Foi com Kalaf Epalanga que mergulhámos no livro "Americanah", de Chimamanda Ngozi Adichie. O músico e escritor esteve à conversa com o SAPO24, e fez notar uma certa "condescendência" do lado da escritora que, na sua ótica, terá "simplificado" a vida dos leitores não negros" na hora de abordar questões raciais.
A história retrata a vida de dois jovens apaixonados que abandonam a Nigéria durante a ditadura militar – Ifemelu e Obinze – e partem rumo aos Estados Unidos e ao Reino Unido, debatendo-se com os contrastes entre a terra que veem com olhos de quem deixou um país de nascença para trás e as memórias desse mesmo país distorcidas pelo tempo.
Foi a trama amorosa que "mais cativou" Kalaf nesta obra. Contudo o artista não deixa de notar a inteligência com a qual Chimamanda "colocou dentro das personagens" o diálogo sobre "as coisas que todos os escritores negros e afrodescendentes passam quando abordam temas que não são mainstream". O escritor falou na primeira pessoa sobre um sentimento de identificação pessoal com a narrativa que, afirma, nos pode elucidar sobre o modo como os intelectuais negros se movimentam por entre a instituições culturais, "como é que se veem" e "como é que jogam nessa dança".
Kalaf afirma que o livro "explica a obsessão que a América vive com a questão racial". E relembra uma personagem que comenta a eleição de Barack Obama, dizendo que "o país [Estados Unidos] não estava preparado para ter um presidente negro". E é este o gancho que faz com que a protagonista expresse que essa visão é tão "estúpida" quanto o facto país estar ou não preparado para ver "o Mickey como presidente" ou "o Cocas dos Marretas".
O cronista já tinha escrito uma reflexão sobre o livro "Americanah" para a Folha de São Paulo. O luso-angolano retratou nas páginas do jornal brasileiro as várias camadas nas quais se desdobra diáspora africana. E talvez seja por isso que uma das frases que sublinhou na obra foi: "A raça não é uma questão de biologia, é uma questão de sociologia".
Kalaf Epalanga nasceu em 1978 em Angola, na cidade de Benguela. Nos anos 90, veio viver para Lisboa. Em Portugal, fez carreira na música e na literatura. Ficou conhecido pelos projetos com os Buraka Som Sistema, grupo que ajudou a formar em 2003. Na escrita, destacou-se com os livros "Estórias de Amor para Meninos de Cor", "O Angolano que Comprou Lisboa (por Metade do Preço)" e "Também os Brancos Sabem Dançar".
É com esta bagagem artística que, no dia 22 de setembro, às 21 horas, Kalaf Epalanga se junta a este clube de leitura para conversar sobre o livro "Americanah", uma conversa feita através de uma videoconferência à qual qualquer um se pode juntar. Basta preencher o formulário, clicando neste link. E há uma boa notícia: quem participar nas sessões habilita-se a ganhar livros. Durante este mês, o clube de leitura conta com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) que vai distribuir 500 livros pelos participantes nos encontros.
No mês anterior às eleições norte-americanas, o objetivo é debater "Livros para entender a América". A semana passada foi tema de debate o livro "A Conspiração Contra a América", de Philip Roth. Desta vez será "Americanah". E nos dias 29 de outubro e 2 de novembro, serão tema de conversa os livros "Correções", de Jonathan Franzen (pode inscrever-se aqui), e "Viagem ao Sonho Americano", de Isabel Lucas, respetivamente (pode inscrever-se aqui). De que é que está à espera para participar?
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