Maria do Céu Godinho, docente de Proteção das Plantas na ESAS (Instituto Politécnico de Santarém) e da comissão organizadora do encontro que hoje reuniu duas sociedades científicas - a de Ciências Agrárias de Portugal e a de Fitopatologia, e também a organização do Encontro Nacional de Proteção Integrada -, disse à Lusa que atualmente “já é muita a informação e o conhecimento científico que dá conta de que é urgente alterar as práticas” ainda muito associadas ao uso de pesticidas, com impactos na saúde mas também no ambiente.
Com a participação de 270 pessoas, o encontro começou por abordar a questão das alterações climáticas, que têm impactos na agricultura mas que também têm na sua origem, entre uma multiplicidade de outros fatores, as más práticas agrícolas, em particular o uso de fatores de produção de origem sintética.
“Quando usamos muitos pesticidas estamos a usar muitos produtos que obrigaram a uma produção de síntese e que têm a montante um conjunto de energia gasta”, disse a investigadora à Lusa.
Maria do Céu Godinho afirmou que os estudos hoje apresentados apontam para a necessidade de se “mudar o paradigma da abordagem destas problemáticas, que tem de ser cada vez mais ao nível do ecossistema”, através da agroecologia.
“Falta-nos agora passar para a prática, para os terrenos”, declarou, afirmando que a realização do encontro em Santarém visou precisamente conseguir chegar junto dos produtores do Vale do Tejo, do Ribatejo e Oeste, e da zona Sul do país.
O objetivo é “ter cada vez mais produtos de qualidade, mas também cada vez mais garantia de que as águas estão preservadas, que o ambiente é preservado, que as abelhas são preservadas”, disse, salientando que o desaparecimento dos polinizadores é hoje uma realidade.
Céu Godinho afirmou que os estudos científicos apontam para alternativas, biológicas e mecânicas, com recuperação de técnicas usadas por gerações anteriores, mas apuradas, com recurso à agricultura de precisão.
“Não significa que vamos passar todos a fazer agricultura no quintal como faziam os nossos avós, mas recuperar muitas das técnicas que davam bons resultados, que foram abandonadas pela nova panaceia dos pesticidas e que agora se percebe que por si só não são suficientes e que temos que integrar outros meios de luta”, frisou.
Céu Godinho sublinhou que as práticas alternativas não permitem abdicar totalmente do recurso a pesticidas, área que tem sido amplamente legislada a nível comunitário, sendo objetivo dos cientistas levar a que as fitofarmacêuticas “ofereçam produtos eficazes, cada vez mais inofensivos para o ambiente”.
Afirmando que o encontro teve financiamento de algumas destas empresas, a docente apontou o interesse destas também no papel das escolas superiores agrárias na preparação dos utilizadores para o “bom uso” dos pesticidas, reduzindo as quantidades e usando-os apenas nos momentos mais adequados.
Um dos casos hoje abordados foi o do míldio da videira, salientando Céu Godinho que se o agricultor souber “exatamente quando tem que o tratar” irá “diminuir o número de intervenções, o que poupa dinheiro e impacto ecológico”.
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