tradicionalmente não era utilizada”, albergava espetadores nessas ocasiões, situação comprovada por algumas das fotografias que fazem parte do espólio do museu da praça, que tem cerca de mil peças, nas quais se incluem um bilhete assinado pelo pintor espanhol Pablo Picasso, o cartaz da corrida inaugural ou trajes utilizados por grandes nomes da tauromaquia.
Ouvido pela Lusa, o crítico tauromáquico Miguel Alvarenga referiu que “a praça acolheu comícios de todos os partidos que a elegiam para as suas manifestações políticas, sobretudo em tempo eleitoral”.
“Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral, entre outros dirigentes dos partidos da época, viveram momentos de protagonismo nos comícios realizados na praça de touros do Campo Pequeno”, elencou, acrescentando que “Otelo Saraiva de Carvalho (…) chegou um dia a afirmar que ‘os fascistas teriam que ir todos para o Campo Pequeno’, frase que ficou célebre nesses tempos da revolução”.
A “26 de Setembro de 1974 teve lugar no Campo Pequeno uma corrida de touros promovida pela Liga dos Combatentes, na qual o General Spínola foi aclamado pelo público que enchia a praça, enquanto o primeiro-ministro Vasco Gonçalves foi vaiado por todos”, contou o crítico.
O Campo Pequeno sofreu obras de restauro e requalificação entre 2000 e 2006, que tornaram a praça num espaço polivalente, que conta agora com uma lotação de sete mil lugares, uma cobertura parcialmente amovível, zona comercial e de restauração e ainda um parque de estacionamento com 1.250 lugares.
Desde 2015 é possível também ver ou rever a festa brava sem sair de casa através do Campo Pequeno TV, que permite “ver corridas antigas”, “rever algumas corridas recentes e também ver conteúdos próprios”.
“Somos a única praça de touros no mundo que tem esta disponibilidade e é algo que nos orgulha porque queremos estar na frente da inovação e da forma de divulgar a festa e captar novos aficionados”, apontou Paulo Pereira.
Quanto às vozes que se têm levantado contra a tauromaquia, o relações públicas do espaço defendeu que “não têm tido propriamente impacto”.
“Veja-se a representatividade que tem um grupo de 30 ou 40 pessoas, de facto extremamente bem organizadas, com meios áudio muito agressivos… mas ali estão 30 e cá dentro estão quatro ou cinco mil”, salientou.
Atualmente, a praça conta também com uma academia de toureio a pé, frequentada por 18 alunos.
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