A 11.ª Rota das Letras, que decorre entre 02 e 04 de dezembro, na Livraria Portuguesa, e entre 09 e 11, no Art Garden, vai voltar a centrar-se nos escritores do território e procurar “assinalar efemérides que sejam importantes para a literatura de Macau, literatura lusófona e literatura universal”, disse à Lusa o diretor do festival, Ricardo Pinto.
Neste sentido, é dado destaque aos centenários do nascimento de José Saramago e de Maria Ondina Braga e aos 500 anos da primeira publicação integral do “Romance dos Três Reinos”, clássico da literatura chinesa.
“Destacava em relação aos autores locais o lançamento da segunda edição do ‘Livro dos Nomes’ de Carlos Morais José, agora com fotografias de Sara Augusto. É uma segunda edição muito enriquecida e um livro que seguramente vai suscitar o interesse de muita gente”, notou o também jornalista.
Lawrence Lei e Cheong Kin Han, continuou Ricardo Pinto, são alguns dos autores de Macau convidados a celebrar a literatura “com temas muito atuais, como a pandemia e a questão da interrupção voluntária da gravidez”, respetivamente.
Também autores de vários países de língua portuguesa – Krishna Monteiro (Brasil), Hélder Macedo (Portugal), entre outros – vão juntar-se numa sessão ‘online’ para falarem do contributo dado ao projeto “Viagem”, uma nova antologia bilingue de contos lusófonos traduzidos para chinês.
Este ano, o Rota das Letras vai ainda refletir sobre a ficção gótica, com os 300 anos do lançamento do “Diário do Ano da Peste” de Daniel Defoe como ponto de partida, e com os académicos da Universidade de Macau Nick Groom e William Hughes “a procurar dar respostas sobre a importância que a literatura gótica tem tido ao longo dos anos para a compreensão do que é a pandemia e dos seus efeitos nas sociedades”.
É no Art Garden, sede da associação Art for All (AFA), que ganha forma o projeto plurianual ‘A Room of One’s Own’ (“Um Quarto Só Seu”), evento baseado na obra homónima de Virginia Woolf e que inclui sessões de debate, seminários, concertos e atuações que vão explorar o tema da condição feminina.
“Finalmente haverá também espaço para celebrar os 100 anos de ‘Ulisses’, de James Joyce e ‘A Terra Devastada’, de T.S. Eliot, dois livros muito marcantes na história do início do modernismo”, realçou o diretor.
Num balanço às 10 edições anteriores do Rota das Letras, Ricardo Pinto sublinhou que o festival se encontra “hoje muito condicionado pela situação da pandemia que se continua a viver em Macau e na China”.
“Diria que estamos ansiosos para regressar a outros tempos em que tínhamos a possibilidade de ter connosco autores da lusofonia, da China, do mundo chinês em geral e de muitos outros países”, disse o responsável.
Macau fechou as fronteiras em março de 2020 e quem chega ao território — com exceção da China continental — é obrigado a cumprir quarentena em hotéis designados pelas autoridades, atualmente fixada em cinco dias.
Ricardo Pinto lamentou que com o formato atual, a habitual criação de antologias de contos, com textos dos autores convidados, e a organização de sessões literárias nas escolas e universidades do território, que eram para os organizadores “o segmento do festival mais relevante”, estejam ausentes do programa.
O Festival Literário de Macau foi fundado em 2012 pelo jornal em língua portuguesa Ponto Final, assumindo-se nos primeiros anos como “o primeiro grande encontro de literatos” da China e dos países lusófonos.
Em 2015, o evento optou por uma maior abertura internacional, contando com a presença de escritores da Irlanda, Austrália, Espanha, País de Gales, Suécia, Filipinas, Estados Unidos da América e Taiwan.
A sétima edição ficou marcada pelo cancelamento por parte da organização dos convites a três autores, por temer que fossem barrados à entrada no território.
A organização justificou a decisão por ter sido “informada oficiosamente” de que “não era oportuna” a presença da sino-britânica Jung Chang, autora de “Cisnes Selvagens-Três filhas da China”, de coreana-norte-americana Suki Kim, que passou seis meses infiltrada na Coreia do Norte, e do norte-americano James Church, escritor de romances policiais.
Na altura, numa resposta à Lusa sobre esta situação, as autoridades de segurança pública de Macau limitaram-se a comentar: “Desconhecemos essa informação”.
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