Fechado ao público há nove anos, o Museu do Ipiranga e a sua mais célebre obra de arte sofreram um delicado processo de restauro, que foi concluído nas vésperas do bicentenário da independência do país sul-americano de Portugal, no próximo dia 7 de setembro.
A restauradora responsável por recuperar o quadro, Yara Petrella, contou à Lusa, enquanto o restaura da obra ainda era finalizado, que o trabalho demorou 8 meses, sem contar o tempo dedicado a investigação da documentação sobre outras intervenções já realizadas na obra de arte em épocas anteriores.
“Fiz todo um levantamento documental existente no museu para localizar as intervenções havidas anteriormente desde o começo do século 20 porque a obra já estava aqui, de restaurações feitas por pintores (…) fiz de todo um levantamento documental e também, o que foi bastante importante, fiz fotografias com luz ultravioleta,” explicou a especialista.
“Montei uma proposta de restauro e no decorrer desses exames fomos ampliando as análises científicas (…) foram convidadas uma química e uma física e acabámos por identificar pigmentos, foram feitas imagens com infravermelhos que acabaram por documentar arrependimentos que o pintor teve e imagens subjacentes à camada pictórica visível”, acrescentou.
InUma das áreas que mais sofreu ações de restauro foi o lado esquerdo do céu do quadro que, segundo Yara Petrella, apresentava uma grande mancha amarelada provocada pelo tempo e por intervenções anteriores.
O quadro “Independência ou morte”, que tem 4,15 metros de altura por 7,60 metros de largura, foi finalizado e exposto pela primeira vez em abril de 1888 na Academia de Belas Artes de Florença, em Itália, 66 anos após a independência brasileira ter sido proclamada.
A obra foi encomendada em 1886 pelo conselheiro imperial Joaquim Inácio Ramalho e entregue ao governo do estado de São Paulo em 1988.
No Museu do Ipiranga, o quadro ocupa a parede principal de uma grande sala onde foi restaurado ainda montado porque as suas molduras estavam em boas condições, segundo Yara Petrella.
A educadora do Museu do Ipiranga, Denise Peixoto, explicou que a cena épica de D. Pedro num cavalo branco, com uma espada em riste, cercado de guardas vestidos de uniformes de gala está adequada ao género da pintura histórica, que durante muitos anos traziam imagens de cenas e acontecimentos que não foram presenciados pelos pintores, mas simbolizam ideias que eles queriam transmitir sobre os eventos representados.
“É uma tela encomendada ao Pedro Américo, ele vai elaborar esta tela a partir destes referenciais da pintura histórica e é importante entender os elementos que ele traz à tela, a forma como ele representa o próprio D. Pedro no centro das atenções, em cima de um cavalo”, frisou a educadora.
“Ele [pintor] traz estes elementos para pôr em destaque a monumentalidade do ato de D. Pedro de tornar o Brasil independente de Portugal”, acrescentou.
Por fim, a educadora lembra que o quadro “Independência ou morte” tem uma grande presença no imaginário brasileiro, já que tem sido reproduzido nos livros escolares durante décadas como imagem do reconhecimento do Brasil como um país e não como uma colónia submetida a Portugal.
“Este vento [da independência] foi muito ilustrado por esta imagem [do quadro] então ela ganhou um significado por conta disto, porque nós aprendemos a nossa história a partir das imagens que o museu tem e o quadro é uma delas”, concluiu Yara Petrella.
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