Enquanto a Europa está a tentar resolver as várias questões que surgem nos diversos países quando o tema é refugiados, na Bélgica, uma dupla de artistas pensou numa ideia para ajudar a combater o sentimento de desconfiança que, aos poucos, vai subindo de tom.
"Moving Stories" é o projeto da dupla de artistas Dirk Schellekens e Bart Peleman, que entraram em contacto com 12 migrantes acolhidos no abrigo da Cruz Vermelha, em Antuérpia, e convidaram-nos a escrever cartas aos residentes da cidade. Uma espécie de carta de apresentação, cuja ideia é estimular o contacto entre os dois lados e diminuir o sentimento de desconfiança que possa existir de parte a parte.
"Quisemos convidar as pessoas a entrar em contacto umas com as outras e falar umas com as outras, em vez de umas sobre as outras ", disse o agente dos artistas, Anouk Focquier, citado pelo Metro. "Isso é o que está a faltar em todo este debate", acrescentou.
As cartas explicam por que razão estes migrantes se viram obrigados a abandonar as suas casas e como é que acabaram por chegar à Bélgica. As cartas foram traduzidas das línguas maternas dos migrantes para flamengo e impressas 166 vezes. Um número simbólico que representa a quantidade de nacionalidades que convivem em Antuérpia.
Segundo o site do projeto, as cartas seguiram por correio, no dia 5 de fevereiro, e foram enviadas para moradas aleatórias. Na mesma carta seguiram também postais onde os destinatários são convidados a responder ao migrante. Através do site, onde foram disponibilizadas todas as missivas, também é possível entrar em contacto com os seus autores, neste caso por mail.
Além das dificuldades na viagem para a Europa, as cartas revelam ainda realidades que muitas vezes são desconhecidas: as perseguições da Al Shebab, na Somália, a violência doméstica vivida no norte do Mali ou o recrutamento forçado na Síria.
A escolha deste meio de comunicação não foi inocente. "Quando escrevemos uma carta, nós sentamo-nos e pensamos no que vamos escrever. E nós queríamos desacelerar o processo de formação de opinião porque isso está a acontecer muito rapidamente, neste momento", explicou Anouk Focquier.
Esta iniciativa vem na sequência do trabalho dos artistas, que se tem focado na crise dos refugiados. Prova disso foi a construção de uma escultura insuflável à qual deram o nome de "Inflatable Refugee", e que navegou pelos canais de Veneza, em novembro do ano passado.
A ideia é espalhar esta iniciativa a outras cidades da Europa que tenham recebido grandes fluxos de migrantes nos últimos meses.
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