Exibida no futuro Museu de Cidade, no Parque da Pasteleira, a exposição teve a curadoria da antropóloga Églantina Monteiro, assim como do diretor artístico do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), Nuno Faria, conceção de estruturas por parte do gabinete de arquitetura Skrei e consultoria do produtor de vinho Mateus Nicolau de Almeida.
“É uma exposição que se construiu em duas dimensões que são concomitantes e que aqui se articulam bastante bem. É uma dimensão material – terra, pedra, xisto, água – e uma dimensão imaterial ou espiritual, que se declina a partir do som e da imagem projetada”, começou por explicar Nuno Faria, durante uma visita para a comunicação social.
Segundo o responsável, essas duas dimensões oferecem “sensorialmente, intelectualmente e fisicamente” uma dimensão “muito ampla da força telúrica das características únicas” da paisagem do Douro.
Ao entrar no Antigo Reservatório de Água da Pasteleira, a primeira peça da coleção encontra-se à esquerda: uma impressão fotográfica de um mapa elaborado por Joseph James Forrester, também conhecido por Barão de Forrester, em 1848, que determina o território português do Douro, assim como a parte navegável do rio em Espanha, acompanhada por dois textos que resumem a importância do Douro e o objetivo deste trabalho.
“Esta exposição é uma (e)vocação animista da região, que convoca a voz dos homens, o canto das aves, o som metálico do xisto, o correr das águas e o sopro do vento”, refere o texto elaborado pelos curadores.
Desde amostras de terra, solo, castas da região, até a uma pedra de xisto suspensa em cinco anéis de ferro – com o nome “atómica desejosa” – esta coleção convida também a uma experiência multissensorial através dos sons, cheiros e imagens que apresenta.
“A exposição é profundamente sensorial. Tem múltiplos sentidos, não é linear e essa é a grande virtude de uma exposição, não ter textos. Não tem textos, apenas um guia, mas ela não está construída dessa maneira. É uma deriva na paisagem. Foi isso que quisemos trazer para aqui, a descoberta que nós próprios fizemos dessa paisagem. Não há uma clivagem na relação entre ela e o Homem”, indicou Églantina Monteiro.
A vontade era convocar “os aspetos invisíveis da paisagem” do Douro, como esta se construiu, tendo sido “trabalhada como qualquer paisagem artificial”, por isso ter sido necessária a ajuda não só do Skrei e de um produtor de vinhos, mas também de um fotógrafo e sonoplasta.
“O que fomos percebendo nesta relação é que é, efetivamente, uma paisagem no sentido literal da palavra. Algo que é moldado completamente afeiçoada pelo homem. Uma paisagem humanada. Foi essa dimensão que nos interessou. Não há uma clivagem ou separação, mas a relação de intimidade e desejo, em torno desta paisagem enquanto construção”, sublinhou a também empresária turística.
Em outubro, a exposição foi apresentada em Bordéus, em França, no âmbito de uma iniciativa intitulada “A cidade do Vinho”, um evento anual que oferece a uma região vinícola a possibilidade de se dar a conhecer numa perspetiva cultural e civilizacional.
A exposição vai ser inaugurada esta tarde pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, ficando a partir de hoje aberta ao público até 20 de abril.
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