Jorge Coelho, 42 anos, assina a imagem gráfica e protagoniza uma exposição retrospetiva do 30.º festival de banda desenhada da Amadora. Nessa exposição, feita com originais do arquivo pessoal e pertencentes a colecionadores, é traçado um plano geral do percurso profissional, feito sobretudo à distância, para o mercado norte-americano.

"Sempre cresci com a BD norte-americana. O meu DNA é americano, não é europeu. Dê por onde der, o meu traço já é um bocado americano. É uma coisa natural", contou em entrevista à agência Lusa, enumerando algumas das referências, como Frank Miller e Sean Murphy.

Jorge Coelho estudou na secundária António Arroio, fez um curso profissional de artes gráficas, trabalhou como ilustrador e paginador, cofundou o atelier coletivo The Lisbon Studio.

Teve os primeiros trabalhos pagos aos 36 anos e hoje subsiste apenas da banda desenhada, por causa das encomendas de editoras norte-americanas, nomeadamente a Marvel, a Boom Studios e a Image.

Foi por elas que desenhou, por exemplo, para os álbuns e séries "John Flood", Rocket Racoon", "Robocop", "Haunted Mansion", "Polarity", sempre num trabalho colaborativo com equipas muito especializadas e compostas por argumentistas, coloristas, balonistas.

Trabalha entre 12 a 14 horas por dia, sobretudo em tinta-da-china e papel. "Fica a escola do fazer à mão, de colaborar, e eu gosto muito de trabalhar em analógico. São resquícios da escola 'fanzinesca'", contou à Lusa.

Atualmente prepara-se para fazer uma novela gráfica, com uma nova editora norte-americana, sobre a qual não pode revelar quase nada por questões contratuais.

"Neste projeto não há super-heróis, não há nada de fantástico, é uma história de época dos anos 1920. Será uma 'graphic novel' em fascículos nos Estados Unidos, mas no resto do mundo será em livro", disse.

Tem planeados pelo menos cinco meses de trabalho nesta novela gráfica e onde investirá, pela primeira vez, na produção de cor. Explica que é mais um passo num caminho vagaroso até conseguir ser um autor completo, que assina todas as fases do processo, do argumento ao desenho.

Por causa do volume de trabalho internacional e pela dimensão do mercado nacional, Jorge Coelho tem desenhado pouco para autores portugueses, mas vai abrindo espaço para colaborações de dimensão mais pequena, em antologias ou coletâneas, como a que sairá em 2020 na publicação Umbra, com argumento de Pedro Moura.

"Estou numa fase em que felizmente parece que mudei. Quando era mais novo era consumidor e agora sou produtor. Tento chegar ao meu estilo. (...) Entrei na vertente de experimentar de tudo um pouco. E fazer algo de autor", admitiu, cauteloso. São "pequeninos passos" até conseguir escrever as próprias histórias.

O 30.º festival AmadoraBD termina no domingo.