O seu mais conhecido filme, "Romeu e Julieta" (1968), é uma adaptação de Shakespeare, assim como "Hamlet" (1992, protagonizado por Mel Gibson e Glenn Close) e "A Fera Amansada" (1967, com Elizabeth Taylor e Richard Burton), uma lealdade que lhe valeu em 2004 o título de "Sir" na Inglaterra.

Zeffirelli também dirigiu mais de trinta peças e óperas até 2012. Este gosto pelo teatro e pela ópera pode ser devido a uma infância incomum. O cineasta nasceu em Florença em 12 de fevereiro de 1923, de um caso adúltero entre uma estilista e um comerciante de seda e lã.

Rejeitado por ambas as famílias, herdou o nome inspirado de uma ópera de Mozart. Uma prima do pai assumiu os seus cuidados após a morte da mãe, quando este ainda era criança.

Muito jovem, Franco Zeffirelli conheceu o teatro durante férias de verão e aos nove anos foi seduzido pela ópera ao assistir "Valquíria" de Wagner em Florença.

Aos 13 anos, começou a montar espetáculos na paróquia e foi tendo aulas com Mary O'Neill, secretária particular do seu pai, e passou a apreciar os clássicos da literatura inglesa.

Formado em arquitetura, começou como um decorador de teatro e cinema, para então se tornar ator. O seu encontro com o diretor de cinema Luchino Visconti selou o seu destino: tornou-se seu protegido e depois seu amante. Ao seu lado, trabalhou na realização de "La Terra Trema" (1948), "Bellissima" (1951) e "Senso" (1954).

A sua relação com Visconti era explosiva e terminou de forma uma brutal, que Zeffirelli descreveu como muito dolorosa, mas que lançou definitivamente a sua carreira artística.

Católico, homossexual e senador

"Luchino revelou-me o campo da criação, no palco e na tela. E ele mostrou-me como conceber um projeto e dar-lhe uma estrutura para o ambiente cultural correspondente", revelou.

No final dos anos 50, Zeffirelli começou a sua carreira como diretor de ópera no Scala de Milão e no Metropolitan de Nova Iorque. Dirigiu Maria Callas em "La Traviata" em Dallas em 1959 e "Tosca" em Londres em 1964.

No cinema, adaptou "La Traviata" (1982) e "Otello" (1986) de Verdi.

Realizou a sua primeira longa-metragem, "Camping", em 1958 e o seu maior sucesso 10 anos depois com "Romeu e Julieta", que recebeu quatro nomeações ao Óscar, incluindo o de Melhor Realizador e Melhor Filme.

No palco, como na tela, Franco Zeffirelli presta especial atenção aos figurinos e cenários, o que fez o crítico Henry Chapier dizer que ele era o único "capaz de criar no cinema o equivalente aos frescos da Renascença".

Na década de 1970, este católico convicto dirigiu dois filmes de inspiração religiosa: "São Francisco de Assis", sobre São Francisco de Assis, e a minissérie "Jesus de Nazaré".

As suas convicções religiosas levaram-no a lançar uma campanha contra "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, apresentada em Veneza ao mesmo tempo que o seu "Toscanini" em 1988, antes de voltar atrás.

Zeffirelli também se destacou ao se opor a projetos de reconhecimento dos casais homossexuais e ser um dos poucos artistas italianos a apoiar Silvio Berlusconi quando o bilionário entrou para a política no início dos anos 1990.

Foi senador na lista do magnata dos meios de comunicação de 1994 a 2001.

Depois de vários anos, regressou aos sets com "Jane Eyre - Encontro com o Amor", adaptado do romance de Jane Austen (1996, com Charlotte Gainsbourg), "Chá com Mussolini" (2001), antes de casar as suas paixões pelo cinema e pela ópera em "Callas Forever", onde Fanny Ardant interpretou a cantora icónica.

Perto de completar 100 anos, o diretor italiano reconheceu em março de 2019, em entrevista ao Corriere della Sera, o peso dos anos. "A velhice é um fardo enorme, mas ainda estou à procura de ideias para realizar (...) e isso mantém-me ocupado".

Zeffirelli também confessou ter dois arrependimentos na sua vida como cineasta: "um filme sobre o Inferno de Dante", impossível de produzir por causa do custo dos efeitos especiais, e "um grande fresco sobre a vida e obra dos Médici, sobre a beleza precisamente".